O retrato de uma campanha pobre e seus argumentos nas ruas

Primeira semana de campanha para valer mostra candidatos errando na fórmula, perdendo tempo de TV e rádio e repisando velhos argumentos. Eleição está visivelmente pobre de dinheiro e de paixão...

A campanha está nas ruas de Palmas há pelo menos 15 dias. Ou parece que está. Tímida, mais pobre do que nunca - rescaldo de uma nova lei eleitoral, sem financiamento de empresas na campanha - a eleição que vai escolher prefeito e vereadores este ano clama por mais criatividade, jogo aberto, conversa franca. E menos firulas.

 

Nos eventos que fui, dos candidatos majoritários que lideram a preferência popular, foi fácil perceber que candidatos a vereador ainda não tinham material próprio. De Amastha a Cláudia Lelis, passando por Raul Filho, a campanha começou com material apenas do majoritário. No fim da semana que passou, alguns (os mais organizados) começaram a circular com panfletos, adesivos para carro. E só. 

 

No interior a coisa não está muito diferente. Mesmo quando o interior tem ares de capital, como em Araguaína, capital do boi, a campanha ainda é tímida.

 

Escutei de um coordenador: “se você fica um fim de semana parado, economiza de R$ 10 a R$ 30 mil. Se ficar uma semana, economiza de R$ 50 a 70 (mil)”. E assim, como num jogo combinado, tudo o que era comum de se ver a esta altura do campeonato, ainda não chegou. Especialmente os cabos eleitorais contratados.

 

Mas se a campanha é fraca em presença visual nas ruas, o mesmo não acontece na TV, no rádio e nas redes sociais. Com um diferencial: em Palmas, dessa vez, nota-se menos paixão. Ressalvadas as agências e profissionais de comunicação envolvidos nas campanhas principais, uma vez que estes têm nelas seu palco principal de show de talentos. E aí criatividade não falta nos memes e no material que circula especialmente no WhatsApp, fora dos olhos atentos da justiça eleitoral.

 

Já na TV, mentira não tem perdão. Deu informação falsa, a tesoura do TRE come: inserções ou trechos inteiros de programas. Basta acionar o juiz eleitoral e provar o mal-feito, que a decisão vem. 

 

Nas ruas, o que se nota, no entanto, é que boa parte do eleitorado já está decidido, neste começo de setembro, que promete correr rápido.

 

Quem advoga a volta de Raul não vê qualidades em Amastha. E olha que nem se compara a gestão de um com a do outro. 

 

Quem defende Amastha excomunga a possibilidade da volta de Raul, e não compreende de onde saiu seu apelo popular.

 

Na campanha da vice-governadora Cláudia Lelis sobra otimismo na luta para crescer e sair do terceiro lugar. Apesar do governo que lhe pesa aos ombros. Vide a pílula em que a candidata a prefeita comemora os 10% da pesquisa do Ibope e chama o eleitor para juntar-se a ela e crescer para a casa dos 15, 20… 

 

Com pouco tempo na TV, Zé Roberto, do PT, aposta na sola de sapato e tem caminhado Palmas. Menos tempo ainda tem Sargento Aragão, que faz o discurso anti-corrupção, contra aquele de quem foi vice.

 

Assim como está, a campanha para prefeito de Palmas passa longe de estar definida.

 

Nesta segunda, acrescenta-se ainda mais uma dose de insegurança jurídica à discussão eleitoral. É que - como era de se esperar - o Ministério Público Federal contestou na sexta-feira, a liminar que Raul filho obteve no TRF e pede sua revogação.

 

Nos bastidores, fala-se  que a estratégia do ex-prefeito é tentar empurrar como der sua inelegibilidade à custa de liminares, buscando vencer as eleições. Acredita, assim, protelar uma possível decisão desfavorável no mérito da revisão criminal que pede, para depois do dia 2 de outubro. E, de recurso em recurso, tomar posse para depois brigar pela manutenção do mandato.

 

Fora da discussão nos tribunais estão, de um lado Carlos Amastha, com todo legado da gestão que foi capaz de construir - ainda que sob as críticas que sofre pelo estilo brigador e pela alta carga tributária - e de outro Cláudia Lelis, que contrapõe o prefeito com a promessa de que pode fazer uma gestão eficiente, mas mais humanizada.

 

Entrevistando os dois na semana passada, eu e Fernando Hessel, do SBT, deu para sentir os argumentos e o estilo de cada um.

 

Amastha, ao final, foi pedir os votos dos cinegrafistas com a seguinte frase: “me engulam mais quatro anos e vamos terminar de fazer a transformação que esta cidade precisa… Depois vocês elegem o bonzinho”.

 

Já a vice-governadora, que também não perdeu a oportunidade do pedido do voto, foi direto no ponto fraco de Raul: “quem não quiser Palmas como está e quiser votar com certeza de que está apostando numa candidata elegível, essa sou eu, sem sombra de dúvidas”.

 

A luta para eles e todos os outros candidatos continua e só termina dia 2 de outubro, no final da tarde. Até lá tem chão, numa campanha sem a graça e a paixão das outras, assistida por uma população entre ressentida e desconfiada, que precisa ser convencida até a hora final.

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