Pastor Dorivan, o Estado Brasileiro e a Dignidade da Pessoa Humana

Dorivan Soares Machado, 54 anos, é pastor da Igreja Assembleia de Deus. Mora em Palmas, Taquaralto. Tem um filhinho de 6 meses, do segundo casamento, e está com câncer ósseo em fase de metástase (adenocarcinoma metastático), descoberto há 3 meses. Ele já parou de andar há uns quinze dias. Usa um colete de material plástico para conseguir ser transportado. Toma morfina todos os dias, de 4 em 4 horas, para suportar a dor e está praticamente em estado de abandono.

 

Sem recursos para custear um tratamento de câncer grave, depende do Sistema Único de Saúde. Esse tratamento até agora não teve início. Consultas marcadas com muita distância uma da outra. Exames que não vem com a rapidez necessária para salvar sua vida. Diagnósticos demorados e por aí vai.

 

Na última quinta-feira precisou de uma ambulância para levá-lo a uma consulta no HGP. O SAMU se recusou, disse que não era missão sua. O corpo de bombeiros também não. Fui com ele. Com o banco reclinado do carro e sentido toda sorte de dor e desconforto ele foi transportado para o HGP.

 

Como ele já não caminha, precisou de uma maca para transferi-lo do carro até a sala de consulta. Não havia maca disponível no HGP. A sorte lhe sorriu, uma pessoa da diretoria do HGP estava na porta do ambulatório e lhe providenciou uma maca de alumínio frio, sem colchão. Outra não havia. Com a ajuda da esposa dele conseguimos colocá-lo na maca e transportá-lo até a porta do consultório, onde ele ficou aguardando para ser atendido.

 

Todo esse procedimento foi acompanhado de forma impassível por cinco ou seis técnicos de enfermagem, que estavam em pé bem próximos à entrada do ambulatório. Todos de jaleco branco e pasmem, fumando, com os pés encostados na parede, observando indolentes o sofrimento alheio, rindo,  contando estórias engraçadas, observando a cena e fazendo comentários.

 

O HGP parece mais uma zona de guerra, só visto em filmes americanos. O simples fato de estacionar já é um combate. Uma desorganização completa. Quando entrei no ambulatório, tive a impressão de que estava numa cidade arrasada por um tsunami. Muita gente desorientada, sem saber o que fazer e nem pra onde ir. Todos carregando suas dores e o abandono completo do Estado.

 

A Constituição Federal estabelece no art. 1º que um dos pilares que deve sustentar a República Federativa do Brasil é a “dignidade da pessoa humana”. O HGP, apesar dos esforços hercúleos dos médicos e servidores que lá trabalham, está entregue a sua própria sorte. Falta tudo. E principalmente, falta “dignidade humana”.

 

Tudo isso ocorre debaixo do olhar desatento do Poder Executivo e Legislativo. Ou seja, do Governador, responsável pela administração do Estado e dos Deputados Estaduais, responsáveis pela fiscalização da aplicação dos recursos públicos. O primeiro não administra. Os segundos não fiscalizam. Ninguém liga. Enquanto isso o pastor Dorivan está morrendo sem tratamento. Ele e todas as pessoas que precisam de assistência hospitalar pública.

 

Paralelamente a esses fatos trágicos, prefeitos, governadores e presidente da república estão preocupados com suas obras inúteis. Estão preocupados em construir relógio que não serve para nada. Em edificar monumentos na ilusão se eternizarem. Em realizarem jogos, como a copa da FIFA, enquanto as pessoas estão morrendo sem saúde, sem educação, sem segurança pública e sem dignidade alguma.

 

Então? O que fazer? A resposta está na mudança dos governantes. Nós eleitores podemos muito. No dia 05 de outubro próximo teremos a chance de escolhermos a pessoa que vai administrar o Estado e de escolher aqueles que vão fiscalizar essa administração. Precisamos escolher administrador público que administra e parlamentares que fiscalizem efetivamente a administração pública e a aplicação dos recursos públicos.

 

Ninguém deve se abster. Precisamos nos libertar da cultura de não nos importarmos com nada. Precisamos dar importância ao sofrimento do nosso próximo. O eleitor precisa valorizar o bom político e parar de votar naqueles que tem demonstrado com suas ações que não valem nada.

 

O pastor Dorivan (63-8107.8144) e todos aqueles que se encontram na mesma situação, vão agradecer muito se nós eleitores votarmos bem e não nos abstermos.

 

É isso.

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