Longe do calor das emoções do momento, o fato é tema para analistas e políticos avaliarem à luz da história daqui alguns anos, quando tudo esfriar. Quando o momento passar.
Por hoje, o rompimento de Kátia Abreu e João Oliveira ainda ecoa nas rodas políticas em Palmas, Brasília e pelo Tocantins a dentro. Vai demorar a passar e se acalmarem as repercussões das palavras ditas e publicadas.
Avalio como cada um acordou hoje: com gosto amargo na boca, depois do turbilhão de emoções vividas.
Ouvindo os dois ontem para contar a história direto das próprias fontes que a vivenciaram – sem o disse me disse de quem ouviu nos corredores ou no elevador – fiquei impressionada com a explosão de sentimentos misturados que levaram ao triste espetáculo da lavação pública da roupa suja.
Uma história vazada intencionalmente para que não passasse em branco, obrigando seus personagens a virem a público, uma e depois o outro, com suas justificativas.
A dimensão histórica do rompimento de Kátia e João, ainda não podemos avaliar. Mas lembra outro rompimento, o de Siqueira e Marcelo, que marcou uma ruptura no modo de fazer política no Tocantins, justamente por que um era o sucessor do outro.
Política é arte da traição, já dizia o ditado. Mas traição de que, de quem, de que princípios?
De prático, notamos que não adiantou à senadora Kátia Abreu, indicar o vice do governador Siqueira Campos para ter alguma participação no governo que ajudou a eleger. Siqueira deu aos aliados o que quis durante o curto tempo de convivência com eles. No caso de João Ribeiro (que nunca indicou um secretario), alguns meses e durante os dois anos e meio de apoio e convívio com Kátia Abreu, cedeu um pocuo mais (Omar Henneman que soube sair na hora certa, e Irajá Abreu, exonerado).
No campo emocional restaram sequelas graves. Uma amizade de sabe-se lá quantos anos foi diluída diante da expectativa de poder de 9 meses. O período que João poderá ter caso seja ele a solução escolhida para que Eduardo Siqueira seja candidato.
O passado fala sobre o presente, de fato! Raimundo Boi foi para Siqueira, na hora do rompimento, o amigo que João Oliveira não pode ser para Kátia, na hora do rompimento.
Olhando para trás, esta é uma história que já estava escrita. Ao declarar que João lhe propôs uma farsa, na verdade Kátia está dizendo que quem trai um, trai dois. Ao negar, o vice-governador devolve a batata quente: diz que foi Irajá quem sugeriu. Em quem acreditar?
O discurso e atitude mudando ao longo da história
Sem julgamento de valor, há que perceber o quanto o discurso muda ao longo da história.
Oliveira me disse ontem que foi eleito com Siqueira. Que não deve o mandato à Kátia Abreu, ou ao PSD. Que ela foi sua melhor parceira e a pior, por não ter admitido que ele seguisse seu rumo sem brigar, discutir, espernear.
E ele, mostrando os porta retratos dizia: “isto é amor. Eu sempre cuidei da Kátia. Até ontem eu dizia aos prefeitos: não larga a Kátia. Hoje eu quero trazer todos para nos apoiar”. Quando saí do gabinete chegavam Muniz de Tocantínia acompanhado da prefeita Márcia, de Lajeado.
O “nós” presente em todas as frases, inclusive na hora de defender as obras que segundo Oliveira estão brotando em todo o Estado, demonstra que o lado do vice-governador estava definido lá atrás, quando foi eleito.
Errou a senadora Kátia Abreu ao imaginar que a amizade por ela prevaleceria diante de tudo que representa o cargo de vice. Errou João Oliveira? O tempo e a história o julgarão.
E o povo? perguntam os leitores/eleitores nas redes sociais diante da escancaração dos detalhes da briga. Parece ter ficado de fora do foco. Tudo isso soa uma mera disputa pelo poder. Mas o poder para quê? Para arrumar a vida de quem?
Por enquanto perde a senadora Kátia Abreu, um dos seus históricos aliados. Um amigo, agora ex-amigo. E como são perigosos os ex-amigos. Mais do que os inimigos de uma vida inteira.
O tempo, senhor de todas as coisas, no entanto é quem vai dizer quem perde mais. Se pudessem os dois voltar atrás alguns dias, sabendo o que ocorreria, mudariam a história? Difícil responder. Mas a vida não volta a fita para trás.
Termino com o relato de um capítulo desta história que testemunhei. Volto depois.
“Foi há alguns meses, na casa da senadora Kátia Abreu. Era aniversário da pequena Jordana, filha mais nova do vice-governador.
Eu curiosa, peguei João Oliveira de lado, longe da senadora, queria ouvir dele sobre seu interesse na vaga do TCE. Comecei a conversa perguntando qual o melhor caminho que ele avaliava para o PSD e para o grupo da senadora ano que vem.
Ele me disse: “Olha minha filha, eu trabalho para não romper. Eu não vejo no Siqueira nem no Eduardo esta animosidade com ela. Eu sou dos que varrem pra dentro”.
Continuamos a conversa observados de longe pelos olhares de Kátia Abreu, que estava em outra roda.
Então perguntei sobre a vaga do tribunal, se haveria possibilidade de um acordo para que ele abrisse mão do cargo de vice para que o presidente da Assembléia assumisse.
Ouvi uma resposta emblemática: “Minha filha, se eu fui deputado federal, foi com o apoio de Kátia Abreu. Se eu sou vice governador, eu devo à Kátia Abreu. Para onde ela for, eu vou. Onde ela estiver, eu estarei”.
A conversa terminou com a chegada dela que perguntou, fazendo graça: “O que vocês estão conversando João? Eu chego a suar frio de ver você conversando sozinho com esta moça. Ela é perigosíssima. E ele: mas é claro que eu sei o que eu posso falar".
Eu sorri e mudamos de assunto”.
Hoje quando acordei, foi a primeira lembrança que me veio à mente.
Com licença do mestre Salô, no dia da sua missa de 7o dia: É, pois é. É isso aí.
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