Essa Palmas fala de nós, que a amamos tanto…

Palmas completa 27 anos nesta sexta-feira, 20 de maio. Nas redes sociais e por toda parte o clima é de imenso amor pela cidade que nos acolheu e que ajudamos a construir. Aqui cada um faz sua história

Já faziam mais de cinco meses que Arlindo, o Gaúcho que muita gente achava que era fugitivo da Justiça, não via sua família. Tinha deixado o Sul e se embrenhado no Norte de Goiás fazendo pequenos serviços de fazenda, mas era mais que um peão. Tinha habilidades. Muitas.

 

O trabalho em São Paulo e em Minas, como torneiro mecânico e outros, tinha lhe ensinado coisas. Como improvisar conserto para revólver quebrado. Ou fabricar peça para carro estragado na fazenda, longe demais de cidade grande ou de uma auto peça. 

 

Naquele ano, tinha colhido mais de 12 mil sacas de arroz para o “patrão”. Motivo de sobra para comemorar. 

 

“Gaúcho, mata um carneiro que amanhã nós vamos fazer um churrasco. Depois vai buscar sua mulher. Vou em Taquaralto comprar umas cervejas”- foi a ordem que recebeu. Saiu de trator.

 

No caminho, estrada estreita, teve que parar para dar passagem a um Gol, quadrado, branco, com duas pessoas dentro. Deu ré, cortou o barranco para subir e respondeu ao cumprimento do homem ao volante tocando o chapéu. Conhecia todos os carros da região. Nunca tinha visto aquele. Também não conhecia ninguém que ia naquele carro. 

 

Quando chegou na vila, depois de rodar 30 km desde a sede já era noitinha e o movimento estava estranho. Umas seis pessoas de fora estavam por lá, fazendo perguntas.

 

Na Vila do Canela, então com apenas 14 casas, o que se ouvia era que no dia seguinte, o governador viria por ali. Um acontecimento. Ninguém tinha idéia do por quê.

 

Dos amigos, Arlindo ouviu o conselho: esquecer o churrasco e não retornar para a fazenda.

 

E de fato, o dia começou cedo. Movimentado.

 

Um Ônibus veio na frente, seguido de uns 30 carros atrás. A vila foi invadida pela comitiva que acompanhava o governador. Para o Gaúcho e os outros, parecia um sonho. Nunca tinha sido visto um movimento daqueles por lá. Dias febris…

 

Guardada no bolso, a pedra, uma perita enorme - ouro de tolo - talhada na natureza, de brilho intenso. Um verdadeiro tesouro que tinha erncontrado,  pela singularidade, e que ele escondia com cuidado… 

 

Ela tinha o formato do Tocantins.

 

Quando Siqueira Campos desceu, ficou alí por perto, esperando o momento de lhe presentear com a pedra. Sentiu vontade apenas. Era um presente especial, para um homem especial.

 

Naquele dia, acontecia a primeira reunião de muitas que se seguiram, até a implantação da nova Capital.

 

Quem diria, Gaúcho, que a fazenda ia virar cidade. Palmas. Capital do Tocantins.

 

Arlindo, artista de muitas fomas, conheceu o governador, o presenteou e depois disso, bem depois, com o passar dos dias, recebeu a incumbência de talhar a primeira cruz, que fez de Pau Brasil. Era para a primeira missa. Sabia onde tinha um bom Pau Brasil, grande, forte. Nascido para ser transformado por mãos de artista no primeiro símbolo da mais nova cidade do Brasil.

 

A história rica, cheia de detalhes é bem maior, e abre o livro de crônicas que sigo escrevendo. Entre lembranças e olhos marejados, o Gaúcho me contou trechos de sua vida daqueles tempos, no galpão onde hoje funciona sua marcenaria, na estrada que sai para Aparecida do Rio Negro. Lá, o homem que fez a primeira cruz da capital, marco erguido na Praça dos Girassóis, constrói outra. Promessa que cumpre por ter escapado de picada mortal de cobra no Pará. Assunto para outro dia…

 

Mais de 27 anos se passaram depois daquela movimentada reunião na saudosa vila do Canela, que sob as águas do Tocantins repousa, encoberta. Mais de 27 anos daquele em que a história de Arlindo se encontrou com a de José Wilson, com a de Cajazeira (que ia no Gol Branco, um dia antes, preparar o lugar que receberia o governador) e de tantos outros.

 

De lá para cá são longos e épicos anos em que cada palmense de coração ou nascido aqui, mais ou menos pioneiro, juntou suas histórias para contar. De como chegou, de um dia muito feliz que viveu aqui. De um sonho que conseguiu realizar, de uma esperança.

 

Pano rápido.

 

Eram pouco mais de 6 horas da manhã em Palmas. 27 de maio de 2011. Eu dirigia pela antiga Arne 12, rumo à casa de minha amiga Adrienne, filha do professor Ruy Rodrigues, também pioneira nesse Tocantins. O sol ensaiava nascer e eu tinha uma sensação de sentir o cheiro no vento. O mesmo que senti em 3 de abril de 1991, quando desci na antiga rodoviária improvisada de frente à galeria Bela Palma. O vento do novo. Da vida reacendendo. 

 

Era o cheiro da esperança, da expectativa, de vida mudando numa descomunal intensidade.

 

Horas antes, meu primeiro filho havia nascido, no Hospital Dona Regina, 20 anos depois da minha chegada. Leonardo. Grande amor.

 

Naquele dia em Palmas nasci de novo, ganhei outra vida. Um presente incrível de Deus.

 

Sei que cada morador aqui tem sua história de amor com essa cidade.Ela está contada nos depoimentos de Facebook, nos posts do Twitter, nos artigos que li por aí.

 

Histórias de água colhida em carro pipa e das noites vividas na Graciosa. Emoção indescritível nas primeiras travessias de balsa(foi lá que a cidade me apaixonou) e poeira na garganta. 

 

Depois de tantas paixões vividas, casas construídas e breves dias de dor, só resta reconhecer e tudo isso os motivos de tanto amor.

 

É que Palmas é nossa. Está entranhada na nossa própria história. Nos acolheu, nos abraçou. Nos deu novas chances, novas perspectivas….

 

E é por isso que este 20 de maio é tão nosso, de cada morador. Dia de relembrar. De ter saudade e de reacender a chama da fé no nosso futuro. Que sempre pode ser melhor.

 

Aqui, estamos destinados à felicidade. Por isso as Palmas hoje são para todos os Arlindos e Josés, mas sobretudo são para nós que a amamos tanto, que o amor transbordou e gerou a vida que se vê nas suas ruas, avenidas, casas e calçadas. Das Arno até o Taquaruçu, onde ainda se pode colocar cadeiras nas portas da rua.

 

Parabéns….cidade! Não há outro lugar em que eu queira estar além daqui.

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