A escolha de Carlesse

Mauro Carlesse tem dois caminhos à frente deste mandado tampão e sua escolha vai ditar o resultado destes 60 dias

Governador interino Mauro Carlesse
Descrição: Governador interino Mauro Carlesse Crédito: Divulgação/AFNotícias

Por onde andei nos últimos dias, encontrei tocantinenses apreensivos com a situação do Estado e com os rumos que o governo do Tocantins vai tomar sob o comando de Mauro Carlesse.

 

Paulista, radicado no Sul do Estado, de onde emergiu para disputar primeiro o mandato de prefeito com Laurez Moreira e depois o de deputado estadual, no qual se sagrou vitorioso, Carlesse é uma incógnita para muita gente.

 

Desconhecido da maioria dos tocantinenses, fixou como objetivo o governo do Estado, lançou-se pré-candidato a governador, e usou inicialmente a posição de presidente da Assembleia Legislativa para começar a rodar pelos municípios e se apresentar ao eleitorado.

 

A eleição para a presidência foi o passo no degrau, dado rumo ao objetivo maior. Carlersse já sabia dos riscos que Marcelo Miranda corria de não concluir o mandato. Nos bastidores, fala-se que investiu pesado no afastamento do ex-governador, com bancas de advogados em Brasília procurando acelerar o andamento do processo (primeiro no STJ) e depois buscando influenciar num mal resultado. Não creio que Carlesse tivesse poder para tanto. Influência em Brasília quem tem muita ainda é a senadora Kátia Abreu.

 

A aliados, uma ex-primeira-dama, inconformada, não poupava críticas aos dois nos dias que se sucederam ao 22 de março, data fatídica da cassação de Marcelo e Cláudia. Dulce Miranda não economizou nas palavras duras para classificar Kátia e Carlesse, dando detalhes de reuniões na casa da senadora em que os dois teriam tramado juntos a derrocada de Marcelo. Se é verdade ou não, ninguém sabe afirmar, mas de concreto ficou a mágoa dos Miranda contra o novo governador, alçado ao mandato tampão.

 

Carlesse teria ficado decepcionado com o meio resultado positivo. É o que contam as más línguas na Assembleia. Um pouco mais e a eleição seria indireta. Bastava que o processo fosse julgado algumas semanas depois.

 

Tudo o que não aconteceu, ficou naquele imenso buraco negro do “se”. Se tivessem pedido vista. O próprio Admar Gonzaga, que foi advogado de Marcelo Miranda, votou pela sua cassação, sem dó e sem piedade. Capítulos desta história que o destino escreveu.

 

Primeira semana, muito a acertar

 

O que se vê nos primeiros dias de Mauro Carlesse mostra um candidato a governador que chega ao Palácio Araguaia cercado dos deputados que lhe dão sustentação na Assembleia. Seu grupo, que inicialmente era de 14 parlamentares, hoje já é maior.

 

Alguns, que sempre foram oposição aos Miranda e seu grupo, assim continuarão na eleição de outubro, fizeram suas indicações. A demora na confirmação de nomes para postos importantes como Saúde e Educação revelou muito nos bastidores.

 

A Seduc, por exemplo, estava destinada ao deputado Wanderley Barbosa, que ao lado da deputada Luana Ribeiro, foi aliado de primeira hora do presidente, hoje governador. Para o cargo ele tinha o nome da irmã, Berenice Barbosa, que foi titular da mesma pasta no município, quando o irmão era aliado do prefeito Carlos Amastha.

 

Saiu queimada com o rompimento entre os dois e não se arriscou numa aventura de 60 dias de governo. Com a dificuldade em encontrar outro nome, Barbosa acabou sem a Seduc, que foi ocupada pela secretária Adriana da Costa Pereira Aguiar, que é de Gurupi, cidade de Carlesse, e que havia comandado a pasta no final do governo Siqueira Campos. Sua indicação vinha sido atribuída ao deputado Eduardo Siqueira Campos que negou ao T1 Notícias ter feito esta ou qualquer outra indicação.

 

Outro que encostou em Carlesse, há meses, e conseguiu sua cota no governo, foi o deputado federal Carlos Gaguim - um dos primeiros a anunciar apoio para Carlesse ao governo - ao qual se atribui a indicação do administrador Renato Jayme para o comando da Saúde.

 

A aposta é arriscada. A pasta tem meandros que requerem uma experiência que Jaime não tem. De cara, entra assumindo as heranças de Musafir, entre elas mandados judiciais que já pedem inclusive prisão por conta de descumprimento de ordens antigas. Renato Jayme, no entanto, é mais ligado à deputada estadual Luana Ribeiro, e desde os tempos da Ulbra, ao secretário de Administração Sandro Henrique Armando, que é cota de indicação da deputada e atual presidente da Assembleia Legislativa. O deputado Olyntho Neto, por sua vez, emplacou Rolf Costa Vidal, que era funcionário de gabinete dele, e que assumiu a Casa Civil e cumulativamente a Secretaria Geral de Governo e Articulação Política.

 

A escolha que define o governo

 

Mauro Carlesse tem dois caminhos à frente deste mandado tampão e sua escolha vai ditar o resultado destes 60 dias. Pode optar por austeridade, sem muitas invenções e aproveitar o tempo para conhecer os meandros da administração pública, se credenciando para ser um presidente da Assembleia mais atento e eficiente aos mecanismos de Estado nos próximos meses. E pode optar por ser o governador/candidato que tenta se aproveitar da máquina da melhor maneira a favorecer uma disputa nas eleições suplementares, que serão diretas, e onde ele não tem tempo nem lastro para enfrentar candidatos potencialmente mais fortes do que ele.

 

Em resumo, Carlesse pode ser o presidente que assumiu o governo num momento delicado e deu conta do recado de gerir o Estado com mãos firmes e espírito republicano, na travessia difícil que o Tocantins tem pela frente. Ou pode ser um deputado se aproveitando da posição ocupada nesse momento histórico, para levar seu projeto pessoal acima de tudo.

 

Da sua escolha dependerão suas ações, e seu futuro político.

 

Nesta semana, que começa hoje, teremos alguns fatos políticos interessantes. O mais importante deles acontece dia 4, quando o TRE publica as normas para as eleições suplementares, uma resolução com força de Lei Suplementar.

 

Nos bastidores fala-se que o prefeito Carlos Amastha, que renuncia ao cargo nesta terça-feira, 3, esteve com o ministro Luiz Fux em Brasília para uma consulta. E que a resposta de Fux foi taxativa de que ele não pode, constitucionalmente, ser candidato.

 

O argumento de que “todos devem ter o direito de participar” soa razoável e democrático, mas não tem como prosperar no cenário da disputa tocantinense.

 

Se cada um insistir em fazer prevalecer sua vontade de governar o Tocantins, acima de tudo, teremos uma eleição judicializada. Outra consequência da decisão do TSE de cassar Marcelo nos 45 do segundo tempo.

 

Por hora, cada um está completamente envolvido na sua realidade própria, nos anseios de cada grupo, que friamente se pode dizer que são legítimos.

 

Mas arrisco dizer que o povo tocantinense aguarda de seus líderes, e possíveis candidatos, gestos mais nobres. Atitudes que possam condizer com os belos discursos de palanque. Para onde vai o Tocantins daqui até dezembro? É uma prova dura de responsabilidade. 

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