A musa, “El capo” e o juiz: cenas de uma máfia à brasileira

Andressa Mendonça. É o seu nome. Já não é de hoje que a bela mulher de Carlinhos Cachoeira dá cores e tons novelescos ao enredo que se desenrola nos tribunais em torno dos negócios escusos do marido, preso pela PF e que nunca mais foi solto. Rendendo

No fim de semana a musa da CPMI, que arranca flashes e comentários sobre seu estilo de vida que nada tem de discreto nem digno de pena, foi protagonista de mais uma cena que dá o que pensar neste roteiro de cinema de uma máfia à brasileira.

 

Corre na imprensa nacional e na de Goiás, com riqueza de detalhes como a mulher de Cachoeira estaria servindo de “pombo correio” para seu Carlinhos. O juiz federal Alderico Rocha Santos é responsável por uma denúncia de tentativa de intimidação contra ela. E a bela foi parar na PF, para dar depoimento.

 

Tem que pagar agora fiança prévia de R$ 100 mil e terá que ficar longe dos envolvidos na Monte Carlo. Incluindo seu Carlinhos, de quem ouviu uma declaração de amor em pleno depoimento à justiça goiana dias atrás.

 

Chantagear um juiz? - Pode se perguntar o leitor – não há muita inteligência nisto. A falta de limites e de noção do perigo de ser denunciada faltou à Andressa e à Carlinhos, já que ninguém acredita que ela tenha agido por conta própria.

 

 

Vejam o que diz a matéria publicada em O Globo:

 

(…) Conforme o juiz, Andressa teria dito: "Doutor, tenho algo muito bom para o senhor. O senhor conhece o Policarpo Júnior? O Carlos contratou o Policarpo para fazer um dossiê contra o senhor. Se o senhor soltar o Carlos, não vamos soltar o dossiê".

O juiz diz também que respondeu que não tinha nada a temer, quando teria ouvido de Andressa: "O senhor tem certeza?".

A mulher de Cachoeira, conforme o relato do juiz, teria então escrito o nome de três pessoas em um pedaço de papel e perguntado se ele os conhecia: o ex-governador do Tocantins, Marcelo Miranda (PMDB), que teve o mandato cassado em setembro de 2009 por suspeita de abuso de poder político nas eleições de 2006; um fazendeiro da região do Tocantins e Pará, conhecido como Maranhense; e Luiz, que seria um amigo de infância do juiz e supostamente responderia a processo por trabalho escravo.

De acordo com o juiz, Andressa teria dito que o jornalista teria fotos do magistrado com essas três pessoas (…)

 

A trama do enredo de “El Capo” é mesmo uma coisa sem limites. Estaria Cachoeira vigiando o juiz antes mesmo de deflagrada a Monte Carlo, por algum motive que desconhecemos?

 

A esta altura dos acontecimentos, citar o jornalista da Veja (que tem passado os últimos meses tentando explicar que tinha com Cachoeira apenas uma relação de fonte/veículo) como se fosse um funcionário da rede de “El Capo” a serviço de seus interesses, é muito mais que ousadia. É a certeza da impunidade para si e para os seus.

 

O que a atitude de Andressa demonstra, ainda que alguns possam duvidar da íntegra do relato do juiz, é que grassa entre os poderosos a síndrome do ser inatingível.

 

Poder politico e poder financeiro parecem ser dois entorpecentes com a propriedade de isolar as pessoas da realidade, do mundo vivido pela gente comum, para quem a lei é a lei e há um limite a ser respeitado para tudo.

 

A Musa, El Capo, e o juiz poderiam facilmente ser personagens de um filme sobre a imensa teia da “máfia” brasileira.

 

Nestas coisas todas, sobra o inexplicável. 

 

O que tem a ver com este enredo, por exemplo, o ex-governador Marcelo Miranda, que a princípio não teria ligações nem intereres em influenciar nada no TRF em Goiás? 

 

Quem é Maranhense? 

 

E o que um vizinho de fazenda chamado Luiz (supostamente acusado de envolvimento com trabalho escravo) tem a ver com o juiz a ponto de Cachoeira imaginar que a simples menção destes três nomes  por Andressa teria poder de intimidar Alderico Rocha Santos?

 

São perguntas que ecoam por aí. Se fosse uma trama global, todos nós teríamos pelo menos a certeza de que saberíamos suas respostas no final. Mas não é. 

 

Há coisas que se prestam apenas ao papel de lançar dúvidas no ar. E igualar pela suspeita, pessoas que aparentemente não tem ligação, e nenhuma responsabilidade com as práticas ilegais investigadas.

 

Vamos ver onde esta trama novelesca ainda vai nos levar.

 

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