A hora da despedida e um pedido de Justiça… Por Mateus

A dor é inexplicável. Só quem sente é capaz de compreender. Como assim, uma vida interrompida precocemente, sem motivo, sem razão, sem por quê?

Diante da notícia da confirmação da morte do nosso Mateus, que chegou para marcar a noite do feriado de 7 setembro, fomos tomados por duplo sentimento: um misto de dor e de alívio, após três dias e duas noites de um pesadelo vivo em que mergulhamos, nós, sua família de Palmas. Eles, sua família da Paraíba. 

 

O que são os amigos, senão a família que a gente escolhe ao longo da vida, não é mesmo?…

 

A dor é inexplicável. Só quem sente é capaz de compreender. Como assim, uma vida interrompida precocemente, sem motivo, sem razão, sem por quê? Então, ele não vai mais no lançamento do Rally dos Sertões, com Luciana. Nem comigo, no show da Zélia Duncan no Festival Gastronômico de Taquaruçu. Não ligará mais no começo do fim de semana para dizer: “Amor, hoje é sexta… tá pronta, bonitona?”. Nem me dará conselhos como o último, no último telefonema na véspera do dia final...

 

O alívio vem depois da agonia. Do medo de não ter seu corpo para devolver à sua mãe, tão linda, tão amada por ele, do alto de seus 76 anos, rezando para ter o filho de volta, com vida.

 

Ver chegar ao fim a vida de um ser tão amado como ele, em meio a catarse de sentimentos que foi tomar conhecimento do seu desaparecimento nas primeiras horas de uma segunda-feira, em que ele normalmente já estaria trabalhando, assustou os amigos mais próximos. 

 

Foi a Nega, que cuida dele e da casa, das roupas e da comida, desde 2009, quem tomou o primeiro choque, ao chegar, abrir o portão eletrônico e encontrar a casa revirada… 

 

Foi Alessandra quem correu para, após me ligar, acionar a polícia e depois tomar as providências para que a Nega registrasse o boletim de ocorrência. E Fátima Fernandes, quem correu desesperada atrás do roteiro de seus últimos passos, junto com Rosânia Sarmento… Uma grande corrente de amigos, de solidariedade, se formou. O vizinho da frente providenciando almoço, amigos anônimos buscando água. Todos ajudando a acionar a perícia. Gilvan Noleto cuidando de agilizar tudo para que nada escapasse aos olhos da polícia.

 

Se pudesse dar um consolo a esta mãe que chora, lá longe de onde o filho construiu uma vida, eu diria: 

“Sabe Dona Creuza, nós conversamos duas vezes nesta vida, mas sei que a senhora sabe quem são as pessoas que dividiram a vida e moravam no coração do Mateus… Eu e ele, por exemplo, são 20 anos de amizade, de brigas bobas, e reconciliação. A última nos custou 3 meses de afastamento, na campanha de 2010. Ele parou de falar comigo, e nos reconciliamos com amor maior quando ele voltou da Paraíba em janeiro de 2011.

 

Sei que a senhora sabe, mas nunca é demais repetir, que seu Francisco Mateus Júnior escreveu uma história profissional de orgulhar qualquer mãe… Escreveu sozinho, como bem lembrou esta noite, a amiga Kibb Barreto, em seus devaneios. Kibb que transtornada, arrebentou o portão da casa para entrar, aflita, esperando encontrá-lo lá dentro. Decepção…”

 

Desta vez o fofozinho, como lhe chamava carinhosamente Luciana Tolentino, não voltou para casa de ressaca no dia seguinte após virar as noites na boemia dos bares e karaokês de Palmas, onde ia cantar quando se recusava a permitir que a noite acabasse. 

 

Tão amado, nosso menino, tão doce e tão solitário da porta para dentro de casa. Ele foi capaz de fazer inúmeros amigos. No grupo de WhatsApp montado para trocar notícias e apreensão coletiva, tinha 256 pessoas no momento em que saí após confirmação da morte… Já não fazia sentido mais.

 

Nesta madrugada, Marquinhos, o irmão amado, que desembarcou em Palmas, me perguntava assombrado em perceber quanta gente nessa cidade amava o Júnior, o Mateus, o “Chico da Tirana”, como lhe chamava a colega e amiga Thelma Maranhão: “mas Roberta, se ele era tão amado, por que terminou assim?”.

 

Como eu poderia explicar a maldade humana, a ele e à Dona Creuza? Ao seu coração, ao de Marcos, ao de sua filha? Não tem explicação. O que fizeram ao Mateus não tem explicação… Todos os seus amigos choram, uns mais desesperados, outros amparados por uma fé. São tantos, que não conseguirei nominá-los aqui. 

 

Eu de mim fui esperá-lo na porta do IML, para fazer uma oração ao lado do caminhão que transportou seu corpo do local ermo onde foi deixado por pessoas que há muito tempo perderam o sentido da vida. 

