No teatro da Assembléia, o voto secreto encena seu último ato

Deputados demonstram na votação o reconhecimento a Gaguim e deixam no ar as dúvidas da controversa votação das contas conjuntas do exercício de 2009. História que promete render muito...

Marcelo Miranda e Carlos Gaguim
Descrição: Marcelo Miranda e Carlos Gaguim Crédito: T1 Notícias

Amigos, foram intensas as 24 horas que culminaram na rejeição parcial das contas do ex-governador Carlos Gaguim (aprovou 2010 e perdeu 2009) e rejeição das contas de Marcelo Miranda(2009), no imenso palco em que se transformou a Assembléia Legislativa.

 

Não faltaram críticas à postura do presidente da Casa, Sandoval Cardoso(PSD), que diante do resultado da votação do processo referente a 2009 -  13 a 9 – contestado pela fala e assinaturas de 11 deputados afirmando ter votado pela aprovação, marchou frio até o último minuto.

 

Sandoval não acatou qualquer questão de ordem, não suspendeu a sessão e não refez a votação. Seguiu em frente para a votação do segundo processo. 2010, contas de Gaguim,  o resultado foi completamente outro: 17 a favor da aprovação e apenas 5 contra.

 

Sem contestação do resultado da segunda votação, ficou claro que não houve problema no painel eletrônico da Casa. Como me disse em alto e bom tom uma deputada no final: houve teatro.

 

Se 11 disseram ter votado, e apenas 9 votos apareceram, dois estão mentindo, conclui-se. Coisa para ser clareada lá na frente. Quem sabe um dia.

 

Do cumprimento de dona Dulce Miranda ao ex-governador Gaguim – que diga-se de passagem estava afiadíssima nos comentários – depreende-se que o episódio só arranhou mais a relação dos dois ex-governadores peemedebistas. Nos corredores, com a sinceridade que lhe é peculiar, Gaguim dizia abertamente que Marcelo o estava prejudicando: “os deputados querem aprovar minhas contas, mas não querem aprovar as dele”.

 

Outro deputado, ouvindo o comentário retrucava: “e o Palácio está preocupado com o Marcelo, ou com o Gaguim?” Pois é.

 

A “traição” do PMDB

 

Alcancei Marcelo na saída, cercado por um séquito de ex-secretários, amigos, correligionários para perguntar se a crise do PMDB é que decidiu a rejeição de suas contas. Antes dele, fiz a mesma pergunta a Josi Nunes, que me respondeu: “ainda não sei avaliar, não quero julgar”.

 

Marcelo me disse que não. “Eu falei hoje cedo com o Iderval. Ele me garantiu que eu podia contar com os votos do PMDB”. Parece que não contou.

 

É o que se depreende da fala do deputado José Bonifácio ao deputado Sargento Aragão. “Não houve traição no painel, deputado Aragão. Foi a bancada do PMDB que derrubou o PMDB”, disse ele numa alusão aos dois ex-governadores. E emendou: “já existe jurisprudência e essa votação vai se tornar nula porque as contas não foram individualizadas”. Um argumento jurídico que ouvi muito esta manhã.

 

Efeitos práticos

 

Acompanhando o ex-governador Carlos Gaguim, estava o procurador geral do Município Públio Borges. Acompanhando Marcelo, Jacques Silva elencava motivos pelos quais acredita que a votação não será válida para efeitos de inelegibilidade. “São dois processos semelhantes nas irregularidades apontadas. Como é que um é rejeitado por 13 a 9 e outro aprovado por 17 a 5? A rejeição é claramente política”, afirmava.

 

Preocupado com esta situação, o deputado Freire Jr. usou a palavra após o encerramento da votação das duas contas. “Como é que a população vai enxergar esta Casa? Minha preocupação é institucional. Como fica a imagem da Casa?, perguntou.

 

No Twiter, quando postei a frase, a reação de alguns seguidores foi instantânea: “pior do que está não fica”.

 

O adeus do voto secreto

 

Em plena discussão pelo fim do voto secreto, ouvi de um deputado governista muito simpático a Marcelo Miranda: “se a votação fosse aberta, as contas dos dois teriam sido aprovadas”.

 

E dele ainda: “ouvir que 11 votaram e só apareceram 9 votos prova isso: tem dois mentindo”.

 

Sim, é o que parece. Mas quem são? Esta dúvida vai consumir e muito ainda a família Miranda.

 

Se Gaguim tem o reconhecimento dos deputados pela forma como foram tratados em seu governo, Marcelo tem a fama de ter sido institucionalmente “mais sério”. Ou como querem outros, “mais seco” na hora de resolver demandas.

 

Um exemplo que ouvi hoje: o do relator, deputado José Augusto. “Ele ficou pelos corredores durante quatro anos do Marcelo sem uma assessoria”.

 

Me lembrou uma conversa que tive com Sandoval Cardoso ainda no governo Gaguim, durante uma visita que ele fazia a uma secretaria e nós dois aguardávamos na recepção. “O Marcelo não atendeu bem aos deputados. Isso é uma coisa que ele tem que corrigir”, dizia ele.

 

Três anos depois, está aí a prova de que houve quem guardasse suas mágoas.

 

Ambos vão buscar derrubar a decisão na justiça, com argumentos diversos sobre a condução da votação, detalhes técnicos e regimentais. Mas o fato é que Marcelo Miranda hoje é um gigante na rua, diante dos olhos da população. Um gigante amarrado na justiça eleitoral pelos desafetos e adversários.

Comentários (0)