O velho combate e o discurso do novo: mudança, para onde?

Amigos, retorno à lida da cobertura e análise política após curtas férias, de olho no discurso do novo...

As cinco chapas majoritárias inscritas no TRE com pedido de registro a ser deferido ou não até o final do mês, já estão na briga pela confiança do eleitor que pretendem ver se materializar em voto no dia 05 de outubro.

 

A primeira chapa a pedir o registro foi o Psol, que trocou o novo Élvio Quirino, de formação acadêmica e militância orgânica, pelo conhecido Joaquim Rocha , ex-vereador da capital. A justificativa para alterar o pré-candidato a governador, aprovado em convenção - que passou a disputar o Senado - é que um é erudito e o outro é pragmático.

 

O PCB registrou Carlos Potengi, bancário, um dos filiados mais antigos no Estado, que não optou por registrar nome. Maria da Conceição, Ceiça, é candidata a Senadora.

 

O terceiro pedido de registro de chapa majoritária, foi o do ex-governador Marcelo Miranda e seu vice, deputado Marcelo Lelis, cujo grupo lança-se sob o nome “A experiência faz a mudança”. Ao Senado, disputa reeleição a senadora Kátia Abreu, tendo na primeira suplência o PT como novo aliado, representado pelo ex-presidente da legenda, Donizeti Nogueira.

 

O quarto a protocolar seu registro foi o senador Ataídes Oliveira, do Prós, com o slogan Reage Tocantins”. Ao senado, concorre o combatente deputado Sargento Aragão, com Moacir do Basa na suplência.

 

Protocolando seu pedido de registro por último, já no limite do horário, o governador Sandoval Cardoso e seu vice, deputado federal Ângelo Agnolin, adotaram como nome para sua coligação A mudança que a gente vê”. Ao senado, o utista de carteirinha, Eduardo Gomes, trazendo o empresário José João Stival na primeira suplência na primeira interferência do ex-governador Siqueira Campos na campanha governista.

 

Todos querem ser a mudança

 

O que fica evidente no discurso dos candidatos a governador é que todos querem ser a mudança que o eleitor deseja. Ou melhor: buscam se identificar com esse sentimento.

 

E aí cabem as perguntas: mudar o quê? Mudança para onde?

 

Não é necessário ir longe para saber do que o eleitor está cansado. Talvez o sentimento mais forte seja o do abandono pós eleição, o do esquecimento. A necessidade da mendicância do cidadão por seus direitos básicos, depois que o candidato se elege e passa a ser “autoridade constituída pelo voto”.

 

O fato é que não fica por aí o cansaço da mesmice da política, que afasta as pessoas da participação neste processo. Enquanto as claques já afinam seus discursos nas redes sociais, a maioria dos cidadãos seguem suas vidas alheios a tudo isso.Só se envolvem quando este envolvimento acena com alguma mudança prática nas suas vidas. Um contrato, uma promessa de emprego, uma "ajuda".

 

Nem é preciso ler pesquisa qualitativa para compreender que o eleitor não quer a chamada “familiocracia”, onde os espaços de poder e suas estruturas de voto são transferidas de pai para filho, esposa, irmão. O cidadão comum se sente lesado quando é preterido por algum esquema familiar de um político, mas contraditoriamente ainda vota naqueles com quem tem algum laço, mostrando que este vínculo - especialmente no interior mais carente – ainda perdura.

 

O eleitor ainda segue buscando o candidato com perfil independente. Capaz de fazer um governo mais eficaz, na prática. E que não seja um completo desconhecido. Busca e deseja a alternância de poder. Duro, é encontrá-lo.

 

Miranda aposta na experiência

 

Num Estado grande como o Tocantins e de realidades tão diversas, Marcelo Miranda surfa na onda da preferencia popular há pelo menos um ano. Tem o histórico que o favorece por ter sido um governador que respeitou as instituições e que travou uma das melhores relações com o servidor público.

 

No slogan de sua coligação relembra o eleitor de que é experiente para fazer a mudança. Uma mudança que, na rasa compreensão do cidadão comum, seria trocar o time do Siqueira pelo time do Marcelo.

