A “cassação branca” imposta ao governador Mauro Carlesse no dia de ontem, 20 de outubro de 2021, pela Corte Especial do STJ, seguindo entendimento do Ministro Mauro Campbell, mudou o jogo sucessório para o ano que vem no Tocantins.
Não é a primeira vez. Será a última? Ninguém sabe.
Quando Marcelo Miranda foi cassado, em 2018, no último ano do mandato, todo o cenário político desenhado também mudou abruptamente, beneficiando o então presidente da Assembleia Legislativa, o agora afastado Mauro Carlesse. Como havia feito em 2009, na primeira cassação de Miranda, beneficiando o também presidente da época, Carlos Gaguim.
Os afastamentos de Siqueira – primeiro para permitir a candidatura de Eduardo ao Senado, em 1998 – e depois para permitir a candidatura do filho ao governo (que não aconteceu), são casos de afastamento voluntário.
Triste assistir ontem nas redes, pessoas que vivem, trabalham e criam suas famílias no Tocantins, achincalhando a imagem do Estado, como se aqui tudo terminasse em corrupção. E colocando todos no mesmo balaio.
Miranda foi cassado por abuso do poder político e econômico. Do primeiro, foi absolvido pelo Supremo Tribunal do eleitor, que o reconduziu ao governo fazendo uma espécie de justiça às avessas em 2014. Do segundo, só saberemos se ele efetivamente for às urnas ano que vem.
Mas o assunto do dia, o afastamento de Carlesse - que dormiu governador e amanheceu afastado sem direito a defesa, pelo STJ - numa investigação federal que desconhecia, e à qual não foi chamado para nada, conforme o Blog apurou – fez também de Barbosa (que dormiu vice e acordou governador) o dono do jogo sucessório no comando da máquina estadual.
Carlesse pode reverter o afastamento, no próprio STJ, ou no STF, para as instâncias em que cabe recurso? Sim. Tem boas chances? Vai depender do que está no bojo dos autos.
O tribunal da internet no entanto, alimentado com fatos pinçados a conta gotas e teorias da conspiração - como a que a PF levantou e não comprovou (ao ouvir um policial) de que teria havido armação para incriminar por tráfico um cidadão suspeito de ter vazado vídeos e conversas pessoais da ex-primeira dama – já fez seu julgamento e condenações.
Todo o ressentimento guardado por diversos atores do cenário politico, administrativo e também de desafetos pessoais, veio à tona ontem contra o governador afastado, em memes e tuites, sem nenhuma preocupação com consequências nas redes. No português rasgado: mais pareciam um bando de urubus.
Ou, como na história: O Rei está morto. Viva o Rei!
No cenário político partidário também não foi diferente: adversários aproveitaram a queda do governador para escarnecer, fazer vídeos com intenção de lacrar.
Sem perceber que estão todos desacreditados, cada um na sua medida. Todos com uma ou outra acusação de corrupção, improbidade ou com problemas no campo pessoal, largamente conhecidos. Por ter feito ou deixado fazer falcatruas nos corredores do poder onde comandaram, ninguém está 100% limpo para apontar o dedo.
A enxurrada de comentários desprovidos de qualquer responsabilidade, ajudaram a queimar não só o governador afastado e seu grupo, secretários afastados e a cúpula da segurança, mas a imagem do Estado.
Fora a incerteza com o que virá daqui para a frente.
Isolado da pretensão de concorrer pelo grupo que cercava Carlesse e descartado pelo próprio governador afastado como opção na sua sucessão, caberá a Wanderlei Barbosa agora dar o tom do que virá.
Se acenar com estabilidade institucional, manutenção de obras em andamento, tocar os projetos e montar uma equipe técnica onde é necessário governar sem sobressaltos (e deixar a política para onde cabe estabelecer pontes) se consolidará como alternativa para o ano que vem.
Uma delas, já que o esvaziamento do poder de Carlesse favorece inicialmente quem já está com o pé na estrada. No caso, o ex-prefeito de Araguaína, Ronaldo Dimas, que vem pontuando bem nas consultas internas feitas pelos partidos.
Além de Dimas, a retirada temporária de Carlesse do jogo, também dá fôlego novo ao senador Eduardo Gomes, cujo grupo não esconde que é pré-candidato ao governo do Estado. E estava prejudicado com a intenção do governador afastado de buscar saída jurídica para tentar um terceiro mandato.
Os atores, neste final de outubro são estes. A grande expectativa, no entanto, repousa sobre os ombros de Barbosa, um político tradicional, conservador, mas essencialmente tocantinense e que conhece bem os meandros da política estadual.
A se confirmar o tom que dará neste mini mandato de governador, que como dizia Carlos Gaguim, lá em 2010, vale mais que um mandato de deputado estadual ou federal.
Comentários (0)