Os divergentes se unem para opor-se: a quê? Para onde?

Amigos, causa preocupação o quadro que se desenha rumo às eleições de 2014 no Tocantins...

 

Do jeito que as forças políticas estão se posicionando pode ficar bem raso o debate político ao qual o eleitor será submetido nas próximas eleições.

 

É o que se depreende de um jogo de forças dividido basicamente em dois caminhos: o governo e quem está com ele, embarcando no projeto de eleição do ex-senador Eduardo Siqueira Campos de um lado; e as oposições reunindo todos os que historicamente já eram contra o jeito Siqueira de governar, agora acrescida dos que se colocam decepcionados com o quarto mandato exercido pelo governador.

 

Além dos dois blocos, ouvimos algumas vozes destoantes do modo de fazer oposição. Ataídes de Oliveira, com seu Prós, que não perdoa ninguém. E o prefeito da capital, Carlos Amastha.

 

No caso de Amastha, que venceu as eleições contrapondo o novo e o velho num discurso agressivo contra o governo, seu então candidato (deputado Marcelo Lelis) e tudo que classificou como a velha política vale refletir. Para ele não haviam cores intermediárias, só o preto e o branco, o bem e o mal num discurso maniqueísta que mudou pouco depois que as eleições terminaram.

 

Amastha aponta, mas também vivencia a contradição

 

Agora vejam: li ontem no Portal CT, o prefeito acusando os oposicionistas ao projeto de eleição de Eduardo, de serem a velha política também, interessada apenas na sobrevivência pessoal de seus mandatos.  E defende: “todos eles devem o que são ao governador” (sic). Tem seu viés de verdade, mas vindo de Amastha é espantoso.

 

Basta lembrar que ele chegou ao Tocantins como empresário, sócio de Borges da Silveira na Eadcon  – e trafegou bem próximo de Siqueira até perceber que não teria espaço para seu projeto político na antiga União do Tocantins – com o sonho de ser senador.  Andou bem perto de Marcelo Miranda, construiu seu shopping em área cedida a preço simbólico e com recursos de banco estatal.

 

Depois disso, filiou-se ao PV, de onde saiu novamente sem espaço para o PP. E fez o que já se sabe: uma campanha calcada no sentimento de rejeição da população de Palmas não só ao governo como à velha forma de fazer política: na base dos arranjos inexlicáveis, adesões esquisitas, contratações de lideranças para carrear votos. Enfim, tudo que se conhece e se viu na campanha de 2012, fartamente.

 

Mas a questão de 2014 no Tocantins não é Amastha. Faço o gancho apenas para mostrar um lampejo de lucidez na fala do prefeito, assim como fato de que ele também não está livre das contradições.

 

O discurso neste sentido, já caminha afinado. É perceptível também nas palavras de Nicolau Esteves, do PT, criticando o grupo, ao qual não pretende se juntar: “varrer para dentro demais pode não ser bom”. Nicolau, como se sabe, tornou-se figura pública no universo político administrativo do Estado, pelas mãos do governador Siqueira Campos, que o nomeou secretario de Saúde. Neste governo. Bem aí na recente memória de todos.

 

Pois bem. É aí que quero chegar: ninguém está livre das contradições. A maioria já passou sim pelo grupo siqueirista. Me lembro de ter escrito sobre isto claramente na campanha de 2010, neste artigo:  Quem nunca foi Siqueira, que atire a primeira pedra.  .

 

A questão não é esta. Já dizia James Russell Lowell:  Só os tolos e os mortos jamais mudam de opinião".Ainda mais movidos pelos fatos.

 

Motivos para fazer oposição não escondem falta de projeto

 

Que há um sentimento flagrante de decepção entre milhares dos que votaram em Siqueira Campos na expectativa enorme de que ele estivesse voltando “para botar as coisas todas no lugar”, é inegável.

 

O governo tem problemas. Cometeu muitos erros. Terminará seu terceiro ano de gestão mergulhado nas explicações dos milhões do Igeprev que sumiram. Ou que foram torrados em fundos podres, não por acaso, mas pela ação sistemática e organizada de uma quadrilha especializada em fraudar. Uma quadrilha com cabeça tronco e membros. Importantes membros no Tocantins. Coisas até aqui sem ação, sem reação, sem explicação.

 

Sim, existem muitos motivos  para que adversários históricos e ex-aliados do governador se unam.

 

O problema é que o povo, o eleitor comum, não entende esta salada mista de todos sentados à mesma mesa como o aparente propósito de derrotar alguém, pura e simplesmente.

 

Erram as maiores cabeças, os líderes deste movimento, em começar a discussão pelo avesso.

 

O Tocantins há muito tempo carece de projeto. E de alguém com capacidade administrativa e sensibilidade política para tocá-lo. O Estado hoje se assemelha a uma massa falida. Não  que lhe falte margem de endividamento (e o governo tem pressa e sede em usar esta margem) mas é um Tocantins de poucas alternativas econômicas, pouca capacidade de atrair investimentos, com uma imensa máquina administrativa a consumir recursos. E parcelamentos de dívidas, baixa arrecadação afetando diretamente os recursos para custeio.

 

É esta realidade, que se arrasta e não muda, que afeta diretamente a vida das pessoas e torna o cidadão/ eleitor, em sua maioria, dependente de uma política tosca, curraleira, atrasada. A política da compra de lideranças que se auto intitulam donas dos votos. Especialmente no interior. A política do vale-gás, do emprego público, do favor.

 

Palácio faz o movimento esperado de captação de prefeitos

 

O Palácio Araguaia atrai prefeitos com obras -  que a princípio são da sua obrigação – e promessas de liberações de recursos. E evidente, casa o discurso administrativo com a pauta política para beneficiar o projeto de Eduardo. Um jeito antiguíssimo de fazer campanha. E que todos, com raras exceções utilizam por aí.

 

Já a oposição, na minha opinião, patina no discurso do contra quem, esquecendo-se do contra o quê e com que alternativa.

 

De fato, falta projeto para o Tocantins dos dois lados. Pelo menos até aqui.

 

Governo e oposições vão correndo o risco de tocar a vida e a campanha como quem toca boiada. E este é um triste cenário para um Estado que precisa e merece mais.

 

Dificilmente o eleitor entenderá as mais diversas figuras, os mais diversos líderes unidos acima das divergências e discursos virulentos já feitos uns contra os outros com o simples objetivo de destruir o outro grupo.

 

Do jeito que as coisas vão, há mais coerência no jeito torto de quem maneja o manche do poder, do que nos que a ele se opõem.  É esta a preocupante realidade do cenário político do Estado neste finalzinho de outubro.

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