Dia das Mães: data comercial, ou tempo de repensar relações pessoais e políticas públicas?

Tem data que parece ter entrado no calendário só para dar um motivo a mais para o comércio faturar. É o que normalmente se pensa de dia dos Pais, das Mães, dos Namorados. Afinal, Dia das Mães tinha que ser todos os dias, não? Nesta véspera de domingo...

Parece até banal abrir um texto para falar do Dia das Mães. Mas não é. Mãe é tudo na vida, quando a gente tem menos de 7. Depois nosso tempo começa a ser dividido com professores, amigos, familiares mais distantes e os que têm este luxo, com babás e empregadas.

Com o passar do tempo e a entrada na adolescência, as mães e suas exigências se tornam, não raro, motivo de constrangimento. Como nós somos bossais nesta idade... Imaginamos que o nosso mundo prescindiria da presença e das exigências delas.

O tempo passa e de filhos vamos gradativamente passando a ser pais, mães, tios, tias e um dia...avós. Que surpresa não? Os valores se invertem, a correria toma conta da vida da gente e os adultos de hoje começam a se distanciar no tempo, às vezes no conhecimento e muitas vezes no poder aquisitivo, dos seus velhos pais... e mães.

É por estas e outras que Dia das Mães foi virando uma data no calendário em que o comércio te diz: compre presentes, sua mãe merece presentes. E muitos vão lá no automático e compram. Reservam metade do domingo para elas(afinal domingo é dia de descanso. “Meu dia”, dizem alguns) e acham que está de bom tamanho.

Já disse por aqui uma vez que a cultura ocidental não valoriza os mais velhos. Com as mães não é diferente. Como é bonito e reconfortante ver a forma como a mãe, a matriarca é tratada em culturas milenares. Um poço de sabedoria. Aquela que deu a vida, deu colo, deu conselhos eum pouco de tudo. E muitas vezes ficou para trás na vida bem sucedida de seus filhos.

As mães que a sociedade precisa cuidar

O padrão de relação entre mães e filhos, no geral, varia de acordo com a posição social, a condição financeira e a formação religiosa. Mas não vamos por aí, discutir os relacionamentos. As observações críticas aqui servem só como “um toque” de leve para que cada um possa pensar.

Num dia como estes, em que as mensagens estão por toda parte, desejando feliz dia das mães, agentes públicos, instituições, empresas, políticos... todos aproveitam para dar o seu recado. E aí fica a pergunta: se a família está na base da sociedade e todo mundo precisou de uma mãe para ter nascido, será que estamos cuidando bem das mães – especialmente as de baixa renda - para que elas possam criar cidadãos equilibrados?

A reflexão que proponho para este dia, é esta. Mães pobres têm garantido o direito a fazer um pré-natal mínimo no nosso sistema de saúde? Têm acesso à alimentação básica para gerar filhos saudáveis? Se são doentes, ou viciadas, têm alguma alternativa de tratamento ou acompanhamento? E depois que o bebê nasce, o Estado (em suas três instâncias) assume alguma responsabilidade, tem alguma atenção social continuada com elas?

Dia de abrir um tempo para elas

Para muitos este domingo será dia de sentar-se a mesa e dar atenção, pelo menos neste dia do mês, às mães que vivem, mesmo que relegadas a um segundo plano de atenção e importância na vida de seus filhos. Para outros que perderam suas mães, será dia de apenas recordar. Em muitos casos lamentar: a falta de atenção dada a ela nos últimos dias, a falta de paciência (sim, por que os velhos vão voltando a ser crianças e requerem cuidados), ou a falta de tempo suficiente para aproveitar suas últimas lições.

Para muitas famílias - tradicionais ou não, completas ou incompletas - será outro dia de dificuldade, de fome, de falta de perspectiva de vida. E isto é assim por que vivemos numa sociedade desigual demais, omissa ao extremo, e cheia dos seus mecanismos que incentivam muito mais o ter do que o ser.

Talvez por isto estas estatísticas crescentes de todos os males sociais, fruto do nosso tempo. Doenças, distúrbios, vícios e crimes alimentados numa roda viva que pode ser quebrada. Desde que se comece do começo. Quem sabe cuidando das mães.

A todas elas, por terem aceito o desafio e o sacrifício pessoal de gerar outra vida, parabéns! Que Deus seja sempre presença para suprir qualquer outra ausência na vida de vocês!

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