Quando desembarquei em Palmas, no dia 3 de abril de 1991, o Tocantins tinha acabado de sair do primeiro governo Siqueira Campos, que durou dois anos de mandato, e havia eleito recentemente Moisés Avelino.
O clima nas ruas poeirentas, nas secretarias de paredes pré-moldadas de cimento, nos hotéis construídos rapidamente com aquelas peças de madeira que exalavam cheiro podre, era de paixão e efervescência.
Tudo aqui já girava em torno de política. Obras, empreiteiras, empregos, conversa de bar, relacionamentos. Tudo dependia de a quem você era ligado, quem havia te convidado, quem havia “trazido” quem para o Estado.
Na sucessão de Avelino, Siqueira voltou, derrotando João Cruz. Antes disto, veio a sucessão de Fenelon Barbosa, primeiro prefeito de Palmas, na qual Eduardo Siqueira foi eleito, derrotando Eudoro Pedroza.
Graças à reeleição, aprovada pelo Congresso Nacional, Siqueira emendou dois mandatos de governador, dos quais saiu para passar a faixa a Marcelo Miranda, então seu aliado.
E Eduardo Siqueira fez o sucessor, Dr. Odir Rocha, sucedido por Nilmar Ruiz. O escândalo provocado pelas denúncias de improbidade na prefeitura de Palmas inviabilizaram qualquer projeto de reeleição de Odir.
Quebrando a sequência, virando o jogo
Ao longo destes 24 anos de Tocantins, as urnas premiaram a rebeldia duas vezes. Com Raul Filho, que quebrou a sequência no Paço Municipal, derrotando Nilmar Ruiz na sua disputa pela reeleição em 2004. Seu mote de campanha era “coragem!”. Perdeu duas (para Odir, e para Nilmar) para enfim vencer a terceira.
De lá para cá Raul fez dois mandatos de quatro anos cada, que terminam agora, em dezembro de 2012.
Siqueira e Marcelo romperam, e as urnas elegeram o filho de Brito Miranda, que havia ajudado Siqueira a construir uma engenharia politica com aliados e dissidentes do PMDB.
E Marcelo, rompido com Siqueira, fez do governo do rompimento um marco da diplomacia, boas relações políticas e com o funcionalismo, que lhe rendem até hoje a boa receptividade que tem por onde vai. Cassado pelo Rced, foi sucedido pelo acelerado Carlos Gaguim, que a despeito de todas as críticas fez o governo da injeção de recursos na economia.
A seu modo, Raul Filho e Marcelo Miranda fizeram a quebra da sequência no jogo político do Estado, e representaram, cada um no seu tempo, a mudança.
Quanto mais o tempo passa, e as paixões arrefecem, mas se pode avaliar friamente o que cada gestão desta representou em termos de conquistas reais. O que deixou de endividamento. O que conseguiu ou conseguirá deixar de registro positivo na memória das pessoas. E se atendeu as expectativas que criou.
Véspera de decisão: maturidade é necessária
A verdade é que toda vez que uma eleição se aproxima, uma enxurrada de emoções se misturam. O latino, o brasileiro e o tocantinense são passionais. Não tem jeito. E é esta característica que transforma as ruas em campos de batalha à véspera de cada eleição.
Quem entra para disputar um cargo público tem - por obrigação - que ter mais frieza que seus militantes. Até para não incitar e segurar, como puder, o comportamento inflamado que gera embates e confrontos desnecessários.
Amanhã o Tocantins vai às urnas nos 139 municípios do Estado. Em cada um deles, a política local evoluiu de um jeito. Em boa parte ainda restam artifícios rasteiros. Em muitos ainda se vê violência na defesa de pessoas, e não de ideais.
Em 21 anos, dos 24 do Tocantins, já presenciei muitas campanhas políticas. Algumas com resultados surpreendentes. Acredito que o eleitor amadurece a cada dia que passa. Fica mais crítico, fica mais cético. E mais adulto. Menos vulnerável.
Por tudo isso, tenho fé que esta eleição será a mais civilizada da história do Estado. E que prevaleça nas urnas a vontade soberana deste povo. Se a escolha será certa, ou errada, os próximos quatro anos, em cada cidade, é que vão dizer.
Bom voto a todos os que votam aqui!
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