A manhã desta segunda-feira, 19 de novembro, raiou com uma crise institucional instalada no governo do Estado por conta das repercussões da exoneração do delegado regional de Araguaína, Bruno Boaventura. Uma ação que foi lida imediatamente por policiais e populares como retaliação política contra a ação do delegado à frente da operação Expurgo.
A operação da polícia de Araguaína sob comando do delegado, produziu cenas largamente divulgadas pela imprensa local e nacional, que vão de lixo acumulado em propriedade do deputado estadual Olyntho Neto, até um video em que seu pai - ex-juiz de conduta outrora já questionada - foge pelos fundos de propriedade sua, com a chegada da polícia.
Uma manhã em que a petição pública online para a volta de Bruno Boaventura já tinha mais de sete mil assinaturas no nascer do dia e a cúpula da Secretaria de Segurança Pública, reunida no Araguaia, discutia com o governador a entrega dos cargos de primeiro escalão.
É neste cenário que o Tocantins viu surgir de volta um fantasma que parecia distante para o governo Mauro Carlesse: insegurança jurídica. Ninguém em sã consciência desconhece que delegados são agentes da lei com acesso a informações por demais privilegiadas. E que afetam agentes políticos de diversos partidos.
Polícia política é aquela que só age contra adversários do governo. Coisa que os delegados desta nova safra, a qual pertence Bruno Boaventura, não aceitam. Basta ver em que se transformou o Twitter, rede social mais frequentada por formadores de opinião, no final de semana.
Delegado da Dracma, que liderou a operação que prendeu vereadores ligados ao ex-prefeito Carlos Amastha na véspera das eleições gerais regulares, Guilherme Rocha (@deltaguilherme) usou seu perfil do Twitter para apontar: “preocupante! Quando a Operação Jogo Limpo investigava fraudes na Prefeitura de Palmas, reforçaram-nos com três assessorias. Agora com o aprofundamento das investigações e indícios de fraudes em convênios também no Estado com entidades do terceiro setor, nos tiram as três assessorias”.
Derrotado nas eleições ao governo, Carlos Amastha também se manifestou. Fugindo da linha “ligth” que vinha fazendo, partiu para o ataque: “… aprendi desde cedo a perder, porém não sou obrigado a ficar calado, constatando o que já sabíamos. Estamos sendo governados por uma quadrilha de crime organizado”.
Ainda candidato, o ex-prefeito de Palmas fez duras críticas contra o que chamou de ação política do governo via SSP para vasculhar e desacreditar sua gestão. A maior expectativa em torno da apuração dos ilícitos na Fundesportes, era que a investigação se estendesse rumo a outros parlamentares, abrigados sob o manto de proteção do governo. Sabe-se que Olyntho foi um dos mais citados em depoimento colhido de um dos vereadores presos na ocasião.
Pano rápido.
Enquanto o governo se contorce numa crise provocada pela falta de habilidade ou de julgamento das conseqüências do ato de exonerar o delegado tão próximo da operação Expurgo, vale avaliar o cenário e quem é o deputado Olynhto Neto, no cenário político atual.
Só assim é possível entender o tamanho do dano dos fatos que estamos assistindo desde a semana, na sustentação política do governo Carlesse. Que já vem com ruídos antes disto.
Até semana passada, com os problemas da campanha e tudo - incluídos ai os R$ 500 mil apreendidos praticamente na véspera da eleição em Araguaína, com o irmão do deputado - ainda era possível ouvir de parlamenares nos bastidores, que Olyntho seria o nome preferido pelo governador para comandar a Assembléia Legislativa. Para tanto estaria preparado financeiramente. Dois deputados de mandato novo haviam recebido recado do governador para aguardar a indicação do nome em quem deveriam votar na sucessão da deputada Luana Ribeiro.
O efeito Olyntho já era sensível no afastamento e na insatisfação não disfarçada por exemplo, do deputado Eduardo Siqueira Campos. Este não esconde dos mais próximos que duvida que o governo se sustente politicamente e que tenha sucesso nos embates jurídicos que o governador já enfrenta. Que aliás correm em duas vias: a eleitoral e a justiça comum, por fatos relacionados ao desempenho empresarial antes até da chegada ao Tocantins.
Um Eduardo descrente que o governo dure, podia ser ouvido pelos mais próximos, sem reservas. Um dos motivos seria um pedido que foi fazer ao governador para nomeação de um aliado, para o qual ouviu a seguinte resposta: “procura o Olynhto”. Ao que respondeu: “procura o Olyntho? Não, eu não tenho nada que tratar com o deputado Olyntho, minhas demandas eu trato com o senhor, que é governador”.
Fecha parênteses.
O escândalo do lixo, do ex-juiz e do delegado exonerado, tomou proporções inesperadas pelo governo. Reagir com o fígado diante de uma nova geração de profissionais concursados, que acredita no trabalho que está fazendo pode dar outro rumo, definitivamente aos fatos que temos assistido.
Carente de líderes e diante do esgotamento eleitoral das mais tradicionais famílias da política tocantinense, o eleitor comum apostou no desconhecido para manter uma suposta “estabilidade”. Se ela não se sustenta e não se constrói diante da pouca habilidade de quem opera o governo, o tocantinense começa a se ver diante de um 2019 instável.
Aqui já tivemos governador cassado por abuso do poder político, e por abuso do poder econômico. Já tivemos ex-governador preso na carceragem da Polícia Federal, temos deputado federal campeão de processos. Mas o inédito ainda pode acontecer: um governador recém eleito ver seu prestígio e sustentação política serem minados por uma crise da polícia civil.
A conferir, nas cenas dos próximos capítulos.
#somostodosBoaventura
Comentários (0)