Amastha se consolida na história dos erros e acertos de uma eleição

Resultado da eleição em Palmas marca derrota dos grupos tradicionais da política tocantinense e projeta Carlos Amastha para 2018, num embate marcado por erros e pelo desgaste do governo do Estado

Quando as urnas foram fechadas no final da tarde deste domingo, 2 de outubro, em Palmas, um capítulo importante não só na história política da cidade acabara de ser escrito, como também na história política do Tocantins.

 

O prefeito combatido pelo perfil polêmico, pela forma centralizadora de tomar decisões, pela revisão da Planta de Valores que impactou o IPTU da cidade, pelo monitoramento forte do trânsito que aumentou o número de multas e carteiras ameaçadas, pela implantação do estacionamento rotativo… foi reeleito. Com mais de 52% dos votos válidos na disputa Carlos Amastha tornou-se um dos personagens principais do cenário político estadual, com um pé em 2018.

 

O prefeito venceu o grupo que se uniu em torno da vice-governadora Cláudia Lelis - punida pelos erros de gestão do governo do Estado - e venceu todos os grandes caciques da política tocantinense, unidos em torno do ex-prefeito Raul Filho. Inclua-se aí dois ex-governadores, dois senadores, três deputados federais, deputados estaduais…

 

O que esta vitória tem a dizer, num cenário que há 60 dias era de céu fechado e francamente adverso ao prefeito reeleito?

 

Que novamente a máxima de que vence uma eleição quem erra menos, se confirmou.

 

Amastha realizou a campanha mais positiva, coerente com a gestão que fez. Mais mostrou realizações do que fez ataques a adversários, mesmo quando esteve ameaçado pela popularidade do seu antecessor. Enfrentou os pontos que geraram impopularidade sem fugir do assunto e ao final provou que a conta dos 70% de rejeição ao seu perfil e à sua gestão estava errada.

 

A oposição, por sua vez, foi incompetente. Na forma, nos argumentos e nas escolhas que fez.

 

O que levou gente tão experiente a embarcar na canoa furada que era tentar convencer a população de Palmas da segurança jurídica de uma candidatura “impindurada”* numa liminar? Além do clima de abandono que a cidade estava quando Raul a deixou, o próprio ex-prefeito finalizou mandato, que somava oito anos, envolvido em escândalos que renasceram, como era de se esperar.

 

O STJ, de fato, deu o tiro de misericórdia na pouca credibilidade que restava numa candidatura frágil do ponto de vista jurídico, fora outros problemas, e que seguia escorada apenas no estilo Raul de ser, e na promessa de que estava cercado de pessoas poderosas o suficiente para protegê-lo de ser alcançado pela justiça. Deu errado. O caminho fácil mostrou-se ingrato.

 

Já a vice-governadora, que tinha as condições legais para tornar-se uma alternativa viável, foi derrotada especialmente na reta final, quando viu dissolverem os 10 pontos que conquistou da convenção até o dia da eleição. Cláudia terminou a campanha com o que era dela no começo da disputa. Em dois anos, saiu do completo desconhecimento para ser vice e candidata a prefeita representando o espólio eleitoral do marido. Nos bastidores a queda na reta final é atribuída ao movimento forte feito por Raul e aliados junto aos seus principais candidatos a vereador, pelo voto útil. 

 

Da mesma forma que a vice pregava ser a única alternativa viável legalmente para vencer Amastha, o grupo de Raul pregava ser ele o único viável eleitoralmente para derrotar o prefeito. O que se soma ao estrago feito pelo ressentimento do funcionalismo público estadual em greve, e o drama da saúde agravado no HGP. Uma soma de fatores perversa.

 

Nas TV e nos palanques, erraram os dois ao resumir suas campanhas em ser anti-Amastha, enquanto a campanha do prefeito, habilmente conduzida pela Public e BR-153, realçava o quanto a cidade melhorou em todos os aspectos com a gestão feita nos últimos anos e inflava o orgulho de ser palmense. Em qual espelho o eleitor se enxergaria?

 

De resto, há que se destacar a participação positiva do deputado José Roberto (PT) no processo eleitoral, no aspecto de discussão da cidade, fazendo uma campanha leve. O prejuízo que teve seu partido em lançar candidatura própria foi ver fracassar o sonho de eleger vereadores.

 

Na Câmara de Palmas, tão combatida, reelegeram-se os mais experientes, com recursos para fazer campanha e com apoio político consolidado. Entre os novos, prevaleceu a mesma máxima: quem tinha mais apoio e estrutura chegou lá. Sem muitas surpresas.

 

Ao fim da menor e mais atípica campanha vivida na capital nos últimos 25 anos, não é exagero dizer que há uma ruptura de poder e enfraquecimento dos grupos tradicionais e conhecidos na política tocantinense.

 

Ainda é cedo para mensurar como ficará a divisão de poder entre os três grupos que agora dividem o poder político no Estado, mas uma coisa é certa: os reflexos desta eleição em Palmas virão a galope em 2018. 

 

Podem esperar.

Comentários (0)