À espera de justiça, 11 anos depois: quem é e como vive Leekênia, a professora que ficou paraplégica com a queda do elevador

Esta semana o Tribunal de Justiça negou provimento a um recurso da empresa Elevadores do Brasil, que buscava se isentar de responsabilidade sobre o acidente que colocou uma professora aos 27 anos, Leekênia Oliveira, numa cadeira de rodas. Em entrevis...

No dia 16 de outubro de 2000 a professora Leekênia Oliveira, de 38 anos, resolveu almoçar no Free Shopping com uma amiga. Ela jamais imaginou que esse almoço iria marcar a sua vida pra sempre. Foi nesse dia, dentro de um elevador com mais sete pessoas, que a vida de Leekênia mudou radicalmente. Os cabos que sustentavam o elevador do shopping arrebentaram e o equipamento despencou do terceiro andar do prédio, ferindo essas oito pessoas.. Leekênia perdeu para sempre o movimento das pernas, ficando paraplégica.

Uma segunda família também foi fortemente atingida por esse acontecimento. A família de Nestor Collet um dos outros sete que estavam no elevador. Nestor teve a perna amputada por causa do acidente e pouco tempo depois acabou falecendo.

Quase 11 anos se passaram desde o fatídico acidente que marcou a história de Palmas e principalmente de Leekênia e de sua família que desde então lutam para sobreviver e batalham incansavelmente em busca de justiça.

Leekênia mora numa casa de menos de 60 metros quadrados e divide o único quarto do imóvel com o marido e os dois filhos. A residência, cedida pela sogra de Leekênia, foi adaptada na medida do possível, mas ainda não possui a acessibilidade necessária para que ela possa transitar sem problemas com a cadeira de rodas.

Em entrevista ao Site Roberta Tum, Leekênia contou sobre como foram os últimos anos em busca de tratamento para a sua paraplegia e a batalha na Justiça para responsabilizar a empresa que cuidava da manutenção do elevador do Free Shopping.

A professora se emocionou várias vezes durante a entrevista ao relembrar momentos dolorosos que viveu e que vive até hoje. Mas é importante ressaltar aqui que, apesar das lágrimas, Leekênia é uma mulher muito sorridente, bem humorada e batalhadora que, apesar das dificuldades, não se deixa abater.

Uma "anestesia" que nunca passou

Leekênia contou que, logo após o acidente, assim que perceberam a gravidade do que havia acontecido, ela foi transferida para Goiânia (GO) para que pudesse ser feita a cirurgia na coluna. Ela teve a quinta vértebra da coluna lesionada e em seguida deveria iniciar a reabilitação na tentativa de recuperar os movimentos das pernas. Mas durante todo esse processo Leekênia tentava digerir a notícia sobre a possível paraplegia.

“A ficha não caiu de imediato. Eu achei que era uma situação passageira, uma coisa provisória. Era como se eu tivesse tomado uma anestesia e que o efeito iria passar no outro dia e acabar. Mas o problema é que essa anestesia não passou. E na época os médicos falaram que havia alguma chance de voltar a movimentar, mas poderia ser em dois, dez, vinte anos. Não tinha nada previsto, uma situação difícil de saber o resultado. Só depois de dois anos, que é o prazo que os médicos dão para esperar alguma reação, é que identificaram que a paraplegia era mais grave do que pensavam”, contou Leekênia.

"Aceitação eu nunca vou ter..."

Leekênia explicou que não é fácil aceitar essa sua condição. “Eu não gosto de usar cadeira de rodas, não gosto de ver outra pessoa na cadeira de rodas. Aceitação eu não tenho e não vou ter nunca porque o estrago foi grande”, disse.

Uma das maiores dificuldades enfrentadas por Leekênia, além da nova jornada como paraplégica, era ver a sua família tendo que se adaptar às suas limitações. “Eu tive muito apoio da minha família, do meu esposo, uma presença muito forte dos meus filhos e isso me deu muita força. Mas quer queira, quer não, eu acabei atrapalhando um pouco. Digo isso em relação à vida do meu esposo e dos meus filhos. Acho que atrapalhei como mulher e como mãe, pois há eventos relacionados aos meus filhos que eu não posso participar porque não tem adaptação. Antes eu podia levá-los para passear, para brincar. Hoje não posso mais. Mas os meus filhos são maravilhosos. São muito companheiros, participativos e nunca me deixam sozinha”, explica.

Leekênia continua trabalhando. Ela é concursada do quadro da Educação do Estado como professora e atualmente trabalha como assessora de planejamento e avaliação na Delegacia Regional de Ensino de Porto Nacional.

O marido de Leekênia, Antônio Oliveira, teve que abrir mão da sua empresa de técnica em informática para se dedicar exclusivamente à esposa. Diariamente ele a leva e busca ao trabalho na delegacia de ensino e também à fisioterapia, que é feita duas vezes por semana em Taquaralto, local onde houve melhor adaptação de Leekênia para o tratamento.

Toda a família sobrevive do salário de Leekênia. Além dos gastos normais que toda residência tem como água, energia e alimentação, há as despesas com o tratamento de Leekênia como fisioterapia, deslocamento, materiais de higienização e medicamentos. Só esses dois últimos gastos são em torno de R$3 mil.

Além disso, a família não tem condições de manter uma empregada doméstica para as atividades do lar, então as tarefas são divididas entre eles. “Sempre tem divisão de tarefas e cada um faz sua parte”, contou.

Assistência por força de determinação judicial

Leekênia contou que a assistência por parte dos donos do Free Shopping e da empresa responsável pelo elevador, a Elite Elevadores, desde o início só foi conseguida através de determinação judicial.

“Eles queriam que fizéssemos todo o tratamento pelo SUS (Sistema Único de Saúde). Mas nós batalhamos até conseguirmos tudo que era necessário. Não foi fácil. A gente tratava tudo diretamente com os donos, mas na hora de arcar com as despesas, eles não queriam pagar. Teve uma vez que o meu marido teve que dar um cheque calção para poder dar entrada no hospital particular para fazer o tratamento. Eles só começaram a colaborar realmente depois de uma ação na justiça. Se não fosse pela justiça, eles não teriam colaborado”, lembra.

"Nós só queremos um pouco do que foi arrancado da minha família"

Na última semana Leekênia venceu uma etapa na Justiça contra a empresa Elevadores do Brasil LTDA, empresa que comprou os contratos de prestação de serviços da Elite, que era responsável pelo elevador do Free Shopping. A justiça negou o agravo de instrumento da empresa Elevadores do Brasil, que tenta se isentar da responsabilidade sobre o acidente, e decidiu a favor de Leekênia.

No julgamento, ficou decidido que o mérito referente à indenização deve ser julgado pelo juiz Gerson Fernandes Azevedo, da Comarca de Porto Nacional, pois ele havia julgado liminarmente a ação em primeira instância. Agora Leekênia espera que o fim dessa etapa traga novas esperanças de tratamento.

“A gente sabe que a nossa Justiça é um pouco morosa, mas nós esperamos alcançar o que desejamos. Na verdade o que a gente quer não é em função de dinheiro. Nós só queremos um pouco do conforto que foi arrancado da minha família por causa de tudo que é relacionado ao acidente e correr atrás de tratamentos e alternativas que possibilitem ao menos uma melhora parcial. Eu quero, pelo menos, ter a oportunidade de tentar buscar isso”, resumiu.

Onze anos depois de ter sua vida completamente transformada e convivendo com as limitações impostas pela deficiência, Leekênia e sua família ainda esperam por justiça.

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