Alimentação precária nos hospitais desafia governo, Sefaz e Musafir

Devendo mais de R$ 29 milhões à Litucera apenas do acumulado nesta gestão, governo tem pela frente o desafio de resolver precarização da comida servida nos hospitais do Estado...

Secretário de Saúde, Musafir, em visita à hospital
Descrição: Secretário de Saúde, Musafir, em visita à hospital Crédito: Foto: Divulgação

Ninguém pode negar que o secretário de Saúde do Estado, Marcos Musafir tem se movimentado como pode para enfrentar a gigantesca crise que tomou conta da Saúde no Tocantins.

 

Não é de hoje que se escuta falar dela. São deficiências diversas, cuja face mais conhecida é o HGP, na capital, superlotado sempre, e onde falta de insumos a medicamentos, fora as demandas intermináveis com categorias que se revezam nas reivindicações e reclamações: enfermeiros, anestesiologistas, cada um ao seu turno.

 

É um hospital "resolutivo", ouvi na reunião de apresentação dos novos diretores ao governador Marcelo Miranda. No HGP são realizadas cerca de 900 cirurgias por mês e cerca de 1.200 pacientes recebem alta. Mas não dá para dizer que o atendimento é bom. "Nunca vamos alcançar 100%, as pessoas sempre vão reclamar..." disse o governador na ocasião. "Mas peço a vocês excelência, humanização, que a gente possa atingir aí 80% de satisfação", pediu Marcelo.

 

Parênteses.

 

Fica difícil falar que a crise da Saúde se deve à falta de recursos, quando o Estado divulga números na casa dos 28% investidos no setor, informação do Secretário da Fazenda, Edson do Nascimento ao T1 Notícias dia destes. Bem acima do que determina a Constituição. E ainda assim não se resolve a alta demanda, o fluxo de compras, as filas de cirurgia eletivas.

 

Pois bem, esta semana eclode no noticiário mais uma vez um problema que causou constrangimento ao comandante da pasta, numa visita ao Hospital Dona Regina, no lançamento da Semana Mundial do Aleitamento Materno.

 

Terminados os discursos os convidados foram chamados a desfrutar de um café da manhã. Quando entrou para servir-se, o secretário foi abordado por uma mãe, revoltada, questionando a mesa sortida para autoridades e convidados enquanto, segundo ela, as mães hospedadas no hospital estavam há uma semana com alimentação deficitária. passando à “arroz e ovo”. Musafir tentava acalmá-la e ouvia de volta: “como você quer que eu dê de mamar se eu não tenho leite, por que não como direito?”

 

Uma saia justa horrorosa, acompanhada por muitos, inclusive por uma equipe de TV.

 

Não é a primeira vez e possivelmente não será a última que o secretário é abordado por pacientes e ouve reclamações testemunhadas pela imprensa. Acompanhando uma visita ao HGP, assiste também uma cena desta, retratada na reportagem naquele dia. isso acontece por que Musafir não fica recluso ao seu gabinete, se expões, viaja, vistoria pessoalmente as condições dos hospitais, é rígido ao cobrar os plantões médicos.

 

Se não falta dedicação, nem conhecimento de gestão, o que está faltando de fato para tirar desta situação a Saúde, no governo Marcelo Miranda?

 

A resposta só é uma: dinheiro.

 

Fecha parênteses.

 

Litucera se contorce para atender abaixo do custo, mas caminha para ser substituída

 

Na ponta de lança da crise, está a Litucera, empresa mais do que conhecida no Tocantins, em Palmas e no interior, pelos diversos serviços que presta ao Estado há anos.

 

É dela a responsabilidade que tem sido cobrada pela Sesau e pelo Ministério Público pelo atendimento nos hospitais em alimentação, limpeza e serviços de hotelaria(lavanderia, por exemplo). Para entender o problema é preciso saber que fornecedores na rede privada só continuam fornecendo (para a empresa) enquanto estão recebendo. Diferente de quem tem contrato público e se esforça para manter o serviço sob pena de ser responsabilizado.

 

Ao T1 Notícias, o secretário da Fazenda afirmou dia destes que fez um acordo com a empresa, e ao invés de R$ 10 milhões por mês, que é a média do serviço medido, estaria repassando mensalmente R$ 7, 5 milhões, num ganho para o Estado de R$ 2,5 milhões por mês. “O empresário prefere a certeza de que vai receber X, do que a expectativa de que vai receber mais, que nunca se concretiza”, me dizia ele.

 

O diretor da empresa contesta. Primeiro, apresentando planilhas em que os pagamentos que se vê só ultrapassaram a casa dos R$ 5 milhões, em dois meses, abril e junho, sendo que neste último, houve uma compensação pois no anterior o pagamento foi de pouco mais de R$ 3 milhões. “Como posso fazer um acordo de R$ 7,5 milhões se meu custo é de R$ 9 milhões por mês para atender a demanda, que não baixa?”, respondeu ao T1 o empresário Edison Silva.

 

A contradição de informações só reflete o limite extremo a que se chegou na relação comercial entre a empresa e o Estado, cuja corda estoura, claro, do lado do acompanhante e dos funcionários que lotam os hospitais. Estes, são sempre os primeiros a ter as refeições cortadas.

 

Não há que se negar a razão que assiste ao empresário (que atende o que o contrato o obriga a atender) dentro daquilo que consegue negociar com fornecedores, já que não recebe o mínimo suficiente para pagá-los.

 

Algumas posições que se vê, até mesmo no Ministério Público, dão a entender que a empresa deve funcionar como uma instituição de caridade. Ou que possa ser cobrada, sem que tenha como contrapartida o direito de receber pelos seus serviços.

 

Também estranha que o governo queira zerar o relógio e começar a dívida de novo, desta vez com outras empresas, que é o que demonstra desejar, ao lançar pregões para contratar novos fornecedores, já que não consegue resolver suas pendências com a empresa que já está atendendo. Soa deslealdade do tipo: “devo, não nego, troco o fornecedor e discuto na justiça essa dívida até onde der”…

 

Sem entrar no mérito do montante que a Litucera cobra do Estado referente a gestões passadas, o descritivo de faturas e os recebimentos lançados revela uma dívida de R$ 29 milhões, apenas desta gestão.

 

E é aí que do fim se volta ao começo. Por mais bem intencionados que sejam, de um lado o secretário Musafir, e de outro o representante da Litucera (que mantém os serviços sabe-se lá como) esta é uma equação que não fecha.

 

Está faltando mais que boa vontade ou gestão na Saúde do Tocantins.

 

Está faltando dinheiro. Ou então que manter a alimentação nos hospitais num nível aceitável para que quem está doente possa se recuperar minimamente, torne-se prioridade.

 

Com a palavra os que podem defender o cidadão no meio desse jogo de forças. Só quando cada um fizer a sua parte, a comida deixará de faltar nos hospitais do Tocantins.

 

Confira abaixo tabela apresentada pela Litucera:

 

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