Amigos, não sou das que defende que cargo comissionado não seja cargo de confiança.
Esta é exatamente a sua definição. Em cargos comissionados, nomeia-se aqueles em quem se confia para determinada função. Que normalmente é de assessoria. Algo que tem sim, conotação pessoal, política, partidária.
É assim desde que o mundo é mundo, pelo menos no Tocantins. O sujeito apoia um candidato, ele ganha e assim o apoiador ganha uma chance de trabalhar através daquele mandato. Ao servidor comissionado cabe cumprir da mesma forma que o concursado, o estatuto e as normas que regem servidor e serviço público.
Tudo fora disto: não trabalhar, não respeitar as normas do serviço público, desrespeitar o patrão (que é o cidadão, em última instância), está fora do script e merece denúncia, punição, exoneração.
Dito isto, não posso deixar de opinar sobre a atitude da direção da 96 FM em mandar desligar o radialista PC Lustosa do programa Alvorada Sertaneja. Assim, da noite para o dia.
O PC lque foi o locutor do Siqueira a vida toda. O PC que foi com um carro de som para a avenida, de frente a casa de Marcelo Miranda, num trio, soltar foguete e provocar o adversário derrotado quando aconteceu o julgamento do Rced em 2009. Cumprindo papel. O PC que tomou uns tabefes na campanha passada e correu da imprensa para não negar o óbvio, e nem ter que confirmar.
Pois é. O PC companheiro do Siqueira ganhou porta na cara na madrugada desta terça-feira, 29 de julho, porque semana passada foi fotografado ao lado do deputado Irajá Abreu, numa reunião de apoiadores. Seu erro imperdoável.
O "Chefe" atropelando a lei, o contrato, a ética...
Para atropelar PC não houve regra, nem lei, nem nada. Apenas a vontade soberana do chefe. Que ele alega ser ainda Eduardo Siqueira e não Sandoval Cardoso, o governador de direito a quem a estrutura hierárquica da rádio responde.
O contrato de parceria entre a rádio, que é educativa(ou deveria ser) e a Associação Alvorada Sertaneja, representada pelo radialista, foi completamente atropelado pela necessidade de impor a PC Lustosa a humilhação. Saber na realidade quem é que manda: no Estado, na rádio e na vida dos seus agregados.
Uma conversa de noite e a retirada do programa do ar no dia seguinte, com o ato de impedir o locutor de entrar na rádio e ter acesso ao estúdio - desrespeitando os patrocinadores, cujo rendimento a rádio recebia em espécie ou permuta - é um modus operandi conhecido.
Comigo aconteceu parecido, em 2010, ano em que o governador Carlos Gaguim comandava o Palácio. O ato, agressivo e intimidatório rendeu muita história naquela época, entre negativas e afirmativas de quem era o responsável.
Naquele dia fui avisada depois do último programa - Na ponta da língua - de que não poderia fazê-lo mais. E não foi porque subi no palanque de ninguém, mas por que meu portal, então Site Roberta Tum, mantinha linha crítica e independente daquele governo.
Os tempos são outros e o Modus Operandi continua. Afinal, os diferentes são tão iguais, não é mesmo?
PC Lustosa, diferente do que os fakes e agregados à base governista bateram o dia todo nas redes, não era funcionário publico desrespeitando o patrão. Nem comissionado. Não ocupava cargo de confiança. Tinha um programa, com contrato assinado, numa rádio que é tratada há muito tempo como anexo, não do Palácio Araguaia, mas do grupo político que o ocupa, de tempos em tempos. Seja ele qual for.
A vergonha que PC está sentindo hoje, me disse ele, é um misto de decepção com o grupo que apoiou durante mais de 20 anos. Ele está no Tocantins e em Palmas, desde o começo, sempre de um lado só. “Desde Fenelon, na prefeitura de Palmas”, relembra.
O direito negado a PC, não foi o de fazer proselitismo político em rádio pública. Tiraram dele o ofício de tocar música sertaneja as 5hs da manhã, mandar abraço para seus ouvintes e faturar com seus patrocinadores, o ganha pão da sua família.
A decepção não é só dele, mas de muitos que elegeram este governo, com expectativa de que ele fosse no mínimo, leal ao que prometeu ser e fazer. E que não tripudiasse sobre os que o ajudaram, numa duríssima campanha de oposição, a retomar o poder.
Se o voto gerasse um contrato, por quatro anos, o governo Siqueira - e por extensão, o governo Sandoval, que o assumiu - ainda deveria muito a PC Lustosa, Irajá Abreu e tantos outros. Deveria no mínimo a decência.
Imagina o absurdo: tirar o pão de um companheiro, porque ele resolveu apoiar para federal, um antigo também companheiro, que ajudou a eleger – como tantos - este governo que aí está. Alguém que no meio do caminho, por discordar de muitas coisas, resolveu mudar o rumo.
Hoje, com a cabeça quente de tudo que ele e sua mulher ouviram – ela também despachada do cargo que ocupa na SSP – só resta a PC ir dormir ao som daquela canção: “Você pagou, com ingratidão, a quem sempre lhe deu a mão...”
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