Esse artigo tratará das relações nada republicanas que a maioria dos líderes das denominações evangélicas pentecostais e neopentecostais têm desenvolvido com a política brasileira, com a corrupção nacional endêmica e sua relação com as eleições e leis eleitorais.
Em primeiro lugar o termo “apóstolo” do qual alguns líderes se auto intitulam é uma verdadeira excrecência teológica e histórica. O termo “apóstolo” é restrito para aqueles que estiveram fisicamente lado a lado com Jesus. Os doze apóstolos, escolhidos pessoalmente por Jesus e posteriormente, uma única exceção: o Apóstolo Paulo. Nos últimos 21 séculos de história da igreja cristã, poucas lideranças religiosas se deram a tamanho atrevimento, como os novéis “apóstolos” que tem surgido.
Quanto ao termo “bispo”, faz parte única e exclusivamente da tradição católica, que foi a responsável por trazer a mensagem cristã até a primeira divisão ocorrida entre a igreja do ocidente e a do oriente no século XI. Posteriormente ocorreu uma nova divisão no século XVI, mais conhecida por todos nós ocidentais como a Reforma, liderada pelo monge agostiniano Martinho Lutero. Em nosso contexto Latino Americano os bispos são sempre católicos. Ocorre que muitos líderes de denominações pentecostais e neopentecostais, para tristeza histórica, tem se autointitulado de bispos. Coisa de rico emergente. Coisa de quem num passado não muito distante não representava nada nas estatísticas e agora com o aumento percentual dos evangélicos, começaram a se auto intitularem de bispos, numa tentativa de hierarquizar a igreja ainda mais e darem-se a importância que efetivamente não tem, mas que talvez o título conceda alguma imponência humana.
Os pastores, por sua vez, a única profissão elogiada no Velho e Novo Testamento, quando o apóstolo Paulo relembra as palavras do profeta Isaías que afirmava: “quão formosos são os pés daqueles que anunciam as boas novas”. Parece-me que a conduta desses homens não tem se amoldado com muita coerência ao que se espera deles, a luz dos ensinamentos de Jesus no sermão da montanha.
Bem, e o que isso tem a ver com o processo politico eleitoral que estamos vivendo? Tem tudo a ver, pois todo o esforço da legislação eleitoral moderna e do Poder Judiciário, tem objetivado combater veementemente a compra de votos, visando impedir que o voto seja viciado pela força do poder econômico. Busca-se, com todas as forças, promover eleições limpas, onde o eleitor escolha livremente em quem votar, por motivos racionais, objetivos e ligados a competência, a honestidade e a prestação de serviços desses candidatos à sociedade.
Agora, surgiu uma nova modalidade de compra de votos. A de comprar as lideranças pentecostais e neopentecostais, com todo tipo de benefícios e principalmente com beneficio financeiro. Muitos decidem apoiar fulano ou beltrano após pagamento de quantias exorbitantes ou promessas de vantagens pessoais e institucionais.
Esses líderes, que no passado criticavam a autoridade papal como um dos pecados capitais do catolicismo, agora se postam como verdadeiros papas de suas igrejas e usam o púlpito das mesmas para abençoar os seus escolhidos, não importando o critério utilizado para essa escolha, e na maioria das vezes indicando-os como se fosse a vontade do próprio Deus, sendo eles tão somente os portadores dessa notícia, a de que Deus quer que vote no fulano de tal.
Isso é de um absurdo e de uma desonestidade sem precedente. Não há lei eleitoral ou justiça eleitoral que dê conta de uma situação dessas. O voto chega viciado nas urnas, pela falsa vontade divina inculcada nos fiéis. Essa situação tem se repetido em todos os lugares, inclusive no cenário nacional. Pessoas encasteladas em suas denominações viciando o processo eleitoral.
De outro lado os candidatos premidos por essa situação participam ativamente desse engodo nacional, onde politico promessa a fé que efetivamente não têm e nunca teve. De outro lado, as igrejas são vendidas a quem esteja disposto a pagar mais, não importando seu credo confessional ou mesmo sua conduta pessoal.
Tudo isso a peso de ouro. Se alguém tiver alguma dúvida sobre esse fato é só perguntar para os candidatos e coordenadores de campanhas político partidárias. Pergunte quanto custou o apoio do fulano ou do beltrano.
É a desonestidade campeando solta. O resultado de tudo isso é a formação de governos fracos e corruptos. É a fé a serviço da desonestidade e da corrupção, e de consequência contribuindo para o patrocínio da incompetência administrativa e do comprometimento do futuro das gerações, num círculo vicioso e sem fim.
É isso.
Marcelo Cordeiro é advogado, pós-graduado em administração pública, mestrando em Direito Constitucional pelo IDP, ex-juiz do TRE/TO. Escreve todas as segundas na coluna Falando de Direito.
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