A Insustentável Leveza do Ser nas relações políticas

Ao exonerar o filho de Kátia Abreu do governo, após desentendimentos nos bastidores entre a senadora e seu filho, o governador Siqueira Campos antecipa um rompimento e elimina o "Plano B"para 2014...

Eduardo e Kátia de mãos dadas em evento no Palácio
Descrição: Eduardo e Kátia de mãos dadas em evento no Palácio Crédito: T1 Notícias

 

É atribuída a Oscal Wilde, um trecho de poema do qual gosto muito, porque revela com muita propriedade a natureza humana.

 

Diz mais ou menos assim: “A gente sempre destrói aquilo que mais ama/ em campo aberto, ou numa emboscada/ uns com a leveza de um sorriso/ outros com a dureza da palavra. Os covardes destroem com um beijo/ os valentes destroem com a Espada”.

 

Pois bem, no final da tarde de ontem, terça-feira, 17, o governador Siqueira Campos usou a caneta para exonerar Irajá Abreu, num ato simbólico de rompimento com a senadora Kátia Abreu(PSD), depois de uma semana de forte movimentação nos bastidores.

 

Não havia indisposição da senadora com o governador. Como não havia no passado quando ocorreu o primeiro rompimento, que levou Kátia Abreu aos palanques contra Siqueira.

 

O que há hoje é a campanha de 2014 se impondo e atropelando a agenda institucional.

 

O rompimento político com Kátia Abreu, coloca em palanque adversário os dois principais aliados de Siqueira em 2010: a senadora e o senador João Ribeiro.

 

E coloca o ex-senador e secretario de Relações Institucionais do governo – pré-candidato declarado à sucessão do pai – na situação de buscar novos aliados para o projeto político de governar o Estado.

 

Quem restará?

 

Desde ontem, mesmo sem os detalhes finais que levaram o governador à atitude, inúmeras cenas me voltam à memória, do que foi a campanha de 2010.

 

A reaproximação de Siqueira e Avelino. A reaproximação de Kátia e Siqueira, naquele histórico encontro em Brasília, levada pelas mãos do então deputado federal Vicentinho Alves. A reaproximação de João Ribeiro, após decepcionar-se com as promessas não cumpridas de Gaguim em apoiá-lo ao governo...

 

E o almoço. O histórico almoço na casa da senadora, quando ela recebeu o então pré-candidato Siqueira Campos e dona Marilúcia, o ex-senador Eduardo, e poucos acompanhantes para reunir os dois grupos.

 

Kátia então pré-candidata ao governo, segundo lugar nas pesquisas reabria a casa e seu grupo político para a possibilidade de apoiar Siqueira. Estava nascendo o grupo que venceria as eleições contra a máquina do governo Gaguim.

 

Ouvi de Eduardo Siqueira que se a senadora apoiasse seu pai, e permitisse que ele retornasse ao comando do Estado para fazer o grande mandato de encerramento da sua carreira política, ele lhe seria eternamente grato.

 

Num outro momento, já depois da vitória de Siqueira, quando tudo eram flores e o governo ainda não estava montado, outro encontro entre Eduardo e Kátia, na casa da Senadora, desta vez para comemorar. “Eu já falei pra eles, que pra mim não há problema nenhum. Lá na frente, quem nós vamos apoiar, vai depender de um entendimento entre a Kátia e o João”, me dizia o próprio Eduardo.

 

 “É um direito dele querer disputar o governo. E é natural que o pai queira apoiá-lo”, me disse lá atrás a senadora, quando o projeto de Eduardo começou a desenhar-se.

 

O tempo passou. Tudo mudou, e Siqueira e Kátia dificilmente estarão juntos no palanque ano que vem.

 

Última cena, rápida. Campanha de 2010, programa eleitoral de TV.

 

“Siqueira não é autoritário, é determinado”, dizia a senadora numa fala histórica para explicar ao eleitor que fazia o caminho de volta para ajudar a recolocar o Estado nos trilhos do desenvolvimento e justiça social, bandeiras eternas de Siqueira.

 

“Ele está voltando pra botar as coisas todas no lugar”.... dizia o jingle que fechou aquele histórico programa.

 

Pois é.

 

Siqueira voltou. João Ribeiro rompeu ano passado e ajudou a derrotar Marcelo Lélis em Palmas, que representava o governo. A campanha terminou e Lélis rompeu.

 

Agora o governo seguirá também sem o apoio político de Kátia. O administrativo não. Este, mais que nunca, a senadora dará, por motivos óbvios.

 

Fechando a análise, não há vilões nem mocinhos nesta história. Só personagens fortes, manejando o poder que têm, para deixar sua marca na política do Estado. Cada um se defendendo.

 

Com o capítulo de ontem, o governo na verdade assinou a decisão de não ter plano B para a campanha do ano que vem. Kátia eventualmente teria todas as condições de disputar no próprio PSD, com o apoio de quem apoiou num momento crucial da sua história.

 

Tudo isso agora é passado.

 

E o futuro, esse a Deus pertence.

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