A greve da Polícia Civil, que parecia caminhar para o fim na sexta-feira passada, dia 20, recrudesceu e caminha para ser uma daquelas crises de capítulos intermináveis, com consequências que ameaçam se tornar desastrosas.
Não pelas armas do Estado, que agentes já não portam mais. Mas pelo que o prolongamento da falta de prestação normal do serviço de segurança das forças de inteligência representa para a população. E para o avanço do crime, dentro e fora dos presídios.
O recuo e a alteração no tom dos interlocutores, desde que o protocolo de intenções assinado pelo Sinpol virou água, é que lança sombras sobre o que poderá se tornar este movimento.
De um lado, o governo afirma que cortará pontos, que cobrará a multa (limitada a R$ 1 milhão de reais na liminar concedida na Justiça) e que só volta a conversar, depois que policiais retornarem ao trabalho.
De outro lado, o Sindicato - que ajudou a construir o protocolo de intenções – mas parece ter sido pressionado (supõe-se pelo comando de greve) ao ponto de mudar completamente de posição em menos de 48 horas, mantêm a paralisação.
É no mínimo estranho que uma proposta construída em conjunto (e não só pelo governo, como os releases do movimento paredista dá a entender), tendo representantes do Ministério Público e Defensoria como testemunhas, fosse abortada antes da Assembléia Geral da categoria. Para então os sindicalistas apresentarem outra proposta, com itens que sequer chegaram a ir para a mesa de discussão anteriormente.
O que corre nos bastidores é que a greve politizou. Que não se trata mais de uma categoria defendendo um direito adquirido em lei, mas de um intrincado jogo de interesses, com agentes políticos conhecidos, alimentando a animosidade.
Não é difícil perceber no discurso frases como: “Marcelo mentiu antes (na eleição) e mente agora (prometendo pagar quando o Estado enquadrar na LRF)”, para justificar o recuo em aceitar o protocolo que o próprio sindicato ajudou a construir.
De outro lado o governo demonstra grande dificuldade de afinar o discurso entre os seus interlocutores. De outro modo, como entender que o secretário da Administração, que estava viajando e não participou das discussões e da construção do protocolo, participe de uma reunião com o sindicato e praticamente renegue um dos pontos do documento, que é justamente o crucial: expectativa de data para pagamento?
Muito esquisito.
É o tipo de erro primário, que dá o argumento que os mais radicais precisam para manter a greve, sem prazo para terminar.
Sem comprar a greve da polícia como algo justo – uma vez que os grevistas não ganham salários de fome – setores da sociedade organizada e a opinião pública acompanham de longe. O movimento não tem apoio popular e não consegue ser simpático.
Com os espíritos armados até os dentes, o diálogo para por fim ao impasse parece cada vez mais difícil.
A regra é simples para que todo acordo funcione: uma vez dada a palavra, não se volta atrás. Combinado, tem que ser cumprido, de lado a lado.
Não adianta para o governo, empurrar o problema para estourar de novo no final do ano.
Talvez esteja faltando o próprio governador Marcelo Miranda chamar para si a responsabilidade. É ele o governador pelos próximos quatro anos. Só ele pode garantir aos policiais o que o governo poderá de fato arcar ou fazer.
Muito ruim este começo.
A gente sabe que forças ocultas trabalham para que não dê certo. Neste caso da Polícia Civil, o staff montado em torno do movimento, é bem parecido com o da campanha eleitoral.
Portanto, forças nem tão ocultas assim.
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