Desencanto na praça: o que é isso companheiros?

Eles eram poucos: cerca de 15 ontem a noite, quando quebrou-se na praça o encanto...

Vítor e Bruno ontem a noite em Palmas: sangue
Descrição: Vítor e Bruno ontem a noite em Palmas: sangue Crédito: Facebook

 

A cassetete, membros do Ocupa Palmas foram contidos na sua indignação quando o motorista do caminhão da Prefeitura de Palmas, com suas barracas, mochilas e objetos recebeu ordem para retirar-se da 204 Sul, antiga Arse 21 levando tudo.

 

Antes da desocupação, o ex-presidente do DCE da UFT, Dalat, assessor especial de Tiago Andrino, conversava com integrantes do movimento na Praça do Bosque.

 

No meio da confusão, já na 204 Sul, Paulinho do Movimento foi filmado. Na frente da desocupação, durante todo o tempo um assessor da Procuradoria, João Paulo. Os meninos se dividem entre os que suspeitam de um e de outro sobre a origem da ordem para que o caminhão saísse com os bens dos integrantes do Ocupa.

 

Tentei falar mais cedo com Tiago Andrino. Entender essa loucura que faz os jovens de ontem comandarem a guarda contra os jovens de hoje. Não consegui. A Cidade de Palmas enviou uma nota quilométrica, cheia de argumentos que não justificam as cenas postadas no Facebook.

 

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O sangue que jorrou das cabeças de Bruno e Vítor, dois integrantes do Movimento Ocupa Palmas – na foto que ilustra este artigo -  são a prova de que não há combinação, não há acordo secreto. Um suposto jogo de cena para dar  impulso ao movimento, projetando depois a solução milagrosa como mais um ato de benevolência do poder público municipal.

 

O que aconteceu ontem não tem script. Foi um estrago. Um misto de ignorância e estupidez que fez pessoas no seu livre direito de se manifestar pacificamente, serem agredidas pelo poder público.

 

Eles pagaram no corpo o custo de um movimento que já vai para três meses, nas ruas de Palmas.

 

Fragmentos do discurso

 

“A rua é do povo”, me disse Vítor, nesta manhã, já com um curativo na cabeça. Cicatriz que exibe com orgulho: "Covardes! Eles não vão quebrar nossa vontade de lutar". Sujo, fumando um cigarro de palha, ele tem os olhos iluminados por aquela espécie de febre que acomete a muitos na juventude. A estranha crença de que pode mudar o mundo. Quem já não teve? quem não se lembra?

 

“A praça é do povo. Conhecemos a lei e a obedecemos mas não consideramos direito”. Palavras de ordem escritas à mão, numa agenda e que Vítor leu de frente aos homens de farda azul da Guarda Metropolitana. Uma força criada para defender o patrimônio público, mas que de vez em quando se equivoca e se arvora do poder de polícia.

 

Já havia acontecido uma cena parecida com esta na desocupação do Paço Municipal durante aquelas manifestações de rua. Mas lá era um prédio público.

 

E aqui? qual era o patrimônio público que a guarda estava protegendo quando impediu  Vitor, Tayane, Fred, Arthur, Bruno, Jean, Narúbia e tantos outros de se aproximar do caminhão onde estavam suas coisas?

 

Nenhum.

 

Não estou discutindo legalidade. Ordem judicial de retirada. Nada disto. Apenas o uso da violência. A enganação. A manipulação , ou tentativa de utilizar o movimento para referendar atos de gestão. A política de fachada. A falsa inocência nos discursos dos que se arvoram representantes da juventude no poder público. Tudo uma grande, big, enorme mentira.

 

Se havia confiança nas palavras de Andrino, que comprometeu-se com o Ocupa Palmas a não retirá-los de lá, esvaiu-se.

 

Se havia encanto entre militantes de ontem, como Paulinho do Movimento, e os de hoje, acampados na praça, quebrou-se. Assisti a um dos manifestantes enviando uma SMS para Paulinho: "Vacilo, hein?"E outra menina dizia: "Ele vinha aqui se colocava à disposição da gente, dizia pra gente contar com eles para o que precisasse". Ela não tem mais que um metro e meio, e não deve pesar mais que 50 quilos. Mas é de luta. Está no vídeo brigando para pegar o que é seu.

 

O que eles querem é factível? Não sei. Mas sei que não há vitória sem luta e que só é possível avançar quando gente se dispõe a lutar pelos que não podem.Guardei essa lição do movimento estudantil.

 

O Ocupa Palmas deixou claro ontem para a imprensa suas pautas: redução da tarifa, passe livre estudantil, democratização da participação no Conselho. Em linhas gerais é isto.

 

O que aconteceu nesta terça, entre a liminar recebida pelo procurador geral do município, Públio Borges e a imagem dos guardas na praça foi uma sucessão de erros, que terminou em sangue.

 

Este que escorreu das cabeças feridas dos estudantes, está até hoje marcado nos tênis e camisetas. Mas principalmente nas mãos dos jovens de ontem, que se esqueceram quem foram. Que vergonha, moçada dos terninhos que habita o prédio da JK!

 

A pergunta que não quer calar, ninguém responde: onde estão os objetos pessoais dos jovens que continuam na praça? Quando vão devolver?

 

Se há movimento social e estudantil legítimo hoje em Palmas, eles também deveriam estar sentados à sombra na grama, enquanto o sol sobe até atingir os causticantes 45o.  O que aconteceu alí, pode parecer pequeno e pode ter atingido na pele, um pequeno grupo. Mas é grande no significado.

 

Violência, para quê?

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