Chegou ao fim ontem, em 73 dias, a passagem do deputado Freire Jr. - do PSDB, partido do governador – pela liderança do governo na Assembléia Legislativa. O anúncio oficial chegou via nota da Secom próximo das 11 hs da noite. Mais cedo, em torno das 16h30, o presidente em exercício, deputado Eli Borges(PMDB) anunciava na tribuna de imprensa que convocaria pela primeira vez na Casa, uma extraordinária sem pagamento de remuneração.
Perguntado o por quê, Eli disse que cabia ao presidente fazer a convocação, e que ele o faria sem pagamento. Na verdade o acordo foi selado, com algumas vozes ainda resistentes, numa reunião após a primeira sessão ordinária do dia. A ausência de Freire Jr. foi aproveitada.
Na verdade, deputados dos dois blocos, oposição e situação já vinham incomodados há dias pela postura assumida por Freire Jr. lá atrás, quando – quebrando o corporativismo em torno da realização de extras, muitas vezes sem necessidade que as justificasse – se recusou a participar de uma e a receber a outra, quando levantou a lebre.
Ressentidos, deputados acham que Freire quis holofotes
O ressentimento dos demais pares, me explicou um deles, em off, pedindo a preservação do nome, é que o assunto estava em discussão nos bastidores. “A gente estava discutindo o assunto há mais de 30 dias. Aqui as coisas não acontecem num salto, tem que discutir, tem que convencer, são 24 deputados”, me explicou ele. “O que o Freire Jr. fez foi expor os colegas. Foi uma cachorrada. A gente tem que parar com essa autofagia”.
Nos bastidores a versão que prevalece é esta: de que o deputado tucano teria pego o bonde andando, e se antecipou para ficar bem na opinião pública.
O fato é que depois disto, Freire Jr. perdeu completamente a condição de interlocutor dentro da própria bancada de governo para orientar, sugerir, e comandar o voto. Os dois mais duros companheiros que o confrontaram: José Bonifácio(PR) e Osires Damaso(DEM) assumiram respectivamente liderança e vice-liderança do governo.
Além dos dois, outros já vinham criticando Freire Jr. pela postura “ligth” adotada nos discursos. Numa das reuniões, a deputada Luana Ribeiro teria chamado sua atenção: “eu não vi deputado, o senhor abrir a boca hoje para defender o governo”. Menos sanguíneo, Freire Jr. vinha evitando entrar no ‘bate-boca” do plenário, deixando muitas provocações sem resposta. Ou por conta de outros responderem.
Fora do bate-boca rasteiro, um verdadeiro "Lord inglês"
Sobre isto, numa conversa com Eduardo Siqueira, teria dito. “Senador, eu não vou entrar num debate deste nível”, e desde este episódio teria deixado claro para o governo, que ficasse à vontade em substituí-lo.
A nota da Secom diz que Freire Jr, agora vai liderar o PSDB e integrar o diretório regional do partido. São dois deputados tucanos na Casa: ele e Raimundo Moreira, presidente. Ao dizer ontem à noite ao Site Roberta Tum, que já tinha deixado o governador à vontade sobre o assunto, o deputado brincou: “agora assumo a liderança de mim mesmo”.
É verdade. Com seu estilo, segundo seus críticos, de um “Lord inglês”, Freire Jr. pode ter desagradado a muitos. Quem o conhece sabe que na oposição, faria um estrago. A partir de terça-feira, quando volta de Brasília, Freire Jr. retoma suas atividades no parlamento tocantinense com uma perda e um ganho.
A perda todos assistiram ontem. O ganho também. Oportunismo ou não, foi ele quem publicamente chamou a atenção sobre o exagero das extras, que motivou reação da opinião pública e da OAB, que prometeu agir no assunto. Não vai ser necessário: os deputados entenderam que era preciso recuar antes e acabar com a prática. É um avanço. Como disse ontem Luiz Armando: “fez-se a luz”.
Aos trancos e barrancos, a Assembléia vai achando um jeito de se aproximar do cidadão. É a boa notícia que esperávamos há muito tempo poder dar.
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