Com alunos no centro da crise, Unitins merece enfrentamento de seus problemas

Cursos que a Unitins não tinha, estrutura que a universidade não tem, professores que não pode contratar sem concurso. Um balaio de problemas que o governo tem a resolver sem penalizar alunos...

É curiosa a situação vivida pela Unitins neste começo de 2015, cuja ponta do iceberg emergiu na sessão de ontem da Assembléia Legislativa, quando os deputados entraram no assunto, cada um fazendo seu proselitismo em torno do tema, tendo a situação dos alunos cujos cursos foram encampados de faculdades particulares como palco e alguns deles como platéia.

Faz tempo que não se assiste a um movimento legítimo, nascido de movimento estudantil, sindical ou popular no Tocantins. O que tem se visto são arremedos nos últimos anos, sempre movidos por forças político partidárias, ou agentes políticos interessados em manter nichos de poder. Mas vamos adiante!

Os alunos que até agora estão sem aulas são os que até ano passado frequentavam instituições particulares – umas menos estruturadas que outras – e passaram aos quadros da Unitins após suas faculdades serem encampadas.

Um dos maiores defensores no Bico do Papagaio, de todo este processo de encampação, o deputado estadual Amélio Cayres, saiu em defesa do que foi feito: “ Que bom seria se todas as obras eleitoreiras fossem para dar acesso à educação para mais de 1200 jovens. Quando se tem a iniciativa de criar, aí vem os parlamentares e dizem que a obra é eleitoreira”.

Cayres, assim o prefeito de Axixá, Auri Wulange são citados textualmente num documento de uma das faculdades encampadas, em que a direção da mesma protesta contra o ato, aponta interesse político e manifesta-se contrária a entregar seus alunos.

Tudo isto, no entanto, são águas passadas. O processo de encampação foi feito, somando nova demanda às que a universidade já tinha de pessoal.

Professores, concurso, estrutura física

Ouvi uma professora da turma dos antigos da Unitins ainda no ano passado, quando tramitava na Casa aquela lei que modificava a natureza da universidade entre outras coisas mais. Em sua fala a preocupação com o problema da disponibilização de professores para cursos que a universidade não tinha em sua grade, já era evidente.

E ela ironizava: “de onde virão professores para o curso de direito no Bico? Fica mais fácil para o Estado irem de avião toda semana”.

Ao que parece, a tentativa de solucionar um dos problemas que geravam a preocupação de deputados – os frequentes pedidos de ajuda das famílias por dinheiro para pagar mensalidades particulares - terminou transferindo a responsabilidade para o Estado. Só que a um custo bem mais alto.

Criar e manter novas estruturas físicas, contratar professores via concurso (já que um TAC de 2005 impede outra forma de contratação) são as duas primeiras.

Sobre o concurso, em torno do qual um grupo de alunos da universidade, professores e Ministério Público Estadual levantaram dúvidas sobre a lisura, parece que ainda há outro problema. Desta vez de natureza trabalhista e que impediria a chamada dos aprovados.

Aporte de recursos

Ontem o governo se defendeu, através do seu líder na Casa, deputado Paulo Mourão, demonstrando um incremento no orçamento de mais de R$ 20 milhões, em cima dos recursos que a universidade teve ano passado. E explicou que precisa de tempo para dar solução aos problemas que impedem o início das aulas.

O próprio Mourão, no entanto, entende que vai ser preciso suplementar mais, algo na casa de R$ 16 milhões.

Neste sentido, um dos oradores mais inspirados do dia, o deputado Eduardo Siqueira, deu o caminho: colocou-se à disposição para ajudar com suas emendas, a somar o dinheiro que falta.

Entre tantas situações-problema herdadas da gestão passada, a que foi criada na Unitins se diferencia por trazer à pauta a necessidade que alunos tocantinenses têm de concluir cursos superiores.

Só não dá para esquecer que precisam ser cursos efetivamente de qualidade, que os formem para o mercado, mas também para uma leitura crítica da sociedade em que vivem e de seu papel nela.

Com os alunos, o governo precisará usar mais do que nunca a régua da justiça, assumindo sua responsabilidade e proporcionando-lhes a oportunidade da formação ampla.

Agindo assim a universidade lhes deixará de herança a consciência crítica que impede a todos e a qualquer um de se tornar massa de manobra.

Comentários (0)