Muito além do preço da passagem, a revolta é com os políticos do Brasil

Há alguns dias observo o movimento que começou em São Paulo e vai tomando conta do Brasil. Brasileiros protestando. Uns com calma, outros com raiva...

Crédito: Agência Brasil

 

E a raiva, como se sabe, é má conselheira. No princípio de tudo, o inconformismo com o transporte coletivo e o aumento de R$ 0,20 centavos. Parecia pouco, quase nada. E foi o estopim de uma coisa que andava adormecida: a indignação.

 

Já fizeram todas as interpretações possíveis nas redes sociais, na imprensa oficial, na extra-oficial e na contrária.

 

Em São Paulo, o abuso do uso da força pela Polícia Militar reverteu toda a cobertura jornalística anti-manifestantes, que mostrava mais o vandalismo praticado por grupos mais exaltados, do que propriamente o objetivo do movimento.

 

Daí para o que tem se visto em Brasília, no Nordeste ou em BH, é uma catarse.

 

E quem é que está nas ruas? A classe média. Não, não é o trabalhador lascado que acorda as 5hs da manhã e tem que obrigatoriamente trabalhar para não perder o emprego. Está indo para a rua quem pode: estudantes, trabalhadores classe média com o horário mais flexível, desempregados....

 

Revolta é contra a classe política

 

Tenho chegado à conclusão de que o movimento, embora esteja longe de pertencer a um ou outro partido, tem natureza política e participação partidária de legendas de extrema esquerda. Não só pelas bandeiras do Psol que aparecem aqui e alí. Mas isso não lhe tira a autenticidade. O fato é que o discurso anti-governo, anti-corrupção e que generaliza o conceito de que a classe política é podre e explora o brasileiro médido, pegou.

 

E pegou de um jeito que não tem mais volta. O protesto contra o aumento do ônibus em São Paulo, se transformou no protesto contra a corrupção no Brasil, contra o superfaturamento de obras públicas, contra o duto de dinheiro público que se tornaram as obras para a Copa.

 

A classe média que está indo para as ruas, é a mesma que vaiou a presidente Dilma. Mas o problema não é ela. Ou o governo do PT, apenas. A grosso modo, o PT mudou nos últimos anos, o cenário de miséria das classes D e E no Brasil.

 

O problema é que este modelo está esgotado. Ninguém aguenta mais. Quem trabalha para pagar a conta de todas as benesses que o poder público distribui, da insuportável carga tributária e da corrupção nossa de cada dia, está dizendo: Basta.

 

Palmas pegando carona

 

Em Palmas, uma página do Facebook, criada por um estudante de 17 anos está bombando na promoção do protesto marcado para quinta-feira, 20. Quem quiser ver, ou confirmar presença, é só ir aqui

 

Quem está por trás? É uma pergunta sem resposta. Tem muita gente na frente, ao lado, e muita gente começando a pegar carona. O momento é propício: sensação de insegurança, votação da PEC 37, que retira os poderes do Ministério Público de investigar. Vejam que momento!

 

A classe política pode ficar alheia a isto? A tradicional, arcaica, pode e deve. O movimento não tem nada a ver com ela. Pelo contrário, a repudia.

 

Agora o político que não tiver o ranço do compromisso com esse modelo falido que o brasileiro não quer mais, tem que ir para o meio do povo. Dar a cara a tapa. Conversar, trocar, entender, transformar. Mostrar a diferença.

 

Monopólio não: um grupo domina o mercado

 

Movimento contra o “monopólio” do transporte em Palmas? Não sei não. Até por que não se configura como monopólio o que acontece aqui. Empresas ligadas ao mesmo grupo, sim. Qual o problema do transporte em Palmas? Poucos ônibus para muita gente? Poucos ônibus nos horários de pico? Má qualidade no serviço prestado, como endossa o prefeito Carlos Amastha?

 

A questão é que o Expresso Miracema é a empresa que opera a maioria das linhas, tem ditado a política de transporte público de acordo com seus custos e interesse e não se vê por parte do poder público, licitação aberta para que outras empresas venham atender o público de Palmas. E por muito tempo a Prefeitura de Palmas não se empenhou em montar uma estrutura de fiscalização adequada e independente da própria empresa majoritária ou do sindicato que ela mesma controla.

 

Estes sim, são problemas reais. Mas que podem ser enfrentados numa canetada do prefeito, com a reavaliação dos serviços prestado, quebra da concessão e chamada de uma nova licitação.

 

O fato, amigos, é que o movimento que está nas ruas, pode até ser convocado sob este argumento, mas há muito mais no ar do que aumento de passagem. Que aliás nem é o problema de Palmas.

 

O que está no ar é o inconformismo que está levando milhares de cidadãos às ruas de todo Brasil. As pessoas estão atrás de motivo, de argumento, mas o objetivo é um só: protestar. Extravasar. Dizer que não dá mais.

 

Eu já falava deste pessimismo contra toda a classe política, aqui.

 

A pergunta que fica é: e depois? Para onde vamos? Fechar o Congresso? Mudar o Brasil? Após catarses populares o caminho que se desenha é de avanço ou de retrocesso? O tempo dirá. Só não podemos voltar a ditadura, para que corruptos de farda, com a prerrogativa de usar armas assumam o poder para nos dizer o que podemos ou não fazer, dizer e pensar.

 

Ou fazer o que o Brasil eufórico já fez antes: eleger uma ilusão, como foi o caçador de marajás.

 

O alerta está nas ruas. Os legítimos representantes do povo, que não tiveram seus mandatos comprados – e não são muitos, nem a maioria – é que têm autoridade moral para mudar esta situação. Que eles despertem e tomem a frente. O povo, esgotado, cansou de esperar.

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