Rios da pobreza

A Constituição Federal estabelece no art. 3º, inciso III, que um dos objetivos do Estado é a erradicação da pobreza e da marginalização e a redução das desigualdades sociais e regionais.

 

Semana passada terminou, pelo menos do ponto de vista oficial, a temporada de praias dos rios Araguaia e Tocantins. São rios belíssimos e de uma riqueza natural sem precedentes.

 

Contudo, o que se vê ao longo desses rios, é a mais absoluta pobreza e miséria, tanto do ponto de vista financeiro quanto intelectual e cultural. Muita riqueza jogada fora. Muito potencial humano e turístico não utilizado. As margens desses rios, de riqueza incalculável, são margeadas pela pobreza humana e pela mais alta irresponsabilidade estatal.

 

Quem esteve nas praias nessa e em outras temporadas verifica que pouca coisa mudou, sendo que em muitos casos, até piorou. Estradas imprestáveis para acesso as praias. Sinalização inexistente. O turista que não conhece a região fica perdido em inúmeros trevos sem sinalização e passagem por várias cidades, igualmente sem sinalização. Estradas esburacas, cheias que ondulações sem aviso, literalmente para quebrar as molas e os veículos das pessoas.

 

Depois de uma longa jornada, com pneus arrebentados, rodas amassadas, para-brisas trincados ou quebrados (realidade para quem foi à Araguacema, por exemplo) chega-se a praia.

 

Nas cidades que tem o privilégio de ter essas praias o que se verifica é um povo hospitaleiro, cheio de alegria e lutando com as armas da boa vontade e completamente desamparados pela máquina estatal.

 

Cozinhas que não resistiriam a uma inspeção sanitária. Banheiros imundos. Praias sujas pela falta de lixeiras adequadas. Pessoas servindo os turistas sem o menor traquejo para o ofício. Hotéis e pensões sem a menor condição para receber os turistas e produzir riqueza para os moradores dessas cidades.

 

E o que dizer dos eternos transportes por canoas voadeiras? Péssimo. Na praia de Araguacema, por exemplo, fizeram um único píer de cada lado da praia. Filas homéricas para ir e vir e a incompetência campeando solta, maltratando o turista que estava ali para se divertir e gastar o seu dinheiro na cidade. A engenharia, há mais de cem anos, já tem inúmeras alternativas para esse problema. Poderíamos ter, por exemplo, teleféricos e passarelas móveis, instaladas em quase todas as praias no Estado, facilitando assim o acesso do turista.

 

Em todas as praias, som em altíssima voltagem independente do horário do dia e de muito mau gosto por sinal. Não há qualquer preocupação de que o turista que está na praia as 10hs da manha, com criança e pessoas idosas é diferente do turista que está na praia a noite para assistir um show. E o que dizer do horário de início dos shows? marcados para as 22hs e com início em alta madrugada, deixando as pessoas horas e horas esperando o show começar.

 

O que se observa é que praticamente nada foi feito para dar condições às pessoas das cidades para receber os turistas e assim produzir riqueza para as próprias cidades. Nenhum recurso para a parte de hotelaria, restaurantes, formação profissional e muito menos para dinamizar o turismo de negócios, escolar e científico nessas regiões.

 

Nos rios Araguaia e Tocantins, caso houvesse investimento estatal, poderia ser promovido o seu aproveitamento o ano inteiro e não em apenas trinta dias no mês de julho como acontece atualmente. E mesmo assim, muito mal aproveitado.

 

Pois é, o Tocantins é um Estado de muitas riquezas não exploradas. Enquanto isso as pessoas continuam na miséria e na pobreza e o art. 3º, inciso III, da Constituição Federal, como se não existisse.

 

É isso.

 

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