Nos passos de Amastha e Kátia: a arte de mover pedras e alocar recursos

Fora da discussão eleitoral que move os ânimos este ano, é interessante notar o poder de articulação política de dois desafetos: a senadora Kátia Abreu e o prefeito de Palmas, Carlos Amastha

Carlos Amastha e Kátia Abreu
Descrição: Carlos Amastha e Kátia Abreu Crédito: Montagem/T1

Escrevi aqui, há cerca de um ano sobre meu ceticismo com grandes obras, eternamente anunciadas sem que se concretizem rapidamente. Tenho um pé atrás com elas. Especialmente as milionárias. Sou adepta das soluções mais simples e mais baratas. O oposto das chamadas lendas urbanas.

Pois bem, faço o mea culpa com relação à Hidrovia Tocantins, para reconhecer que o principal empecilho à sua navegação começará a ser removido. A derrocada do Pedral do Lourenço teve edital da obra lançado semana passada no Pará pela presidente Dilma Roussef.

Ao seu lado estava a senadora Kátia Abreu, aliada recente, mas que – como já demonstrado em outras ocasiões – conquistou prestígio imenso com Dilma por sua capacidade de trabalho e visão macro. Kátia não é das parlamentares que anda por lá pedindo indicações, se é que me entendem . Sua pauta com a presidente, desde a primeira reunião ainda na oposição, é sobre problemas complexos, que precisam de muito entendimento e força política para serem resolvidos.

Alguma coisa como 43 km de pedras submersas no leito do Tocantins  onde existe um canal de 145 a 160 metros de largura. Na época de seca, a navegação é impossível. Um investimento de cerca de R$ 500 milhões que vai garantir um calado mínimo de 3 metros em qualquer dia do ano.

Esta obra, por grande e significativa que seja, é apenas parte de um projeto estratégico para revolucionar o transporte de cargas no interior do Brasil. Vai impactar sobremaneira a economia da região Norte. Estava parada desde 2011 e carecia de força política para voltar a entrar na ordem de prioridades.

Por mais que em ano eleitoral todos queiram “tirar uma casquinha” no lançamento de obras federais, só com muita ignorância de como funcionam as coisas em Brasília, se poderia atribuir a alocação destes recursos – que na prática vão desenrolar a Hidrovia - ao pedido de um governador do PSDB, do interior do Brasil.

Como se tentou na semana passada.

Todos pediram. Todos foram atendidos. A bancada do Pará então, fez o que pode. Mas dificilmente esse edital sairia sem o último ano de articulações da senadora Kátia Abreu, aqui e na China, onde o Banco de Desenvolvimento Chinês manifestou interesse em fazer investimentos no novo modal. Não por acaso a senadora esteve presente em toda a agenda presidencial daquele dia, ao lado da presidenta.

Adiante.

Amastha e seu BRT

Na outra ponta do arco iris da política local, oponente ferrenho da Senadora no campo partidário, está o prefeito de Palmas, Carlos Amastha.

No meio do tiroteio politico e das últimas ações que geraram desgaste popular - como o exorbitante aumento do IPTU, baseado numa planta de valores nitidamente exagerada - a maioria dos formadores de opinião ativos nas redes sociais não se atentaram para o significado da inclusão do BRT de Palmas, no PAC 2. Uma programação de liberação de R$466 milhões. Talvez pelo ceticismo com obras lançadas em ano eleitoral.

Mas vamos lá.

Politicamente, o prefeito vai enterrando a idéia do Metrô de Superfície -  que Siqueira prega há anos, mas não conseguiu viabilizar – ao indicar de onde virá o dinheiro para o BRT.

Não consegui ver este projeto do metrô, que era tratado com os espanhóis, mas nas conversas prévias não há a menor sinalização de que ele serviria como eixo integrador do desenvolvimento da cidade.

Aqui vale um parêntese. O Ministério das Cidades queria dar a Palmas R$ 100 milhões para o BRT. O argumento era de que a cidade ainda não tem problemas graves de mobilidade, como outras capitais mais populosas.

Amastha colocou o pé na parede. Com a ironia típica da sua inteligência, questionou se o ministério era uma pasta de apagar incêndios e não de obras estruturais e planejamento das cidades. Atingiu o alvo. 

Os dois eixos do BRT vão de fato “rasgar” a região Sul ao meio. Um deles passa por uma grande avenida, por dentro dos Aurenys. Onde há um vazio urbano considerável e áreas de difícil acesso, a pasta de Aleandro Lacerda foi projetando conjuntos habitacionais populares.

Mostrar todas estas obras integradas e fazendo sentido, fez a grande diferença para que Amastha conseguisse emplacar a necessidade do BRT em Palmas. Os recursos para Infra-Estrutura, comandada por Marcílio Ávila, numa cidade que sofre os efeitos de uma malha viária depauperada nos últimos 10 anos, também foram garantidos.

“Falo com orgulho que vamos fazer a refundação da cidade”, tem ditto o prefeito nas rodas mais íntimas. É o resgate de uma população isolada do que se pretendia ser o núcleo habitacional da capital: o centro do Plano Diretor.

Os 15 quilômetros que separam o centro da região Sul se tornarão mais suaves dentro do novo modelo de transporte proposto. E a aridez de uma paisagem semi-deserta e maltratada será substituída por aparelhos públicos e por moradias em outro nível de qualidade.

É pouco? Alguém acha que foi fácil conseguir isto?

Muito além das diferenças

Diferentes demais no trato e na trajetória política, afastados por um abismo de divergências e mágoas, Kátia e Amastha são dois líderes diametralmente opostos, que não se bicam.

Ela, radicalizou na oposição ao governo que ajudou a eleger. Ele, migrou do radicalismo do discurso feito na campanha de 2012, para uma relação cordial com os Siqueiras, pai e filho.

Para o povo, lá na ponta – mergulhado na estafante rotina diária da sobrevivência - e que pouco entende de política ou destes meandros, isso passa desapercebido e na maioria das vezes pouco importa.

O que é inegável, independente de preferências partidárias, é que a capacidade de fazer o mundo girar e as coisas acontecerem é coisa para poucos. Há que ter competência, visão e poder de articulação.

Kátia Abreu de um lado e Carlos Amastha de outro, estão mostrando o quanto podem fazer por seus representados.

Queiram, ou não queiram seus desafetos.

Comentários (0)