O legado de João

É a terceira vez este ano que abro um editorial para falar da perda de um amigo. Neste, nem sei por quantos corações solidários sou acompanhada.

Desde sexta-feira passada, 13, somos assombrados a toda hora com uma notícia -  até então falsas notícias -  de que o senador havia partido.

 

Hoje o silêncio dos assessores no Whatsapp e a demora em responder às ligações telefônicas trouxe a confirmação, junto com as palavras do deputado Osires Damaso na Assembléia.

 

A morte faz parte da vida. A de João, morte anunciada pela piora recente em seu quadro. Coisa que nós, seus amigos, nos recusávamos a aceitar nesta estúpida certeza de que a vida sempre prevaleceria.

 

Dizem que jornalista tem que ser imparcial até na hora da morte. Vão desculpando. Não sou.

 

Perdi com a partida de João Ribeiro um grande amigo. Costumo dizer que os amigos são os que mais me atrapalham no exercício da profissão. Mas João Ribeiro era dos que ajudavam. Nunca negava uma palavra. Nem nas situações mais complicadas.

 

Cansei de ouvir longas histórias que ele me contava, sempre começando assim: “Você é minha amiga, vou te contar tudo. Mas só pode publicar uma parte. Um dia, se você quiser, quando tudo passar, pode contar o resto”.

 

É assim a relação com as fontes mais próximas. Há tantas nuances nos fatos políticos que para compreender o processo às vezes é preciso silenciar. Ouvir e esperar a hora de dizer.

 

Muitas das histórias de João, o guerreiro, vão ficar para o livro de memórias. Histórias de campanhas. De cisões e de reconciliações.

 

Dizer o quê?

 

Que o Tocantins vai sentir falta dele, não há dúvidas. Que não há ninguém com características pessoais como as suas para fazer o que ele fazia no atendimento a tantos líderes, prefeitos, vereadores - é repetir o óbvio.

 

Seu amor por Cínthia, inegável. Tinha olhos de marido apaixonado sempre que ela nos interrompia no escritório para servir qualquer coisa. E a paixão pelo pequeno João Antonio? Gostava de contar como sua vida é um milagre de Deus. O carinho e a proteção com Luana...

 

João Família. Um grande coração.

 

Acompanhei nos últimos anos seu sonho de ser governador do Tocantins. Primeiro lá atrás, contando com o apoio que não veio de Gaguim. Não deu certo. E agora, por último, a imensa vontade de vencer a doença a tempo das eleições do ano que vem.

 

Será que se ele soubesse quantos dias de sol e chuva lhe faltavam, faria alguma coisa diferente? Iria menos à Brasília, passaria alguns dias no Rancho? Não dá para saber.

 

Comentando um dia desses com um amigo comum que eu achava que o Senador precisava priorizar absolutamente a saúde e deixar a política de lado, ouvi: “mas é a volta ao cenário político o que mais lhe dá forças”.

 

Sim. Era um apaixonado pela política nacional e pelos destinos do Tocantins, especialmente.

 

Polido, leal, homem de uma só palavra. Não tenho dúvidas de que até os adversários disputarão a chance de carregar-lhe o corpo na última viagem.

 

João Ribeiro parte deixando um vácuo. O que será do comando do PR, qual será o rumo do partido, para onde irão seus companheiros, é assunto para depois.

 

Na tarde cinzenta desta quarta-feira, enquanto lá no Sírio Libanês os últimos preparativos são feitos para devolvê-lo ao Tocantins, o tempo pede uma parada.

 

Que os abutres da dor alheia possam calar seu carreiro de maldade e silenciem também por um instante seus tolos julgamentos, críticas vazias e mesquinharia.

 

É tempo de silêncio, de solidariedade, de respeito à dor, de compaixão.

 

Partiu o João da Ótica, o João dos Prefeitos, o João dos amigos, o João da Cínthia, o Grande João.

 

Que Deus o receba! E acalme os que ficam...

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