Assembleia dá um passo atrás para dar outro à frente: cortar gastos

O que se viu ontem na Assembléia Legislativa, com a derrubada do auxílio-moradia, foi um esforço do Parlamento para se adequar rapidamente à pressão que veio das ruas...

 

Convencidos de que o auxílio era legal, muitos deputados chegaram à reunião que aconteceu na manhã da terça-feira, 2, com a suspensão da sessão, ainda reticentes quanto à extinção.

 

Nos bastidores, o que circula é que a pressão maior foi exercida sobre o grupo sobre o deputado Marcelo Lélis, que desencadeou a polêmica voltando o assunto, já decidido, para a pauta do debate. Seu requerimento em regime de urgência deveria obrigatoriamente ter a urgência votada ontem. O que forçava uma tomada de posição.

 

Irritados com a atitude do presidente do Partido Verde, vários de seus pares partiram para a tentativa de convencê-lo a retirar o requerimento. Lélis estava irredutível.

 

Dos 18 presentes, seis entraram na reunião dispostos a derrubar o auxílio. Os demais foram convencidos de que o momento é outro, e exige nova postura.

 

O resultado, materializado na leitura do projeto de resolução da Mesa Diretora, eliminou o requerimento dividindo o ônus e o bônus entre todos os presentes.

 

Na verdade, a Assembléia deu um passo atrás, para dar outro à frente. Tanto é outro momento, que nos próximos dias a Casa deve suspender qualquer tentativa de criação de novos auxílios. A exemplo do auxílio Saúde, defendido por alguns e requerido recentemente pela associação de ex-deputados estaduais.

 

Grupos vão se definindo

 

Justiça seja feita, há um grupo, ainda pequeno e minoritário na Casa, com pensamento de vanguarda. São os que usam dos benefícios todos que o cargo confere, mas já pensam que é preciso mudar rápido, para preservar os mandatos e a permanência na vida pública.

 

Para estes o sinal de alerta acendeu primeiro.  Na linha de frente estão, além do próprio Lélis, os deputados Sargento Aragão, Freire Jr. , Josi Nunes, José Geraldo, Luana Ribeiro e Solange Duailibe.

 

Também entre os que abriram mão de receber o benefício, figuraram Eli Borges e Wanderlei Barbosa.

 

Outro que merece destaque pela atitude de devolver os recursos que recebeu é o deputado de Paraíso, Osires Damaso, do Democratas.

 

Num momento de notável sinceridade, o deputado Carlão da Saneatins disse ontem ao repórter do T1 Notícias que o que acabou de azedar a situação foi a publicação pelo Jornal do Tocantins dos nomes de quem estava ou não recebendo o benefício.

 

Não é de se estranhar que as críticas tenham se voltado novamente para a imprensa, tratada sempre como a grande culpada pela má imagem que o Parlamento acaba criando com atitudes impensadas e rejeitadas pela comunidade.

 

O que vem pela frente

 

Lúcido como poucos, o deputado José Geraldo resumiu ontem em entrevista ao T1 Notícias o que pode vir pela frente. Ele acredita que o resumo da ópera das ruas é que o povo está cansado de sustentar a cara máquina do estado enquanto é mal atendido nos serviços básicos que este mesmo Estado tem que lhe oferecer.

 

A Assembléia já discute a possibilidade de cortar na carne e dar o exemplo, reduzindo custos. Neste sentido, muito válida a observação feita pelo deputado Damaso, de despesas desnecessárias que ele vê na Casa (troca de móveis, compra de TV’s). É preciso reavaliar tudo: do orçamento que é recebido, ao uso que é feito dele.

 

Sandoval tenta

 

À frente deste processo, quem tem que assumir a liderança e a tarefa de conduzir as mudanças é sem dúvida o presidente da Casa, Sandoval Cardoso(PSD).

 

Ele de fato tem demonstrado esforço nas questões práticas. Com o acesso que tem dentro do governo tem buscado levar além do discurso, soluções práticas para problemas da comunidade nas edições que foram feitas do Parlamento Popular. Foi assim no Bico do Papagaio e também em Gurupi.

 

Buscando religar-se com as ruas os deputados criaram a CPI da Telefonia e iniciaram coleta de assinaturas para apoiar destinação de mais recursos para a Saúde.

 

Agora, o desafio é outro: quebrar os antigos paradigmas. A começar por dentro. E fazer a mudança de imagem da Casa a partir do reencontro da identidade que ela deve obrigatoriamente ter com a sociedade.

 

Na verdade, o viés da pauta é que precisa mudar dentro da Assembléia. E com urgência.

(Com alteração às 15h50)

Comentários (0)