Depois que a multidão sacudiu a praça...

Palmas nunca foi palco de uma manifestação tão grande quanto a que tomou conta da avenida JK no final da tarde de ontem, quinta-feira, 20...

Garotada no meio da multidão: verde amarelo Brasil
Descrição: Garotada no meio da multidão: verde amarelo Brasil Crédito: Lourenço Bonifácio

 

É verdade que na organização, o movimento não foi tão espontâneo assim. As manifestações que tomaram as ruas de diversas capitais do País no mesmo dia tiveram por trás de si uma articulação do comando do movimento em São Paulo com os grupos que demonstraram interesses afins nos Estados.

 

É verdade que houveram grupos ligados a partidos nas reuniões da "comissão organizadora”. E presença dos partidos com suas juventudes articuladas por agentes que estão na folha de pagamento do serviço público e foram infiltrados nas reuniões prévias. Mesmo sem bandeiras.

 

Disputa pela liderança do movimento? Houve. Disputa pela palavra no microfone do carro de som que comandou a festa? Também. Tanto, que foi desligado antes do final.

 

E mais nítido do que nunca: um forte movimento anti-governo do Estado preponderou durante toda a marcha. Ainda que o transporte público - carro chefe de todos os protestos - seja atribuição do gestor público municipal. Este, com 6 meses de mandato, estava bem longe da praça e foi poupado como alvo principal das críticas em Palmas. Não se viram cartazes contra o prefeito ou contra a prefeitura.

 

Na porta do novíssimo prédio do dono da Miracema na JK – onde por ironia do destino foi parar a sede da Prefeitura de Palmas – um grupo pequeno destoava dos demais no escurecer da quinta-feira, gritando: “Estudante, na rua, prefeito a culpa é sua”. Gritos sufocados quase imediatamente pelo grupo majoritário: “bora pra Seturb!” E lá se foi a multidão.

 

Pano rápido.

 

Embora tudo que foi pontuado aí atrás seja a mais absoluta verdade, há uma realidade muito mais estrondosa e inegável a ser vista: os milhares de jovens, adolescentes, e adultos barbados que foram para a rua com a espontânea e uma vontade de protestar impossível de ser manipulada. Eles foram a maioria.

 

Protestar contra o grupo que comanda o transporte e as tarifas em Palmas. Contra o Marco Feliciano. Contra o Renan Calheiros. Contra o preço da passagem. Contra a corrupção. Contra a PEC 37 e o péssimo atendimento à Saúde. Contra a falta de segurança. Mesmo que alguns – bem poucos, uma minoria irrelevante -  tenham tentado sair do tom com sapatos atirados no Palácio Araguaia e com pedras de estilingue em vidro de ônibus.

 

E evidente: saltou aos olhos as palavras de ordem dirigidas ao governador: “Siqueira/ pode esperar/ A sua hora vai che-gar”. E as outras, impublicáveis, que teriam sido objeto até de um contato por telefone na noite de ontem por parte do secretario de Relações Institucionais do Estado, ao Secretário de Relações Institucionais do Município.

Eduardo teria reclamado a Andrino da atitude da juventude pepista. Esta, que respondia palavras de ordem gritadas do caminhão pelo ex-candidato a vereador Paulinho, do PP.

 

Acredito que as palavras ofensivas ao governador, dificilmente teriam sido ditadas pelo Paço. Mas o mal estar foi grande por terem partido de gente muito ligada a assessoria do prefeito.

 

Todos os detalhes, no entanto -  assim como os atos isolados -  foram tragados pela beleza do gesto da multidão.

 

O gesto de sair de casa, desligar o computador, escolher uma fantasia, pintar a cara, escrever um cartaz a pincel numa cartolina e ir para a rua extravasar.

 

Sim, o que o povo fez ontem em Palmas, de forma majoritariamente pacífica e bonita, foi um desabafo. Um protesto. Em nível bem mais elevado do que discursos que vez ou outra são gravados nos anais da Assembléia. Ou gritados na tribuna da Câmara.

 

O povo, de fato, foi quem se comandou na marcha que uma dúzia de provocadores não conseguiram comandar. Mais anárquico que qualquer outra coisa, mas espontâneo do que se poderá programar em reuniões de gabinetes, o movimento tomou a rua e mostrou -  na minha opinião -  não um gigante adormecido que despertou. Mas uma geração em busca de uma bandeira. Milhares de gargantas engasgadas. E com muita vontade de gritar.

 

É certo que alguns movimentos vão tentar arrastar o momento e replicar outros protestos. É de se esperar também que outros, tentem se apoderar do movimento e do discurso das massas.

 

Mas o que assistimos ontem foi algo com força e poder próprios. Foi o povo, de novo na praça. Balançando as estruturas de tudo que  vai mal. Se quem comanda cidades, Estados e o País não souber ler a mensagem que ecoou livre pelos ventos de norte a sul do Brasil, vai perder o bonde da história.

 

Uma mensagem que ficou nítida e clara depois que a multidão sacudiu a praça.

(Atualizada com correção às 20h18)

Comentários (0)