A necessária independência

Com o fim do carnaval, país retoma o rítmo. Num Tocantins sem Copa, o grande evento é mesmo a Eleição de Outubro, que vai derramar milhões na praça. Um dinheiro caro aos cofres públicos, no final...

Terminado o feriado de Carnaval, um intervalo de quase uma semana em que políticos das mais diferentes legendas aproveitaram para ver e ser vistos nas principais festas do Estado, o comércio e a vida diária começam a voltar à rotina a partir do meio dia no Tocantins.

 

De fato mesmo, o ritmo só será retomado semana que vem, com todas as instituições funcionando. E o ano útil finalmente começará. Um ano de Copa do Mundo no Brasil, onde as obras em torno do evento, seu custo e tudo que envolve a festa é questionado nas ruas por manifestantes aos quais sobra revolta e falta sensatez.

 

São Paulo e Rio de Janeiro são os palcos preferenciais dos protestos que seguem a lógica de que a prioridade do governo federal deveria ser outra, que não a Copa. Saúde, por exemplo: a chaga nacional.

 

Do poder paralelo de organizações criminosas como o PCC parte a promessa de mais tumulto, mais desordem e convulsão social a ponto de impedir que o maior evento esportivo do mundo aconteça aqui. Um desafio para o governo.

 

No Tocantins, onde não teremos Copa e tivemos um tímido Carnaval na Capital, a festa maior é a da campanha, que movimentará milhões, no oficial e no paralelo, como sempre.

 

Depois do Carnaval, a festa da campanha

 

Uma indústria de empregos temporários e altas negociações envolvendo desde as famosas lideranças do interior, os “donos dos votos”, até os donos dos partidos ( também donos do horário de TV) e os donos de pequenos feudos que já começam a se movimentar. Lá na ponta, recebendo R$20, R$ 50 ou R$ 100 reais, sua excelência o eleitor.

 

Eleições que normalmente custam bem mais do que vai nas prestações de contas e cujos instrumentos de controle ainda precisam se aperfeiçoar.

 

Num esquema destes, em que é preciso ter voto para captar recursos e para obter votos é preciso ter dinheiro, onde estará a esperança para candidatos realmente comprometidos em representar pessoas, segmentos da sociedade de forma autêntica, pura?

 

É um sistema bruto, fadado a falir a máquina pública e que se repete a cada eleição. Uma campanha custa milhões, cujos patrocinadores pretendem recuperar depois de eleito seus candidatos, os mesmos milhões. Em dobro.

 

O que sustenta toda essa engenharia é o dinheiro que nós pagamos em impostos diariamente. Eleitos, nossos supostos representantes, via de regra se voltam contra nós, legislam por conta própria contra os nossos interesses, aumentam impostos e criam novas taxas, decididos a pagar às nossas custas, a conta de suas eleições.

 

Seja com empregos para abrigar os “companheiros”, seja com obras falsamente licitadas ou nem isso: dispensadas de licitação. Para atender os pródigos doadores de campanha.

 

Corrupção. É por causa dela que cada vez mais os revoltados ocupam as ruas e destroem agências bancarias, símbolo do capital ao qual a massa pobre só tem acesso nos empréstimos intermináveis com juros lá em cima, para financiar sonhos de consumo que nos ensinam que o importante é ter. Mais do que ser.

 

Uma sociedade encolhida

 

De fato somos uma sociedade encolhida em si mesma. Refém de um modelo econômico que destrói as fontes de vida no planeta em busca de um modelo falido de civilização.

 

Quando o Carnaval -  a festa da carne – termina, deixando por aí trôpegos e semi entorpecidos meio cidadãos tentando recomeçar, há que se perguntar antes que a outra festa comece: para onde vamos nestas eleições?

 

Eleger os que têm dinheiro para comprar votos, patrocinados pelos que correm atrás dos que demonstram ter votos para duplicar seu dinheiro?

 

E depois vamos assistir ao lançamento de mais obras que só saem do papel, ou das placas de lançamento, quando o momento eleitoral é mais favorável?

 

Dá mesmo o que pensar. Num Estado em que a economia gira quase sempre em torno do recurso público, como um cachorro correndo eternamente atrás do próprio rabo, é importante refletir em que direção estamos indo. Para assim saber buscar alternativas.

 

 Conversando com a amiga Mayza Ayala, leitora desse portal, dia desses lá em Gurupi, ela recentemente chegada dos Estados Unidos fazia esta observação: “lá, basta ter um emprego para ser independente. Aqui não.”

 

De fato, aqui não. Por que economia, política e a dependência odiosa de políticos que compram sua representação é um ciclo que só as elites romperam até agora. Entendendo-se por elites os que alcançaram a auto suficiência financeira ou intelectual ( que coloca o cidadão fora do alcance do político, blindado pelo concurso público).

 

Infelizmente não é um caminho para todos.

 

Aos cidadãos que movem a máquina nos postos informais de trabalho, no empreendedorismo, nas pequenas e médias empresas e que correm atodos os dias atrás de uma vida realmente independente só há uma maneira de quebrar isso: renunciando a toda e qualquer benesse oferecida em troca do voto. Para oferecê-lo, mesmo que para muitos isso represente um sacrifício pessoal, a quem de fato demonstre merecê-lo.

 

Quantas pessoas de bem o sistema podre da nossa política tem destruído? Na cobertura política diária tenho visto muita gente boa corrompida, fazendo o discurso de que “é preciso se adaptar para chegar lá”. E quando chegam, já chegam vestindo a camisa de força da dependência dos compromissos assumidos.

 

Esta chegando novamente a hora em que será possível mudar isso, buscando a verdadeira representação.

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