O pesar pela sua perda ainda está impregnado no círculo dos que conviviam com ele. Mais especialmente na família, o que é natural, diante de fatalidade tão recente.
O fato político no entanto não espera o tempo do coração. E já existem muitos interessados em herdar, se não o legado político de João, a legenda, o tempo de TV e a possibilidade de ter o PR no palanque. Esta é a realidade nas articulações de bastidores às quais se impõe apenas uma data: 4 de fevereiro, para quando está marcado o retorno ao Brasil e à cena pública de Brasília o senador Alfredo Nascimento., presidente do PR.
E quem tem as melhores chances de herdar o partido?
Sem dúvidas, Luana Ribeiro. Deputada estadual em segundo mandato, filha do senador, ela é quem estará em melhores condições para uma indicação à presidência de uma nova Comissão Provisória. João deixou o PR sem diretório eleito nem comissão renovada. Por isso Ronaldo Dimas não é presidente. Mas tenta...
E quais as chances de Dimas? Pequenas, mas não se pode desprezar o poder de articulação do governo em torno dele. Foi deputado federal, é prefeito de uma cidade importante e chegou a ser incluído numa lista para a nova comissão provisória na condição de vice presidente regional. Mas não foi efetivado.
Nos bastidores escuta-se que o que pesou para que Ribeiro não homologasse a provisória junto à Nacional foi justamente a desconfiança em torno da posição política de Dimas, que se aproximou muito do governo. O senador, como se sabe, levou o PR a disputar contra as forças governistas em Palmas na eleição para prefeito. Dizia abertamente que estava na oposição e que o esquecessem quem colocava na rua virais de que ele não disputaria contra o Palácio Araguaia, uma eleição a governo.
Ribeiro apoiou substancialmente Dimas na disputa em Araguaína. Onde o prefeito contou também com o apoio forte de Eduardo Siqueira.
Uma vez eleito prefeito, era natural que Ronaldo Dimas buscasse a parceria do mesmo governo que foi secretario para administrar a cidade. Mas a proximidade, além de administrativa se tornou politica. E Dimas hoje é uma das peças fundamentais no projeto político eleitoral de Eduardo. A presença do governo em Araguaína se intensificou, e a saída de Ribeiro da vida e do cenário político só complicou o jogo para a oposição na capital econômica do Estado.
Luana conversa com o governo e com a oposição
O espólio político de João Ribeiro no entanto não se resume ao PR, que esvaziado pelo próprio governo, restou com dois deputados estaduais: Luana e Bonifácio. Os dois apareceram juntos na inserção do partido na TV, fazendo o compromisso de manter o PR dentro daquilo que o partido defendia até aqui. “E nós acreditamos que o Tocantins pode ser muito melhor”, finalizou Bonifácio.
Este rumo é que é uma incógnita.
Ribeiro reafirmou em carta aberta, este ano, que o partido marcharia na oposição. Esta posição estava bem respaldada pela Executiva Nacional do PR.
No momento da morte, no entanto, simbolicamente o Palácio Araguaia tornou-se o palco do velório e das últimas homenagens. O fato do corpo não ter sido enterrado em Araguaína e nem passado por lá provocou uma nota da deputada Luana Ribeiro, explicando que a decisão não foi dela. Uma nota que provocou uma cisão familiar e magoou Cínthia Ribeiro, a viúva e presidente do PTN, um dos quatro partidos que se aglutinavam em torno do senador.
Coisas que o tempo vai se encarregar de resolver. Ou não.
O fato é que Luana Ribeiro, a provável herdeira do comando do PR, já conversa com todas as forças políticas do Estado. Mesmo que reservadamente, num período ainda de luto. A deputada aguarda o retorno de Nascimento ao País e articula interlocutores para garantir junto à Nacional, o comando da sigla.
Os caminhos que estavam fechados para que o PR se aliasse ao governo não estão mais tão impedidos assim. Embora se reserve o direito de não falar com a imprensa sobre o assunto, entre amigos a deputada comenta que diante de toda a assistência recebida na ocasião da morte, velório e enterro do pai, não tem como fechar as portas para o diálogo.
A questão é que Luana não está sozinha. Embora presida o partido em Palmas, na capital o senador tinha companheiros fortemente oposicionistas. E conversava com Amastha sobre uma futura composição. Na capital o que se escuta é que os governistas já acenaram inclusive em ceder duas secretarias para o PR na reforma administrativa que o governador vai fazer.
“O grupo não vai ser vendido no pacote”, reagiu um republicano da capital esta semana, também nos bastidores. Mas a deputada não conversa apenas com o governo. Já esteve com Marcelo Miranda e com Ataídes Oliveira falando das possibilidades. Tem também canal aberto com a senadora Kátia Abreu, que lhe fez uma visita de cortesia no retorno da China, onde estava quando o senador faleceu. Roberto Pires, do PP, é amigo da família e era compadre de João.
De maneira que não há nada definido ainda pela deputada, apesar dos rumores.
Grupo se movimenta em torno de Cínthia
O que se nota também é um movimento de líderes mais ligados ao senador em torno de que Cínthia Ribeiro coordene o grupo. “Era ela quem convivia com ele mais de perto, recebia as pessoas na sua casa. É ela quem o Alfredo Nascimento e a cúpula do partido conhece e convive”, defendeu uma fonte do PR junto ao Portal.
São quatro partidos: o PR, PTN, o PRTB de JR, filho de Ribeiro e o PHS de Homero Jr, de Itaguatins.
Se este grupo se manterá unido, é uma incógnita. Se alguém no grupo reunirá as condições para levar adiante o legado de João Ribeiro, também.
Conversando por telefone ontem, rapidamente com Cínthia Ribeiro, o que se nota é que ela também está longe ainda de pensar e articular qualquer reação política neste janeiro. Sofrida, sentida ainda e muito com a perda do marido ela lida com o pequeno João Antonio, que sofre a ausência do pai - e precisa de acompanhamento psicológico - resolve questões práticas como o apartamento onde viveu 11 anos com o marido em Brasília. E vive, segundo ela própria, um dia de cada vez.
Lá tudo está como antes: fotos nos mesmos porta-retratos, roupas no armário e chapéu dependurado como se ele ainda fosse voltar. "Ainda não é hora de falar de política", resume ela quando indagada sobre o assunto.
O momento como se vê, é especialmente difícil para a família. Ribeiro deixou duas mulheres fortes com seu sobrenome: Luana e Cínthia. Cada uma num partido, Sabe-se que o PTN espera de Cínthia uma candidatura a deputada federal. Este é o projeto da legenda no Estado. Por outro lado, para presidir o PR Luana Ribeiro também terá que buscar uma vaga em Brasília.
Além das duas há um sem número de líderes e amigos que se aglutinavam em torno de João Ribeiro e que estão na encuzilhada sobre que caminho tomar. Estavam com ele justamente pela sua maneira cordial, articulada e competente de fazer política.
Por isso, não há como terminar esta reflexão sem a mesma dúvida que a moveu: quem será capaz de manter o legado de Ribeiro? Uma pergunta até aqui sem resposta.
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