Nós que precisamos tanto ser mais civilizados

Agressões na reta final da campanha revelam o lado passional do brasileiro e do tocantinense: tanta agressão vale mesmo a pena?

Marcelo Lelis e Amastha: candidatos a prefeito
Descrição: Marcelo Lelis e Amastha: candidatos a prefeito Crédito: Montagem/ T1

 

Este não é um artigo para dar lição de moral em ninguém. Nem pretendo ser a palmatória do mundo.

 

Esclarecido isto, é necessária uma reflexão sobre os fatos e embates que tem movimentado estes dias da chamada “reta final” da campanha em todos os municípios tocantinenses.

 

O brasileiro, dos povos latinos, é em sua essência talvez o mais passional. Aguerrido na defesa do time, da religião, do candidato.  Briga, sofre e muitas vezes vai além do limite: agride para fazer valer o que está defendendo.

 

É aí que a coisa toda pega. É aí que afloram os instintos mais “animais” por assim dizer, revelando o lado mais atrasado do ser humano:  aquele que ao não conseguir se impor pela clareza das idéias apela para outras formas de “convencimento”.

 

Digo isto num domingo, depois de observar algumas cenas recentes como duas que aconteceram em Tocantínia. A primeira, naquela história controversa em que a prima do candidato a prefeito Muniz foi levada por dois homens e devolvida com o corpo e o rosto cortados por estilete.

 

Há quem duvide que foi sequestro. Mas ninguém duvida da agressão. Afinal, quem cortaria o corpo todo de estilete para fazer uma “cena”política? Descabido, não?

 

Ontem, o frágil clima de paz em Tocantínia foi novamente quebrado. Segundo um leitor que testemunhou a cena, o final de uma pedalada em favor do mesmo candidato (Muniz, do PSD) terminou com alguém da corrente adversaria avançando com um pedaço de pau sobre os ciclistas após um bate boca no ponto final da manifestação. Uma senhora idosa teria sido ferida. Amanhã, com a apuração devida, a matéria estará no ar com todas as informações.

 

Nas redes, agressão verbal

 

Se no interior o choque entre correntes adversárias chega às vias de fato, na capital as redes sociais retratam uma agressão mais sutil, porém não menos danosa: a que ataca a honra, difama, atribui crime. Uma espécie de “vale-tudo”em que um simples comentário ou interrogação desperta uma militância ensandecida que não admite sequer a clareza dos fatos que retratam o cenário das ruas nesta eleição.

 

Polarizada, a disputa em Palmas marca um momento completamente diferente da política tocantinense. Há uma ruptura com o discurso tradicional, um misto de frustração de expectativas e vontade de “dar o troco”.

 

Lélis paga conta que não é sua

 

Marcelo Lélis paga a conta do desgaste de integrar o mais antigo grupo político do Estado. Que fez muito, sem dúvida, mas que voltou prometendo muito, e que não está conseguindo satisfazer à altura seu eleitorado.

 

Dono de uma história própria, boa parte dela construída na oposição, nos oito anos e que seu grupo esteve fora do poder, paga uma conta que não é dele, é óbvio, já que nunca administrou a cidade. E se esforça para mostrar ao eleitor que terá a independência necessária para aproveitar o bônus de ter o apoio do governo, sem carregar o ônus do apoio em compromissos que engessem demais sua administração.

 

Amastha e medo do desconhecido

 

O empresário Carlos Amastha, que cresceu ao se apropriar com eficiência do discurso da indignação, chegou ao momento de estabilidade da campanha em que passa pelo desafio de responder à todas as dúvidas que pairam em torno dele.

 

Já que não tem experiência política, nem administrativa no serviço público, é natural que os holofotes se voltem para sua vida empresarial. Como lidou com seus negócios para crescer financeiramente? Dentro da lei, ou dando um jeitinho nela?

 

Como foi mesmo a história do fim da parceria Unitins/ Eadcon? Quanto sobrou de dívida, reclamada pela universidade na justiça pela falta de repasse da empresa aos cofres da Unitins, das mensalidades recebidas dos alunos? e porque não foi pago?

 

Fiz esta pergunta a ele na entrevista publicada neste portal e no jornal T1 Notícias – que respondeu -  mas é um assunto que tem voltado à tona no decorrer da campanha.

 

Amanhã tudo passa...

 

O que penso, é que todas as dúvidas e por quês em torno de assuntos importantes precisam ser esclarecidos por cada um dos candidatos com a serenidade de quem quer administrar Palmas para todos.

 

A militância precisa entender que em 20 dias tudo estará terminado e vamos nos ver nas ruas, no trabalho, nos eventos e nas redes sociais como antes da eleição. As agressões e acusações inconsequentes terão deixado seu peso e sua marca. E todos teremos que conviver com elas.

 

Por isto é que percebo que o eleitor mais equilibrado -  aquele que não está diretamente envolvido no processo -  quer respostas completas, convincentes, clareza  e coerência dos que se propõem a governar Palmas.

 

Amanhã, tudo passa: a eleição acaba e a vida continua. Vai ser mais fácil o convívio com os que não perderem o rumo e a civilidade.

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