Colocando os pingos nos “is”: o problema são as práticas e não as pessoas

Vem crescendo nos últimos dias, principalmente nas redes sociais, a animosidade entre os que defendem grupos opostos...

Crédito: Da Web

É uma guerra comum em toda eleição, com um diferencial para a deste ano: o que normalmente fica insuportável lá por agosto – os ataques pessoais entre pessoas que estão fora disputa, mas defendem suas preferências com paixão – já vai cozinhando em fogo alto neste fim de março, véspera de abril, quando se esgota primeiro prazo capaz de interferir na decisão deste jogo: dia 5, data da desincompatibilização ou não do governador Siqueira Campos.

As pessoas vão gradualmente se transformando, quem era amigo, fica mais distante, esfria e eventualmente troca farpas com quem se sentava para beber nos cafés e nos bares. Quem se suportava por conveniência no jogo da convivência política vira inimigo declarado. E por aí vai.

No interior então, essa é uma disputa que toma contornos sangrentos. Literalmente. Há quem comece trocando socos e termine trocando tiros.

Nem é preciso dizer que depois que tudo passa, na cúpula, os adversários se abraçam mais cedo ou mais tarde. Vide o caso das eleições de Palmas, a mais recente que vivemos.

Quem imaginaria em tão pouco tempo depois, o prefeito eleito enfrentando a xenofobia e o argumento de ser danoso para a cidade, ter sido recebido no Palácio com banda, tapete vermelho e juras de amor (ou “parceria pelo bem da cidade”) pelos inimigos declarados meses antes?

E o desafeto sobrou para quem brigou muito na base.

 

Nem tão maus, nem tão bons

O que precisa acontecer com os militantes – e ainda não chegamos lá – é o amadurecimento que permita compreender que este tipo de postura não vale a pena. Toda campanha bato nesta tecla, para incentivar um pouco mais de frieza no debate. Mas campanha política é o tipo da coisa que desperta o lado sanguíneo da maioria das pessoas, pelo poder ou pela expectativa dele.

Uma boa maneira de tentar elevar o nível do debate é abandonar o pensamento maniqueísta que contaminou a política brasileira desde a ditadura: aquele que separa entre “bons” e “maus”.

Vamos e convenhamos: na política partidária não estamos convivendo com anjos, nem com demônios, embora muitas inteligências admiráveis sejam colocadas a serviço de fazer o mal, prejudicando pessoas em virtude de suas afinidades ou preferências políticas.

Basta dar uma olhada em volta e anotar as últimas perseguições políticas de que se tem noticia. Quanta gente boa mudou do Tocantins a cada mudança de comando no Palácio Araguaia, simplesmente porque nunca mais conseguiu trabalho?

A discriminação avança da estrutura de governo para as empresas privadas que se relacionam com o governo. E por aí vai...

O Tocantins ainda precisa evoluir muito, mas o que eu defendo é que se questionem as práticas e não as pessoas.

Pessoas erram, acertam, pesam a mão. Sobre isto, vale olhar o Facebook e o Twitter nos últimos dias. São generosas num dia e maquiavélicas no outro. Agem por impulso, por raiva, por amor, por gratidão, por orgulho ou por medo. Só o amadurecimento pessoal e político é que transformam agentes públicos em pessoas menos imprevisíveis, com um comportamento mais retilíneo, equilibrado ou até confiável.

O fato é que isso só chega mesmo com a idade, depois de alternadas experiências entre o poder e a planície. Depois de provar o sofrimento e aprender com ele. Aqui, como se deduz de simples observação, ela ainda demora para muitos.

 

Estereótipos na boca do povo

Quanto mais o tempo passa e o a eleição se aproxima, mais as pessoas comuns começam a se referir a políticos com adjetivos pejorativos. Uns forjados nas ruas pelas pessoas mais simples, do seu resumo particular das coisas e das pessoas. Foi lá na ponta que nasceu o “boi velho” e o “bezerro novo” na campanha de 2006.

Hoje ninguém mais se refere a Siqueira e a Marcelo assim. Paulo Milhão, Vissantinho, e tantos outros proliferam por aí.

Personalidades fortes acabam despertando amor e ódio no meio do povo. Sabendo disso, os marqueteiros e os próprios adversários acabam apelidando os oponentes como lhes convém, para realçar determinadas características. Não é difícil ouvir ou ler nas redes sociais a alcunha de “rainha da motosserra” para Kátia Abreu, ou o “Príncipe”, para Eduardo Siqueira.

O estereótipo é sempre uma caricatura de mau gosto. Uma tentativa de demonização. Só que a campanha acaba e as pessoas voltam a conviver e se esbarrar por aí – ganhando ou perdendo uma eleição – constrangidas com o que fizeram e disseram.

Há comportamentos e episódios que ficam marcados para sempre na memória e demoram para serem digeridos.

 

Exigência de uma falsa imparcialidade

Falo disso nessa quinta-feira para provocar reflexões e marcar de nossa parte uma posição: a de que nós resistiremos contra os que querem empurrar os veículos de comunicação para este jogo.

Costumo debater sobre imparcialidade nas palestras que faço por ai nas universidades e encontros para os quais sou convidada a falar sobre a prática jornalística. Não tenho a ingenuidade de pregar imparcialidade. Não conheço um veiculo imparcial no Brasil.

Todos tem sua leitura da realidade, baseada naquilo que dizem e veem. Quanto aos profissionais, as relações pessoais interferem e muito na relação entre políticos e imprensa. Mente quem disser o contrário. Num estado tão grande mas de um convivo tão próximo entre políticos e jornalistas, é impossível não formar conceitos sobre eles e no embate diário da noticia criar proximidade com fontes, amizades e até inimizades.

O que nos resta é o exercício do equilíbrio e o compromisso de ser honesto com o leitor.

No caminho de uma cobertura política – movida pela rapidez, pela tentativa de antecipar um fato ou pelo medo do furo – podem acontecer erros de informação, ou de interpretação, que podem e devem ser corrigidos. Mas ninguém está no direito de julgar ou rotular ninguém com base em um dia, uma atitude, um artigo, uma matéria, uma palavra. Quem tem moral para isso? Quem, na política ou na imprensa, com anos de estrada, pode dizer que nunca cometeu um erro? Difícil...

Aqui não rotularemos políticos, nem faremos julgamentos pessoais de ninguém, vamos falar das práticas, dos atos, do que é bom e do que é danoso à sociedade. Da obra e do desvio de recurso. Da licitação ou da sua dispensa. Enfim: do que interessa para que o leitor/eleitor faça seu próprio julgamento.

É preciso avançar das velhas práticas: na campanha, na política e entre jornalistas que insistem em se digladiar para defender seus afins. Ou seus negócios.

Que venha um novo tempo no Tocantins: de discussões mais arejadas e menos personalistas.

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