A lucidez que um novo tempo nos exigirá

Diante dos impasses contemporâneos que vivemos, peguei brevemente emprestado a história deste grande escritor para que nos ajude a pensar: qual será o nosso comportamento nas próximas eleições?

Há um livro de José Saramago que tem o seguinte título: “Ensaio sobre a lucidez”. Um romance que conta a história de alguns personagens de uma pequena cidade de Lisboa, que no dia de uma eleição importante, a maioria dos eleitores vota em branco.  Esse é o início do grande dilema do livro: autoridades eleitorais completamente desconcertadas com a manifestação contida neste ato. O voto em branco simbolizava no texto do autor português a indignação e a descrença de um povo sobre o sistema político vigente.

 

Diante dos impasses contemporâneos que vivemos, peguei brevemente emprestado a história deste grande escritor para que nos ajude a pensar: qual será o nosso comportamento nas próximas eleições? (sejam elas diretas ou indiretas). Não que eu esteja sugerindo que abdiquemos do voto, o que faço aqui é buscar a reflexão junto aos que gentilmente dedicam um pouco do seu tempo para ler minhas palavras.

 

É evidente que mesmo observando uma grande parte dos nossos representantes nadando em um lamaçal, os próximos tempos exigirão novos eleitores (as), cidadãos (ãs). É neste momento que temos o grande instrumento de protesto nas mãos, mas sabemos o quanto as campanhas eleitorais caríssimas nos induzem e mascaram a carreira política de vários que estão ali. Populistas, demagogos... Várias formas de se fazer campanha que não priorizam um discurso comprometido com a realidade.

 

Pois se o sistema não arreda o pé, teremos que procurar novas formas de decidir. Nem que seja pelo branco ou nulo, caso não haja alguém com quem nos identificamos a ponto de confiar nosso voto.

 

Queremos conquistar coisas novas e dar um novo rumo para a nossa geração. Quais são as conquistas dessa geração? A democracia é uma conquista da geração passada que lutou contra a ditadura, conquistando as diretas e a constituição. E a nossa? Vamos conquistar um novo modelo de políticas públicas? Vamos conquistar o voto consciente e não eleger mais representantes que gastam mais do que todos os seus anos de salários para preservar o seu "desejo de representar o povo".

 

Nem que nos candidatemos! Para transformar essa realidade precisaremos de coragem e lucidez, e isso se dá exclusivamente pela participação ativa de um grande número de cidadãos, levando em conta que é natural que nem todos se interessem por política. Mas a inércia não pode ser mais nossa característica. Abram alas para os novos protestos. Não chamemos de vandalismo aquelas manifestações que expressam a opinião contrária à dos poderes dominantes. Que nos deixem sair de casa, ecoar nossas vozes. Nos deixem participar da política. Caso contrário, contrariaremos muito mais do que aqueles eleitores da cidade de Lisboa da qual Saramago contou.

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