O desgaste da discussão pública sobre cargos federais: no fim, quem é que vai ganhar alguma coisa com isso?

Posso até estar enganada mas esta discussão para indicar cargos federais está se saindo um tiro no pé de muita gente. A coisa toda começou a soar mal para o público que acompanha o noticiário político já fazem alguns dias. Não por que as indicações e...

Conversando com alguns parlamentares tocantinenses da base de sustentação da presidenta Dilma Roussef, desde que o Site Roberta Tum começou a tratar do assunto “divisão de cargos federais no Tocantins”, ainda em março, logo após a primeira reunião da bancada, percebi um certo receio entre eles em dizer quem ia indicar o quê.

Achei natural. Primeiro por que a indicação poderia, no final das contas, não ser acatada e a nomeação não sair. Segundo por que ainda havia muita água para rolar “por baixo da ponte”, na conversa entre os parlamentares, faltando ajustes.

O que se viu de lá para cá foi um acirramento na disputa de fatias de poder, representada pelas indicações destes cargos. Indicar alguém num cargo federal em que a chefia só pode ser ocupada por servidor de carreira – a maioria – não é lá essas coisas todas. Primeiro, por que tem que escolher no quadro. Segundo, por que já existem dentro do órgão, os que estão habilitados para o cargo.

Órgãos federais não se prestam a favores políticos

Em outros casos, o chefe não interfere em nada de significativo que vá levar vantagem a quem o indicou. Especialmente nos casos que envolvem fiscalização. Servidores federais têm prerrogativas que não podem ser alteradas, burladas, a serviço de se atender uma demanda ou necessidade de “companheiros”. Sendo assim, a possibilidade de indicar é mais uma questão de prestigiar alguém, do que propriamente auferir algum ganho político com isto.

A pendenga pelos cargos ganhou notoriedade depois que o PT, convidado a sentar-se à mesa mesmo sem ter elegido um deputado, polemizou a indicação para o representante local do MDA. Mas não se trata só disto.

Vejam o caso do deputado César Hallum. Eleito pelo PPS, que apoiou José Serra nacionalmente, César estava no palanque de Gaguim, que apoiou Dilma. O PT ganhou a presidência e o PSDB ganhou o governo do Estado. Já no final do ano, o deputado demonstrou a tendência de votar com a bancada da presidente, mas não poderia, sob pena de caracterizar infidelidade partidária ( e já vinha de um processo destes que quase lhe custou o final do mandato anterior).

Nos bastidores, ninguém quer dividir os seus com Hallum

A porta de saída de Hallum para se aproximar da base de Dilma foi justamente o PSD. Mesmo sabedores disto, alguns deputados bateram o pé contra a participação dele no rateio de cargos. Já com a desfiliação anunciada, com a assinatura na ata de fundação do PSD, e com todas declarações públicas de que passa a apoiar a presidenta, César Hallum foi ontem ao ministro das relações institucionais.

A conversa se resumiu a dois argumentos: querem o voto e o apoio dele? Se sim, o tratamento precisa ser igualitário. A lógica está correta. Mas ainda assim, nos bastidores, há quem lhe arraste o tapete, justamente por que dividiram os cargos, anunciaram quem ficou com o quê, e qualquer redistribuição agora é estrago político.

Não que ao anunciar uma escolha, ela já não tenha gerado algum desgaste entre os que esperavam pela mesma oportunidade (como diria Omar Henneman).

Prejuízo demais por coisa pouca

O que parece, neste último dia de uma semana em que o rateio dos cargos esteve na pauta política, é que o prejuízo é maior do que o lucro das quatro indicações para cada parlamentar. E olha que do jeito que isso vai, a coisa promete render mais. Avaliando bem, me parece muito chumbo trocado por coisa de pouca valia. A política do governo federal é uma só. O funcionamento dos órgãos não muda por isso.

O mais que um ou outro destes cargos vão dar, é salvaguarda para alguns que se expuseram demais no governo passado, e ainda vão ter que se explicar por atos irregulares na justiça.

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