Crônica da saudade pelo amigo que partiu: até qualquer dia, Salomão!

O Tocantins ficou mais pobre na tarde desta quarta-feira, 25 de setembro. Data em que políticos, jornalistas e leitores perdemos a figura alegre e perspicaz de Salomão Wenceslau

Salomão Wenceslau Rodrigues
Descrição: Salomão Wenceslau Rodrigues Crédito: Arquivo

 

Eu costumava brincar com ele: “você tem nome de sábio”. E tinha. Salomão.

 

A sabedoria do nosso Salomão sertanejo ao conduzir uma vida profissional em que trafegava da crônica política até a crônica esportiva está registrada nas inúmeras mensagens que continuam a chegar, enquanto escrevo. São políticos, jornalistas, autoridades constituídas. Todos enaltecendo sua capacidade profissional, sua sensibilidade e perspicácia.

 

Não vou repetí-los. Minha dor pela perda do amigo é uma coisa pessoal, egoísta, confesso. É a dor da perda de um pedaço de mim mesma, da minha história de vida e profissão.

 

Com Salomão trabalhei, lá em Goiânia, no rádio, na primeira campanha eleitoral do Tocantins. Campanha de Siqueira contra Freire pai. E eleição de Eduardo Siqueira para a Câmara dos Deputados. Eu fazia textos e gravava áudios. Longe ainda de imaginar que um dia viria parar aqui, nos rincões de um Tocantins recém criado.

 

Foi nos idos do final da década de 1980, no Diário da Manhã, que nos conhecemos. Ele me irritava uma vez por semana. Especialmente aos sábados quando desaparecia nas tardes de fechamento. Ia almoçar com o Gilson Cavalcante e não voltava mais. Os dois juntos respondiam pelas páginas de esporte e economia. E sempre atrasavam o fechamento do jornal. Eu na local e o Linconl na política, esperando...

 

Mas não era só isso. Era divertido também como companheiro de rodadas após o fechamento durante a semana (sempre depois das 11h30 da noite). Ele, eu, Linconl, Britz Lopes, Deusimar Barreto, João Bosco Bittencourt, Carla Monteiro, Margareth... Varávamos a noite pelos bares da Campininha, sempre com alguma coisa a mais para conversar. Todos muitos jovens, naquela idade em que ninguém quer dormir.

 

Depois nos reencontramos aqui. E veio a convivência num Tocantins tumultuado. Várias vezes me convidou para trabalhar com ele. E eu, teimosa em trilhar meu próprio caminho, fui fazer meu jornal, depois meu blog e finalmente meu portal.

 

Uma noite, há 7 anos, me chamou para conversar na Toscana. Eu tinha terminado de fechar meu Alô Galera e estava trabalhando como assessora de comunicação numa secretaria de governo. Preocupado comigo, me encheu de conselhos que eu nem pedia. Conselhos sobre como sobreviver no jornalismo político e como empresa. Coisa que ele soube fazer bem num equilibrismo de dar inveja nas últimas décadas.

 

“Você não pode sair batendo em todo mundo de uma vez. Se não fica todo mundo contra você. Critica um aqui hoje, elogia outro amanhã”, me dizia. E eu teimando em não aprender.

 

Os anos se passaram, e nós sempre nos encontrando por aí.

 

Coisa de três meses atrás ele me chamou para um café na sua casa, ao lado do amigo comum, Nego Nen. Queria conversar sobre política e jornalismo. Estava preocupado com a situação dos veículos, a fragilidade, o mercado ruim, principalmente com a ausência do governo, patrocinador tradicional que parou de anunciar. Fui lá. Sentado à mesa do café me contou a história da reforma da sua casa, patrimônio que conseguiu deixar para a esposa e o filho. “Aqui começou simples, mas aí a mulher chama o arquiteto e começa um tal de “cê merece”. Aí vai trocando uma porta, porque ‘cê merece’, depois tem que trocar todas, e por aí vai”, sorria, com aquele jeito matreiro, sacudindo o corpo e ficando vermelho.

 

Semanas depois me ligou chamando para um café. Queria que eu fizesse as pazes com o prefeito Carlos Amastha. “Chega, você já criticou demais. Ele vai ser prefeito mais três anos, precisa de ajuda”, dizia. Respondi que não tinha nada de pessoal contra o prefeito. Como de fato não tenho. E acabamos voltando a conversar e retomando uma relação profissional respeitosa.

 

Hoje quando recebi a notícia da confirmação de sua morte, não contive as lágrimas, não minto.

 

Salomão não era daqueles amigos íntimos de ir comer lá em casa. Ficavamos meses sem nos falar pessoalmente. Mas foram 26 anos de amizade sólida. Daquelas que permite falar qualquer coisa, puxar a orelha, corrigir, aconselhar.

 

Tudo que ele fez profissionalmente e suas contribuições na vida e na carreira de políticos deste Estado - aos quais ouviu e orientou - ficará eternamente gravado na memória dos que ainda estão por aqui, sob este sol e sobre este chão tocantinense.

 

Amanhã, quando for enterrado, Salomão levará consigo os livros e artigos que não escreveu, as histórias que não contou e muito do que aprendeu. Levará na história dele, uma parte da minha e da de muitos. Por isso estou triste.

 

Uma tristeza egoísta já que sei - daquilo tudo que aprendi na minha vida espiritual - que ele agora está livre do corpo que o aprisionava. Partiu num rabo de foguete. Rápido, sem muito sofrimento. E creio que pelo modo como viveu, partiu sem grandes arrependimentos.

 

Salomão viveu como um Rei. Bebeu, comeu, sorriu, amou, se divertiu. E cravou com a pena da perspicácia seu nome na história do Tocantins.

 

Só nos resta dizer: Vá em Paz,  companheiro. A gente fica chorando por que é fraco mesmo. Mas um dia ainda haveremos de sorrir de novo de todas estas coisas.

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