Em Filadélfia, uma das cidades do Tocantins mais impactadas pela Usina Hidrelétrica de Estreito – UHE, o impasse entre os moradores que lutam pela indenização de suas casas e o Ceste, empresa responsável pela construção da usina, ainda não tem data para terminar. Após a inauguração da Usina, segundo informações da comunidade local, o "caos se instalou na cidade", pois o lençol freático do Rio Tocantins subiu e alagou as casas.
O Site Roberta Tum visitou a cidade de Filadélfia neste final de semana e acompanhou o drama das famílias que convivem com o mal cheiro, fossas estouradas no quintal das casas, rachaduras nas paredes, doenças como dengue e a incerteza quanto ao pagamento das indenizações de suas posses.
Com sua casa localizada há pouco mais de 100 metros das margens do Rio Tocantins, Érico Reis Vieira, informou que não sabe mais o que fazer com tantos transtornos. “A fossa da nossa casa estourou três vezes, o quintal alaga todas vezes que chove por que a água não tem como descer”. O lençol freático subiu, basta cavar 30 centímetro que a água sobe e inunda o quintal”, informou.
Segundo informações de Vieira, o problema maior é a falta de informações por parte do Ceste que até o momento não se posicionou sobre os problemas enfrentados pela comunidade local. “Até agora não sabemos como vai ficar nossa situação, pois o Ceste tem feito pouco caso de nós. Nunca falou com a gente sobre o pagamento das indenizações, estamos todos preocupados, pois a situação é insuportável”, desabafou.
Vistoria e indenização
A vice-presidente da Associação dos Atingidos pela Usina de Estreito - AABE, de Filadélfia, Rosângela Maria Aires dos Santos, informou que todas as providências cabíveis foram tomadas, mas até agora o Ceste não deu posicionamento algum que tranquilizasse a comunidade. “Os moradores estão assustados, sobretudo os mais velhos, pois o Ceste não tem informado a população sobre os problemas e nem sobre quais soluções dará para o caso. O Ceste veio aqui, fez duas vistorias nas casas e colocou o povo para assinar um documento que ninguém sabe bem do que se trata, não falou da indenização e nem quando as famílias serão removidas das casas que estão em situação de risco”, afirmou.
Outra informação passada pela vice-presidente, é que todas as famílias que moram na parte baixa da cidade terão que ser removidas, mas muitas delas não estão incluídas no cadastro de indenização. “No mês de fevereiro deste ano, foram feitas duas vistorias nas casas, uma no dia 8 e outra no dia 21, mas até agora a única informação que o Ceste nos passou foi que ninguém podia fazer reparos nas casas e nem mexer nos quintais, mas sobre o resultado dessa vistoria e quem vai receber a indenização não temos informações nenhuma”, declarou.
Orientação do Ibama
A vice-presidente informou também que o Ibama esteve na cidade na semana passada, com representantes do Ceste, fizeram uma reunião para orientar os moradores, mas segundo as informações, a reunião foi pouco esclarecedora. “Nem o Ibama e nem o Ceste mobilizou a comunidade para participar da reunião, ficamos sabendo por acaso que eles estavam aqui”. Eles visitaram algumas casas para verificar as fossas, as arvores caídas e deram orientações sobre o cadastro, somente isso. Nós precisamos saber é quando as famílias serão indenizadas e transferidas para outro local por que desse jeito não podemos ficar”, informou.
Órgãos públicos também serão removidos
Além dos danos causados aos moradores, pelas casas rachadas, problemas de saúde e o mau cheiro,prédios importantes como o da prefeitura, da Câmara Municipal e até a principal igreja da cidade, construída há mais de meio século, serão removidos. A unidade de Saúde do município já foi removida devido as infiltrações e rachaduras.
O secretário de Administração, Charlles Araújo, confirmou a transferência do posto de saúde e informou que todos os esforços estão sendo concentrados pela prefeitura para ajudar as famílias atingidas. “Solicitamos ao Ceste que faça a remoção das famílias da parte baixa da cidade o mais rápido possível, pois reconhecemos os riscos que elas correm. Mas enquanto isso não acontecer, a equipe de saúde dará o apoio necessário, mas creio que isso vai acontecer em breve, até por que o Ceste já começou a medir as casas, já indenizou os inquilinos e como você viu, muitas famílias já foram autorizadas a sair de suas casas”, informou.
Agilidade no julgamento dos processos
Sobre a posição da prefeitura no que diz respeito ao atraso do pagamento das indenizações dos atingidos, o secretário informou que o prefeito da cidade tem procurado ajuda. “Estamos correndo atrás, tanto é que o prefeito Edenilson, já se reuniu com a presidente do Tribunal de Justiça, Jaqueline Adorno, e pediu que fosse encaminhado mais um juiz à comarca de Filadélfia para ajudar no julgamento dos processos. Cerca de 2 mil processos, segundo informações da AABE, tramitam na comarca do município requerendo o pagamento de indenizações por parte do Ceste", informou.
O outro lado
A equipe do Site RT solicitou resposta ao Ceste sobre os questionamentos apontados pelos moradores, mas não obteve retorno. Caso a empresa queira se manifestar sobre as reclamações das famílias de Filadélfia o espaço continua aberto.
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