 

Como nós gostaríamos de abraçá-lo e arrumá-lo com um terno bem lindo, do seu tempo de secretário. E colocar nele a gravata vermelha italiana que eu lhe trouxe da única viagem na vida que fiz a Milão. Ou arrumar e disfarçar seus cabelos brancos com rímel… 

 

“Amor, eu estou fazendo 38, viu?”, repetia sempre a cada aniversário nos últimos anos, entre um sorriso, uma dose de whisky e um cigarro. Fosse na Havanna, nosso point mais recente, no Mercatto ou num Karaokê das Arnos que fechou há muito tempo…

 

“Oh meu amigo!”, dizia empostando a voz para chamar o garçom, e depois relaxava: “traz uma cerveja pra ela”…

 

O caixão seguirá lacrado para não maltratar nossos olhos e corações depois do sofrimento a que foi submetido pelo sol e pelo sereno, pelo que faz o tempo aos nossos corpos frágeis, depois de quase cinco dias… 

 

Não, ele não merecia!

 

O Francisco Mateus Júnior, filho da dona Creuza, foi mais que funcionário da Assembleia nos primórdios de Palmas, da Verbus, da amiga Monica Calassa, ou secretário de Comunicação da prefeitura (nos mandatos do Odir e do Raul), e também secretário de Estado da Comunicação na época do Gaguim… 

 

Foi mais que o amigo querido e o assessor especial da Edna e do Agnolin... Foi mais que diretor de comunicação da Câmara até terminar assessor da Faet e da senadora Kátia Abreu, primeira ministra da Agricultura do Brasil, que aprendeu a amá-lo logo que o conheceu, pelo bom profissional e ser humano que é….

 

Vão dar muitos supostos motivos para o assassinato do filho de dona Creuza… Tomara que isso não a machuque, que ela se desligue daqui e não sofra com isso. 

 

Em meio a um momento que as circunstâncias do assassinato revoltam a comunidade gay na Capital, muitos querem fazer de Mateus Jr. uma bandeira. Ele, se estivesse vivo, não permitiria. 

 

Sim, o preconceito pode ter matado Mateus. Não mais que a inveja ou a loucura que toma conta de usuários de droga no auge de uma balada em que alguma coisa irrita alguém, ou em que algo dá errado.

 

Tenho para mim que o que matou mesmo nosso Mateuzinho foi a solidão que o levava a beber até não aguentar mais pelos bares de Palmas e terminar a noite levando desconhecidos para casa. Sei que não há poesia nessa morte, num sábado em que o som alto de sua casa incomodou os vizinhos com música sertaneja ao invés de Alceu Valença, Edith Piaf, ou Ângela Ro Ro.

 

Rezei muito e pedi a Deus que nos devolvesse Mateus, para que nós pudéssemos devolvê-lo à sua mãe. Ele ouviu todas as preces, que foram feitas por todos que o amavam e é isso que faremos hoje antes do dia findar. 

 

Sobre os que cometeram este crime contra a vida, já estão entregues à justiça dos homens, que faremos questão de acompanhar e de cobrar. A Polícia Civil foi irrepreensível no trabalho que desenvolveu desde as primeiras horas, do delegado Jéter Ayres, que foi o primeiro a chegar na casa, até o delegado Vinícius Mendes, que conduziu o principal suspeito ao local em que deixaram Mateus, já sem vida. Entre os dois trabalhou, de forma firme e incansável, a delegada Liliane Albuquerque, cujo trabalho honra o nome da Polícia Civil, não neste caso apenas, mas na lida incansável que tem lhe rendido ameaças de morte frequentes por organizações criminosas que tomam conta de Palmas e do Estado.

 

Espero que não falte para estas pessoas a justiça terrena e nem a justiça divina. Digo justiça para que outros crimes como este sejam inibidos, e não a vingança, que no nosso coração não cabe. Eles também têm mães que possivelmente já choram por suas vidas transviadas há tempos.

 

Se pudesse falar agora com a mãe do meu amigo, irmão de alma, eu só lhe diria: “Dona Creuza, tenha orgulho do seu Mateus. Aqui ele veio e viveu os melhores dias de sua vida… Dançando de calça xadrez em cima de uma mesa na Graciosa, vivendo intensamente a vida e se tornando um dos melhores profissionais de comunicação que conheci”.

 

Quando Dona Creuza enterrar seu filho sob o sol da Paraíba, estaremos todos lá também, de coração. E ele viverá em nossos corações todos os dias. Nas belas lembranças que deixou.  

 

Com ele morre um pouco da alegria das noites de Palmas e também um pouco de cada um de nós, seus amigos.

 

Assim como bem disse o poeta Paulo Sant’Anna, repito, que “eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem morrido todos os meus amores, mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos…”.

 

Rogo a Deus que os bons guias de luz tenham ajudado meu irmão de alma na dura hora da passagem e que ele esteja dormindo numa cama branca cheirando alecrim, numa das casas do Pai Celestial.

 

O que nos conforta é saber que a vida não termina aqui, Dona Creuza…

 

Receba Mateus nos braços seus. 

 

Ele viverá na nossa saudade. 

 

Uma promessa lhe fazemos: em nome dele vamos clamar todos os dias, por justiça.

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