Eu já batia duro no que acontecia na gestão temerária, tenebrosa, criminosa, escandalosa dos fundos de pensão do Igeprev há dois anos, quando não se sabia quem seria candidato a quê exatamente, nas eleições do ano passado. Era 2013, e as coisas estavam estourando em nível nacional, com ramificações no Tocantins, com direito a matéria no Jornal Nacional.
Um doleiro atravessando a pauta
Este assunto, pelo menos aqui, nunca teve a ver com política partidária.
Na guerra dos números informados ora pelo Ministério da Previdência, ora por fontes não oficiais, foram acrescentados ontem os da sindicância que o atual presidente do Igerpev, Jacques Silva mandou fazer. Houve um tempo em que coletiva do Igeprev era para dizer que o prejuízo não era tão grande assim...
O abismo entre a verdade e a versão no caso do Igeprev
No frigir dos ovos, R$ 262 milhões definitivamente perdidos e mais R$ 2 bilhões enfiados em aplicações temerárias, de longo prazo. Um dinheiro que o presidente alerta, será difícil que o contribuinte veja novamente. “Alguma coisa dá para recuperar, mas a maioria está perdido”.
Impressionante o grau de conformismo geral com esta situação. Mas mais impressionante ainda a falta de ação dos sindicatos e no geral, de quem teria a obrigação institucional de correr atrás deste prejuízo, em nome do povo tocantinense.
Se de um patrimônio de R$ 3,35 bilhões, exatos R$ 2 bi podem estar perdidos, é de se considerar como factível que teremos problemas com aposentadorias num futuro breve - algumas projeções falam em 2019, 2020 - e que esta conte sobre inicialmente para o próprio servidor, com aumento da contribuição e depois para todo o Estado, com suplementação do fundo pelos cofres públicos. Estes que não aguentam pagar atualmente, nem os servidores da ativa, como estão.
Responsabilizar culpados
O presidente Jacques Silva fala em responsabilizar culpados/responsáveis pelas aplicações criminosas - uma vez que feitas fora do que determinavam as normas legais, as normativas do Ministério da Previdência - e cita nomes, lista na qual se incluem ex-presidentes e diretores responsáveis diretamente por estas aplicações. São eles, conforme citação feita ontem em coletiva: “Edson Santana Matos, Lúcio Mascarenhas Martins, Gustavo Furtado Silbernagel, Rogério Vilas Coas e Francisco Flávio Sales Barbosa.
Jacques Silva foi além: acusou o presidente do Conselho Administrativo, hoje deputado estadual Eduardo Siqueira Campos(PTB) de complacência ou conluio. Acusações prontamente rebatidas em nota na manhã desta terça-feira, 19.
O próximo capítulo da novela do Igeprev e suas ramificações com quadrilhas investigadas em nível nacional, é que o Estado, via da sua Procuradoria Geral, mova ações para responsabilizar civil e criminalmente que autorizou ou determinou estas aplicações fraudulentas, na tentativa de recuperar pelo menos parte deste dinheiro.
Um processo lento, que veremos concluído daqui a alguns anos, quando a conta já tiver chegado para tocantinenses que não tem a menor idéia do que é isso.
A omissão, de fato ocorreu no governo passado, quando os crimes começaram a ser revelados. Faltou aos governantes de então, mais firmeza em cortar na carne e correr atrás de quem lesou o patrimônio dos servidores. Rogério Villas Boas, por exemplo, foi exonerado: “a pedido” e “com agradecimento pelos serviços prestados” em meio à revelação de que o doleiro preso, Fayed, pagara seu cartão de crédito.
Numa frase de efeito, o presidente do Igeprev, Jacques Silva, revelou os relatórios com a seguinte afirmação: “Três coisas não demoram muito a aparecer: o sol, a lua e a verdade”. E apresentou os relatórios como a verdade.
Com certeza, há muito mais sobre o Igeprev, encoberto pelas sombras de atos cabulosos. E pela ignorância real sobre os números internos: quantos aposentados, quantos a se aposentar, projeção deste custo para os próximos cinco, dez anos.
Resta que Ministério Público e judiciário tocantinense tenham firmeza e coragem para enfiar a mão nesta cumbuca. Doa a quem doer.
A história não perdoa os que se omitem. E as gerações futuras ainda pagarão por muito tempo o preço dos crimes cometidos no Igeprev do Tocantins nos últimos quatro anos.
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