Eleitores decidem manter estado do Pará com território original: Santarém decreta luto oficial

Durante plebiscito ocorrido neste domingo, os eleitores paraenses decidiram manter o estado do Pará com o território original. Contudo, ao que tudo indica, o sentimento separatista nas regiões de Tapajós e Carajás não acabou junto com a votação. Após...

Os eleitores paraenses decidiram, em plebiscito realizado neste domingo, 11, manter o estado do Pará com o território original, segundo informou às 20h08 o presidente do Tribunal Regional Eleitoral, Ricardo Nunes. A confirmação do resultado foi dada com 78% de urnas apuradas, duas horas depois do término da votação.

A apuração foi concluída por volta de 1h20 desta segunda. Com 100% das urnas apuradas, o resultado indicou que 66,6% escolheram "não" para a criação do estado de Carajás e 66,08% rejeitaram a criação do estado de Tapajós. A abstenção foi 25,71%.

Do total apurado em relação a Carajás, pouco mais de 1% era de votos nulos e 0,41% de brancos. Em relação a Tapajós, 1% foi de votos nulos e 0,49% de votos.

Sentimento separatista

O plebiscito acabou com a vitória estrondosa do “não”, rejeitando a divisão do Pará, mas o sentimento separatista nas regiões de Tapajós e Carajás não acabou junto com a votação (novos projetos de criação dos Estados vão surgir). Vitoriosos e perdedores sabem disso. Após a derrota, Santarém decretou luto oficial nesta segunda-feira (12). Em Carajás, o autor do projeto de lei que deu origem ao plebiscito diz que fará uma nova proposta divisionista em 2012.

“Belém tem que ser agora muito cuidadosa na relação com Carajás especialmente, porque ela se identifica mais com Tocantins ou Goiás. O governo paraense vai ter que se descentralizar. Isso é evidente”, analisa Roberto Corrêa, professor de ciência política da UFPA (Universidade Federal do Pará).

A mesma opinião é emitida por uma das mais fortes lideranças do separatismo, a prefeita de Santarém, Maria do Carmo, que já foi candidata petista ao governo do Pará.

“Eu não queria estar agora na pele do governador [Simão Jatene, PSDB]. Ele pode querer colocar Carajás e Tapajós de castigo, mas é hora de um chamamento, de um acolhimento da voz emancipatória que essas regiões apontaram. Ele vai ter de descentralizar o governo de qualquer jeito”, afirma a prefeita da principal cidade à beira do rio Tapajós.

O deputado federal Giovanni Queiroz (PDT), o autor do projeto de lei que deu origem ao plebiscito, sobe o tom contra os políticos de Belém, em especial ao governador, e acredita que a derrota causará um "trauma" na população. "

"O Pará já estava dividido em três regiões. Mas hoje politicamente está absolutamente rachado. O governador [Simão Jatene, PSDB], que era apenas para ser um magistrado, entrou de cabeça na campanha. Ele não tem mais como ser acompanhado por ninguém aqui no sul. Ele vá procurar na terra dele, porque aqui ele não terá mais", atacou.

Questionado de como iriam ficar as relações institucionais e dos políticos de Tapajós e Carajás pós-plebiscito, Queiroz voltou a atacar o governo do Estado e foi ainda mais incisivo nas críticas.

"Vai ficar coisa nenhuma. Aqui é radicalização. O governo só sobrevive no sul porque os prefeitos mantém a gasolina para as delegacias, ajudam na Fazenda, na Justiça. Quem mantém o Estado aqui é o prefeito. O governo não repassa há três meses o dinheiro aos municípios. Isso acontece porque é governado por esses que aí estão", afirmou.

"Sim" vence em cidades que seriam capitais

Marabá e Santarém tiveram mais 90% de votos a favor da divisão do Pará para criação dos estados de Tapajós e Carajás. A maioria dos eleitores do estado rejeitaram a proposta. As duas cidades seriam capitais das novas unidades da federação se o resultado do plebiscito tivesse permitido a mudança.

Perto das 20h20, em Santarém, com 100% das urnas apuradas, 97,78% dos votos eram a favor da criação de Carajás, e 2,22% contra. Sobre a criação de Tapajós, 98,63% eram a favor e 1,37%, contra.

Em Marabá, com 70,57% das urnas apuradas, 93,26% dos votos eram a favor da criação de Carajás e 6,74%, contra. Sobre Tapajós, 92,93% era a favor da criação e 7,07%, contra.

A posição da maioria do eleitorado na capital do estado do Pará, no entanto, era pela manutenção do território. Em Belém, com 99,96% das urnas apuradas, 93,88% dos votos eram contra a criação do estado de Tapajós e 6,12% a favor. Em relação à criação do estado de Carajás, 94,87% era contra e 5,13% a favor.

Com a decisão das urnas, o trâmite para a divisão do estado se encerrou junto com o plebiscito. Dessa forma, a Assembleia Legislativa paraense e o Congresso Nacional não precisarão analisar a divisão do território e criação dos novos estados.

"Construir juntos"

O governador do Pará, Simão Jatene (PSDB) afirmou, após a divulgação de que os paraenses rejeitaram a divisão do estado, que um dos "grandes desafios" a partir de agora será tratar dos ressentimentos que surgiram durante a campanha pró e contra o desmembramento.

Perguntado sobre a "animosidade" em razão das campanhas, ele disse: “Esse talvez seja um dos grandes desafios. Acho que deve ser uma questão e objeto de preocupação. Eu me preocupava com o dia do plebiscito, mas me preocupava ainda mais com o dia seguinte”, afirmou.(Da Agência de Notícias)

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