Memórias de infância, Jesus Cristo e as luzes de Natal

A cidade está feliz, acolhedora de Norte a Sul... Luzes coloridas, desfile temático. Um bom momento para lembrar do verdadeiro sentido do Natal e exercitar a auto análise, o perdão e a caridade...

Lâmpadas antigas: a primeira lembrança de Natal
Descrição: Lâmpadas antigas: a primeira lembrança de Natal

Eram lâmpadas normais, com soquete e tudo, só que coloridas, as que tomavam conta das ruas da minha cidade, no interior .

 

Quando entrava dezembro e os funcionários da prefeitura começavam a enfeitar a avenida Goiás, depois a Brasil, a Rio Claro, estava decretado: já era Natal.

 

Como explicar o que era isso na infância, adolescência de quem vivia longe das metrópoles, numa era sem internet, quando o celular não havia sido inventado?

 

O clima mudava e tudo se tornava mágico, como nos dias mais tenros da infância, quando - me lembro -  eu via a mão dos adultos na altura do rosto, nas noites iluminadas em que saia para escolher o presente de Natal. Depois já adolescente, Natal era época de enfeitar as vitrines da Casa Leão, montar uma grande árvore no meio da loja, e esparramar papel picado pelo chão para esperar os fregueses... Que saudade!

 

Tios, tias, chegando de outras cidades para as “férias”de Natal. Que tempo mesmo era aquele, em que ninguém se sentia só? em que não havia outra responsabilidade a não ser passar de ano e de vez em quando ajudar com as vasilhas acumuladas na pia?

 

Me peguei pensando nisto outro dia e refazendo na memória, a trajetória de deixar o interior em busca de mais, rumo à capital, Goiânia. Década de 80. John Lennon, meu ídolo da época, tinha morrido assassinado por Mark Chapman num mês de Natal. A trilha sonora era "Imagine". Eu queria fazer a faculdade sonhada e não a possível. Morar sozinha, no meu apartamento. Ir a todos os shows possíveis. Namorar, quem eu quisesse. Coisas impossíveis naquele interior mágico e cheio de regras.

 

Por isso Goiânia por muito tempo foi o mundo. Sonhado, desejado. Mesmo que as coisas às vezes chegassem do avesso, de cabeça para baixo, diferente do imaginado.

 

E o Natal em Goiânia? era algo com ares de cidade grande para os meus olhos.

 

De todo jeito elas estavam lá: as correntes de lâmpadas coloridas. Desta vez, na rua 4, na Avenida Goiás, na Araguaia, na Tocantins. Esse nome para mim ainda não significava o rio, nem o Estado cuja capital seria a cidade que um visionário criaria, anos depois, fim da década de 90. E que seria a minha cidade…

 

Como confortava meu coração passear pela rua 24, na Campininha, voltando dos fechamentos de página, tarde da noite, Diário da Manhã. E ver as ruas iluminadas. Era a certeza de que ninguém estava sozinho. Afinal, era Natal.

 

Dia destes, sem poder dirigir ainda, depois de passar por uma pequena cirurgia, saímos para comer uma pizza. Minha pequena família, de carro, pelas largas avenidas de Palmas. Eu no banco do passageiro, podia apreciarmais. Dezembro de 2015.

 

Vendo as lâmpadas coloridas, ouvi meu filho dizer: “mamãe, olha, tá chovendo gotinhas brancas!!”. E a caçula, em transe, com os bonecos infláveis: Papai Noel e boneco de neve, iluminados. Isabelly, ainda aprendendo a falar, vibrava: “papai el, mamãe Bebeta, papai el”.

 

Foi aí que percebi uma coisa interessante: já não sinto mais falta daquela sensação de acolhimento que sempre tive nos natais que passei em Goiânia. Aliás, nos anos escuros do Natal em Palmas, quando não havia quase nada para fazer aqui nesta época, eu sempre voltava à Goiás e a Jataí, enquanto meu pai era vivo.

 

A sensação do acolhimento, a coisa mais importante do Natal, passei a sentir aqui. E não só por que construí uma família, a coisa mais importante, preciosa e rara. Mas por que a cidade está mais viva, mais integrada, mais cidade. Até o Palácio Araguaia depois de três anos de escuridão, voltou a estar iluminado, colorido: vivo, no meio da Praça dos Girassóis...

 

Sim, por que uma cidade, é feita de pessoas, mas fica mais acolhedora quando elas se encontram. Nas praças, nos parques, na rua, nos shoppings. 

 

Fui levar meus pequenos para assistir o desfile feito com crianças, adolescentes e o pessoal da Universidade da Maturidade. Outro olhar de espanto e encantamento o deles com as roupas de led, blocos de papai Noel, o presépio vivo. Também fui ao Cesamar para tentar ver Papai Noel. Não consegui. Fila enorme.

 

Mas voltei com a melhor das sensações. De como é bom hoje viver aqui.

 

Seria injusto não dar o crédito a quem faz tudo isto acontecer. Conversando com os meninos, que estão muito pequenos para entender, resumi: “meu filho, você gostou? tá bonito? foi um amigo da mamãe que fez. O nome dele é Marcílio”.

 

Detalhista, dedicado, o secretário de Obras do prefeito Carlos Amastha (a quem sei que deixo com ciúme quando digo no twitter que é o melhor secretário de Obras que Palmas já teve) é o grande braço executivo desta gestão.Ele é o homem por trás das ruas limpas e arranjos de troncos com flores nas rotatórias. O cara do asfalto mais barato por que resolveu fazer por conta própria com usinas (reformada e adquirida). O homem das luzes azuis e brancas e do desfile.

 

Procurei por ele essa semana para dar meu abraço e cumprimentá-lo pessoalmente como moradora e não como jornalista, mas ele já havia partido para passar o Natal com sua família, em Floripa.

 

Não tem problema. Está feito o registro. Palmas hoje, é de todos nós.

 

Nem sei onde andavam estas pessoas que construíram esse Natal dos Sonhos, na década de 80 e 90, quando eu caminhava encantada pelas ruas de Goiás com aquelas lâmpadas antigas, que prefeituras retiravam e colocavam todos os anos.

 

Décadas se passaram, mas o Natal está aqui. Graças a Deus! Se firmando sempre como um sentimento envolto nos ensinamentos cristãos. Momento em que é possível exercitar o perdão e renascer.

 

Que a gente se lembre do aniversariante, Jesus Cristo, dando a ele o maior dos presentes: “eu estava nú e me vestistes, com fome e me destes de comer”. Vamos procurar ser mais solidários e fazer a diferença na vida de alguém esse mês.

 

Feliz Natal, Palmas!

 

Feliz Natal, Tocantins!

 

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