Na Serra, um Museu mantém viva a memória do pioneirismo na Educação em Palmas

A primeira escola erguida nesta região, quando Buritirana era povoado de Porto Nacional, cidade do Norte de Goiás, continua de pé, na ETI Luiz Nunes, completamente reformada na gestão de Amastha

Revitalizada, antiga sede da escola virou museu
Descrição: Revitalizada, antiga sede da escola virou museu Crédito: T1 Notícias

Numa casinha de adobe, coberta com telhas artesanais sobre toras de madeira roliça estão depositados objetos inusitados que contam uma história antiga sobre a primeira escola erguida na mesma região, onde décadas depois surgiria Palmas.

É no alto da Serra do Carmo, no povoado de Buritirana, numa escola rural de Tempo Integral, que a história do professor Luiz Nunes, o primeiro a ensinar debaixo da sombra de árvores na beira do ribeirão, está guardada.

O trabalho de recuperação da casa - cujo telhado antigo havia ido ao chão - arrumando a cumeeira, trocando parte do madeiramento e mantendo as telhas artesanais (moldadas nas pernas) com a ajuda de moradores de casas também antigas na região foi feito pela Secretaria Municipal de Educação.

O resultado é um ambiente aconchegante, fresco, em que parte da casinha, transformada no Museu Luiz Nunes, está rebocada e com nova instalação elétrica, e outra parte permanece como estava: adobe à vista, quadro verde na parede, pote de água no canto.

Entrar no pequeno museu é passear pela história do professor Luiz Nunes, que levantou o barracão para acolher a escola, e teve o reconhecimento por parte de Porto Nacional em 1962. Os diários de classe, as antigas cartas escritas à mão e depois datilografadas, estão alí, devidamente expostas.

Num canto, um painel com as fotos dos primeiros alunos e os diretores que comandaram a escola por longas décadas.

“É preciso resgatar este patrimônio histórico do povo de Palmas. Afinal depois que o Canela ficou debaixo d’água, só nos restou preservar o que há de mais antigo nesta região, aqui”, explica o professor e secretário municipal de Educação, Danilo de Melo.

Uma escola mudando a vida da comunidade

A paixão de Luiz Nunes pela educação, brilha também nos olhos da diretora Suyane de Souza Costa, que percorre o espaço do museu mostrando cada peça e contando como foi conseguida junto à comunidade.

“Esta aqui é da primeira turma da escola, e foi nossa merendeira até o ano passado, quando se aposentou”, conta Suzane, apontando uma das fotos. Existem alunos de Luiz Nunes por todo Brasil. Até no Rio de Janeiro encontraram uma para mandar a foto.

Se a escola, naquela época, serviu para transformar a vida daquelas crianças criadas nos ermos sertões do Norte de Goiás, a missão continua, agora, no ensino que transforma a vida de filhos de lavradores de três assentamentos: PA Entre Rios, Síto Novo e Piabanha .

“ Tivemos uma dificuldade muito grande com os pais, em fazer a escola de tempo integral, por que na verdade estamos tirando os filhos deles da roça, onde ajudam no trabalho braçal. Tivemos que combinar com eles: aulas de segunda a quinta, quatro dias por semana e de sexta a domingo eles estão em casa, onde podem ajudar”, conta o secretário.

Suyane vai mais longe. Conta como a escola tem ajudado a reduzir o trabalho infantil na região. “Aqui a gente observa o aluno. Tinha um que chegava e já deitava na carteira para dormir. Dizia sempre que estava muito cansado. Fomos então fazer uma visita surpresa na sua casa no fim de semana. Eram 11hs e o padrasto com a mãe em casa enquanto o menino de 10 anos trabalhava na roça”, conta a diretora.

A equipe então, rezou a cartilha: ele não poderia trabalhar tanto tempo (das 8hs as 18hs), e nem com o sol a pino. “Avisamos ele que tínhamos recebido uma denúncia de que a criança estava trabalhando demais e que daquele jeito ele não rendia na escola. Depois da visita tudo mudou. Hoje ele nos agradece por este dia, e está estudando melhor”.

Nova realidade com a reforma

A ETI Luiz Nunes foi completamente reformada e permaneceu com a estrutura antiga, transformada em museu, abraçada pelo prédio atual e seus jardins. Num ambiente completamente novo, a escola tem piso e telhados novos, banheiros reformados em alto padrão, salas arejadas e recebeu pastilhas nas paredes do lado de fora também: “facilita a limpeza e conservação”, explica a diretora.

A cozinha ampla recebeu ar condicionado para garantir maior conforto às merendeiras, responsáveis pelas três refeições que as crianças recebem: o lanche às 8hs, o almoço a partir das 11hs e o lanche da tarde. As turmas começam a ser dispensadas às 16hs, quando os oito ônibus escolares começam a partir para deixá-las em casa.

Biblioteca, laboratório de informática, um refeitório amplo, com painéis fotográficos expondo imagens das próprias crianças da escola, ajudam a compor o ambiente mais propício possível ao aprendizado. “ Tenho ouvido eles dizerem que a escola está linda, e como eles gostam daqui”, se orgulha a diretora, que comemora o fato de que a média  dobrou após a conversão da escola em tempo integral.

“ Este ano tivemos uma aluna que ficou em 3º lugar no concurso de redação. Em 2009 levamos a primeira aluna do campo a uma Olimpíada Nacional”, relata Suyane. Se antes as reuniões realizadas com pais conseguia juntar no máximo 40 pessoas, hoje este número chega a 100. Desde 2008 a Escola Luiz Nunes foi transformada em Tempo Integral.

Com a reforma e a melhoria das condições -  a quadra está coberta, com arquibancadas e nova pintura – a meta da equipe é melhorar os índices de aproveitamento: “vamos trabalhar para subir nossa nota. Já estamos focados nisto”, finaliza Suyane.

A vida para os alunos do campo em Palmas continua difícil. Mas com a educação elevada a outros patamares na estrutura física da escola, na autoestima de alunos e professores e principalmente no cuidado com o desenvolvimento integral da criança, está muito melhor.

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