O passo de Marcelo Lelis e o desafio de voltar a ser o novo

Repercute desde ontem nas redes sociais o anunciado rompimento do deputado Marcelo Lélis com o governo, publicado nesta terça-feira, 18...

Marcelo Lélis: deixando os Siqueiras para trás
Descrição: Marcelo Lélis: deixando os Siqueiras para trás Crédito: Lourenço Bonifácio

 

Para uns, o corte que o deputado faz com o grupo original é uma leitura prática das urnas: “pagou um preço caro, de uma conta que não era sua”.

 

Para outros, soa como oportunismo em deixar o barco do governo que ajudou a eleger, num momento de desgaste: “é ingratidão”, dizem.

 

No geral, os comentários refletem que Marcelo abriu mão de ser governo faltando mais de um ano para o final do mandato e busca acertar de novo o passo com a opinião pública. Detalhe: ele se desgarra do grupo que governa o Palácio Araguaia, num momento de desgaste da classe política tradicional, não só no Tocantins, mas no Brasil.

 

O anúncio do deputado chega na segunda semana de protestos por todo o País, que começou justamente por conta do aumento da tarifa do transporte público em São Paulo. Tarifa é um assunto que tem muita similaridade com Marcelo Lélis em Palmas. A turma do Sindicato das Empresas de Transporte Urbano que o diga. Na última ação que protocolou na justiça ainda na gestão de Raul, conseguiu “congelar” por seis meses o preço da passagem.

 

O deputado, no entanto, deixou passar no discurso que fez ao anunciar o passo à frente do PV ontem na sede do partido, que está de olho num horizonte muito mais largo que a simples reeleição à Assembléia Legislativa.

 

O retrovisor

 

Se Marcelo ganharia as eleições em Palmas sem o governo, como muita gente acredita, é uma incógnita difícil de decifrar. Parênteses: No desabafo feito por telefone com Eduardo Siqueira, após o anúncio, o deputado federal Eduardo Gomes(PSDB), preterido na disputa, teria pontuado algumas coisas.

 

“Se eu fosse o candidato, teria bancado a minha campanha com ajuda nacional, e de quebra talvez o Amastha nem tivesse disputado”, teria dito ele a Eduardo Siqueira. “Mas mesmo preterido várias vezes, continuo aqui. Eu não sou independente. Sou dependente quase químico: dependo dos meus companheiros, da minha família, da minha história, do meu grupo. E não tenho vergonha disto”, disparou Gomes.

 

Não é segredo que Eduardo Gomes queria – e ainda quer viabilizar -  uma candidatura ao Senado em 2010, que também não aconteceu. Detalhe: a vaga de Vicentinho foi oferecida antes a Lélis, que declinou. Seu nome aparecia forte nas pesquisas espontâneas de opinião.

 

 O teor da ligação de um para o outro Eduardo – que o secretario não comentou, mas também não desmentiu em entrevista nesta quarta-feira ao T1 Notícias – soa como um recado.

 

Pano rápido.

 

Vôo solo ou acompanhado?

 

Diante de vários repórteres - que não se contentavam com o discurso paz e amor adotado por Lélis ao anunciar que deixava a base, e a negativa em avaliar o resultado das eleições em Palmas como um componente da decisão - o deputado reagiu meio pressionado: “Peraí, vocês não tão entendendo, ou não estão fazendo questão de entender?” perguntou, provocando risos.

 

É que a imprensa já anda acostumada a ouvir discursos com um texto e outro contexto.

 

No caso de Marcelo, alguns questionamentos saltam insistentes: por que o rompimento só agora e não antes do processo eleitoral? Ele acreditava que o cenário era altamente favorável com o apoio total do governo e não achou oportuno dispensá-lo?

 

Ou: Ao anunciar vôo solo, enquanto conversa com Raul Filho, João Ribeiro, Marcelo/Dulce Miranda e a senadora Kátia Abreu, o deputado não estaria buscando onde encaixar um projeto maior? Como uma senatória, por exemplo?

 

O fato é que o passo à frente de Marcelo, deixa o desgaste do governo para trás, mas deixa também companheiros. O cuidado em tentar não ferir o grupo que o trouxe para Palmas e no qual militou nas duas últimas décadas, mostra que lá estão boa parte dos seus eleitores. E lógico, o deputado não quer perde-los.

 

As respostas para as dúvidas que o gesto de Lélis e seu PV deixam no ar, virão sem dúvida com o tempo. “Não será uma atuação do discurso, mas de ações firmes, pontuais”, disse ele na coletiva.

 

Na verdade, entre o Marcelo Lélis que apoiou Gaguim e rompeu no momento exato de dar apoio a um Siqueira que voltava ao cenário, e o deputado que falou à imprensa ontem, não existe um grande abismo.

 

Talvez de fato ele tenha percebido que os grandes totens da política tocantinense estão quebrados. E que há muita ânsia pelo novo. Seu pulo do gato será provar que continua novo depois de tanto tempo e tanto comprometimento com  decisões ruins do seu antigo grupo (não me esqueço do discurso em favor da terceirização da Saúde na tribuna da Assembléia).

 

Criar um novo grupo, fomentar militância, acertar o projeto e ser a cara dele é um caminho que começa agora para Marcelo Lélis. Neste contexto, o rompimento foi apenas seu primeiro passo. Acertar os próximos é que será seu grande desafio.

 

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