Mensaleiros presos: será o começo do fim da impunidade no Brasil?

Após um longo julgamento, e o atraso da análise dos embargos, mensaleiros finalmente começam a cumprir pena. Os mandados de prisão, cumpridos no feriado de proclamação da República, deram o tom ...

Em meio a cartazes de militantes do PT, vestindo inconfundíveis camisas vermelhas, o repórter da Globo tentava entrar ao vivo na noite de sexta-feira, 15, no Jornal Nacional.

 

A notícia: o cumprimento dos mandados de prisão aos réus condenados no processo do Mensalão pelo STF. De Brasília, do Rio de Janeiro ou de Belo Horizonte, as imagens foram se sucedendo. Em carrões de luxo, ou em modelos mais simples, eles foram se apresentando, com malas de rodinha e seus advogados. Prisões em regime fechado para uns e em regime semi-aberto para outros, como as estrelas mais reluzentes do PT no governo do ex-presidente Lula – o que de nada sabia – a exemplo de José Dirceu e Genoíno.

 

Estes dois últimos fizeram chegadas apoteóticas à PF: erguendo os braços, fechando os punhos no gesto tradicional de “a luta continua”. Continua como? É de se perguntar.

 

Rodeando o repórter da Globo, os petistas gritavam: Genoino, guerreiro/ do povo brasileiro”. Ou: “A Globo apoiou a ditadura”, num áudio impossível de não vazar durante um ao vivo. E ao qual do estúdio, Alexandre Garcia respondeu com um sorriso amarelo, ao lado de Heraldo Pereira, este sempre impassível.

 

Este capítulo da história do Brasil está cheio de ricos personagens. Da comédia ao dramalhão. Como ignorar por exemplo que o presidente do Supremo Tribunal, Joaquim Barbosa, comandou o show com ares de heroísmo superior, para prender os mensaleiros exatamente no feriado da Proclamação da República?

 

A comédia ficou por conta da nota de Genoino, que professou inocência até na hora da prisão, declarando considerar-se um “preso político”?

 

Na verdade, há excessos em toda parte. Dos que julgam e condenam, espera-se mais discrição e menos comemoração. É uma triste página da história do Brasil, por mais que sobre satisfação por se fazer uma justiça inédita, prendendo de uma só vez do homem mais poderoso do País na era Lula, até a diretora do banco usado para lavar o dinheiro do mensalão.

 

Dos condenados, que assumissem suas penas com um pouco mais de humildade. Não restou muita coisa sem provas neste longo julgamento do Mensalão. Ao contrário. Faltou condenar mais gente. Que de fato não tinha como não ter sabido, autorizado, participado.

 

De fato, vivemos um momento inédito na nossa história, especialmente por que o mesmo PT que teve algumas de suas estrelas recolhidas ao xadrez -  detalhe, sem algemas – continua governando incólume o Palácio do Planalto. Sem golpe.

 

Para que a justiça seja de fato uma regra e não uma exceção ainda penso que falta muito. Falta por exemplo, investigar e dar um final como este, ao processo dos mensaleiros do PSDB. Ou alguém duvida que ele também existiu, passando pelas mesmas mãos de Marcos Valério?

 

O que vejo de positivo em tudo que foi ao ar ontem, é que muitos corruptos devem ter assistido com espanto ao Jornal Nacional de ontem, e se beliscado para ter certeza de que não estavam sonhando. Depois, não é difícil que ao se recolherem para dormir, tenham sido assombrados por duros pesadelos, ou acordado suando frio.

 

A cada dia que passa, a corda aperta. Não há nada que possa permanecer encoberto para sempre. E não há limites para que a justiça brasileira continue a fechar o cerco contra a corrupção e seus agentes públicos. Se até Dirceu caiu, a resposta para a pergunta que postei lá em cima não pode ser outra: sim, estão chegando os tempos em que se começa a passar a limpo as piores práticas políticas no Brasil.

 

Já não era sem tempo. Ou melhor: demorou!

Comentários (0)