 

Os últimos anos em que os siqueiristas em todas as instâncias combateram Marcelo Miranda só serviram para mitificar seu perfil como alguém que sofre o julgo de um poder maior que domina tudo, e faz de Marcelo uma vítima de perseguição política. Outra coisa que o eleitor comum abomina. Todo o processo de cassacão de mandato, obras pagas e não concluídas, fica restrito a um pequeno grupo que se divide entre os que compreendem e relevam, e os que não aceitam e o combatem por isto.

 

Ser esta mudança, já tendo governado e incorrido em erros que certamente serão explorados pelos seus adversários é o desafio maior desta chapa.

 

Sandoval e a mudança de ânimos que já começou

 

Já o candidato Sandoval Cardoso é o representante da metamorfose do governo que termina. Ao assumir o poder através de uma dupla renúncia - que se revelou completamente desnecessária sob outro prisma que não fosse entregar o comando ao real candidato da coligação antes da hora, dando-lhe o controle parcial da máquina e do cofre - herda a carga da apatia do governo Siqueira em enfrentar os problemas nos últimos anos.

 

Herda a carga dos erros do governo, sejam em casos escandalosos de corrupção, como o rombo do Igeprev, seja na ineficiência em recuperar as estradas só enfrentada às vésperas do período eleitoral, ou a incapacidade de atender às demandas da Saúde, por mais que os investimentos tenham sido feitos acima do limite legal. Ou no crescimento desenfreado da violência.

 

Mas Sandoval já promoveu de fato uma grande mudança e esta pode ser essencial num embate eleitoral: a de ânimo na classe política e consequentemente na militância.

 

Resgatou e vem resgatando do sentimento de “abandono”, antes de mais nada os políticos, categoria que faz girar a máquina do voto do interior. E quando se oxigena um deputado, um prefeito, um ex-deputado, toda a base se movimenta.

 

Se o governo tem mostrado finanças debilitadas, os governistas nem tanto. E é no apelo da máquina, junto com a perspectiva de entregar o poder nos próximos quatro anos a um governador novo, mas que defende e representa o mesmo grupo, que está o X da eleição.

 

Tudo se resume a como isso será entendido pelo eleitor: se será melhor votar no candidato do Siqueira, que já está reformando a casa com os moradores dentro, ou trazer de volta Marcelo Miranda e mudar tudo de novo.

 

Ataídes e a expectativa de um pleito menos plebiscitário

 

Enfrentando todas as dificuldades com a certeza de quem tinha a legenda e tem a estrutura para levar sua mensagem a todo o Tocantins, o senador Ataídes de Oliveira protocolou seu pedido de registro indicando que pode ser o contraponto desta eleição, para evitar que ela se torne plebiscitária. 

 

É um papel que o deputado Marcelo Lelis trabalhou para desempenhar nesta eleição, mas isolado com a decisão do PT Nacional em determinar a coligação com o PMDB no Tocantins, se viu sem as condições de fazer.

 

Ataídes está aí para cumprir esta função: a de impedir que o pleito seja plebiscitário. Se conseguirá levar uma mensagem diferenciada ao eleitor e se mostrar como alternativa real de gestão sem compromisso com as estruturas do passado, só o tempo dirá.

 

Por fora, correm os pequenos partidos. Sua fragilidade política e a incógnita do que seriam administrativamente retiram-lhes a capacidade de concorrer com as estruturas maiores em tempo de TV e capacidade de articulação da militância. Mas ainda assim terão espaço para dar seu recado.

 

O que teremos por aí no debate que se avizinha, é um velho combate, retocado com o discurso da mudança. Novo, de verdade, ninguém é.

 

O que o eleitor terá como desafio pela frente é rasgar a fantasia e analisar quem é quem neste processo.

 

Uma tarefa nada fácil, já que a multidão é presa fácil da emoção. E esta, como tem mostrado a história, o bom marketing político tem conseguido manipular.

 

Que os tocantinenses possam ser capazes de escolher o melhor caminho para traçar seu destino. Ou o menos pior.

 

 

 

 

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