Os vários PMDBs revelam sua face no pedido de Impeachment da presidenta

O mesmo PMDB que é "usufrutuário"de boa parcela do governo Dilma Rousseff, lhe vira as costas e crava o punhal do pedido de Impeachment. Comanda a nave, Eduardo Cunha, o retrato da podridão política

Dilma Rousseff em pronunciamento
Descrição: Dilma Rousseff em pronunciamento Crédito: Foto: Da Web

Quando terminava a reunião do presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, com o grupo de aliados que ainda tem naquela Casa, recebi ontem uma ligação do deputado Carlos Gaguim (PMB), avisando que estava decidida a abertura do processo de impeachment da presidenta Dilma Rousseff.

 

O mesmo Cunha que avisara aliados há alguns dias de que “não havia clima”, nem tempo para colocar o impeachment em pauta este ano.

 

O que mudou? Qualquer brasileiro que acompanhe o noticiário sabe: o próprio Cunha está acuado pelo processo que vê correr contra si no Conselho de Ética da Casa, e que pode lhe custar o mandato.

 

Contas na Suíça, investigado pela Polícia Federal, a cada dia descobrimos mais sobre como o presidente da Câmara chegou onde está: a custa de muitos arranjos milionários. Vide a recente revelação de como manobrou em favor dos interesses do BTG, do banqueiro André Esteves. Este, preso pela PF.

 

As algemas chegaram perto demais de Eduardo Cunha. A apreensão tornou-se dupla: da perda do mandato e da prisão. 

 

Pois bem. Para não ser caçado, Cunha, movido pelos experts que o acompanham, inverteu o jogo e deu à oposição o que ela queria: a abertura do processo contra a presidenta.

 

O fato é que não há contra Dilma metade do que há contra Cunha. Pedaladas fiscais, dinheiro sujo na campanha do PT, e todos os argumentos utilizados até aqui não justificam legalmente retirar da presidência da República, aquela que foi eleita pelo voto de mais de 54 milhões de brasileiros.

 

Não gosto do recurso das pedaladas. Se desse perda de mandato ou cadeia, metade dos governantes brasileiros teriam também que ser punidos. Infelizmente quase todo governo joga com números, recursos carimbados, e manobra as contas públicas para tentar cumprir os compromissos financeiros, quando não há dinheiro para tudo.

 

O financiamento podre de campanha não é privilégio do PT. O que não isenta o partido e seus líderes. O que não há ainda -  e digo ainda, por que pode ser que as investigações cheguem lá -  é prova do comprometimento da presidente neste esquema. Quem operou, aparentemente já o fazia desde seu antecessor, não como um braço da presidência, mas como um centro paralelo de poder, atuando com suas garras dentro do governo, a partir dos representantes do que caminha para se mostrar uma quadrilha, bem articulada.

 

O fato é que até aqui, não há motivos legais, reais, para se cassar o mandato de Dilma.

 

Os motivos são políticos: por parte de quem perdeu a eleição. Acuado, chantageando em busca dos votos que pudessem livrá-lo no Conselho de Ética, Cunha não conseguiu o que queria. Pode ser que tenha faltado entendimento de Dilma -  como ela afirma -  ou força para garantir o que ele queria -  como ele afirma - mas o certo é que faltaram os votos.

 

Para vergonha do Brasil democrático, Eduardo Cunha passa o recibo da chantagem de público. E continua presidindo a Câmara dos Deputados. Um acinte! Um desplante!

 

É justo que a presidente Dilma e seu partido paguem pelas consequências de seus atos. Sejam políticos, administrativos, ou de corrupção. Mas é imperioso no Estado democrático de direito provar primeiro, julgar primeiro, punir depois.

 

O PMDB, através de Cunha, mostra seu fisiologismo ao ser ao mesmo tempo, o partido que garante a abertura do Impeachment, enquanto é a legenda que detém dentro do governo, sete ministérios.

 

É governo atual, e flerta com os adversários de ontem, para ser o governo de amanhã.

 

Nele há de tudo. Dos ratos, que abandonaram o navio, aos que se fingem de mortos deixando seus emissários agirem nas sombras. Sim, por que o PMDB tem a vice-presidência. Motivo pelo qual Michel Temer se cala e desde ontem se esconde para não dizer nada.

 

Ombreando com os que têm um resto de ética, estão nomes importantes, como vi hoje nas redes. Senadores, deputados, como o líder do PMDB na Câmara, deputado Leonardo Picciani (RJ); deputado Rubens Pereira Júnior (PCdoB-MA), que protocolou no início da tarde desta quinta no STF o primeiro mandado de segurança contra o pedido de impeachment; governadores, como Flávio Dino, do Maranhão, e vários do Nordeste, que assinaram nota de repúdio; e aqui do Tocantins, a senadora e ministra Kátia Abreu. Esta demonstra coerência e retidão, ao anunciar que permanece ao lado da presidente Dilma, “por acreditar 100% na sua honestidade”.

 

Quem diria, que da direita surgiria alguém com o grau de competência e companheirismo que Kátia tem emprestado ao governo da presidente Dilma.

 

A história julgará a todos neste episódio do impeachment, que diga-se, não está decidido.

 

O grau da calhordice de Eduardo Cunha é tamanho, a desfaçatez com que agiu, tão clara, que ainda pode incomodar a ponto de acordar muitos brasileiros.

 

Fora os motivos descritos na lei - e por hora em nenhum deles Dilma se enquadra - o jeito certo de tirar presidente eleito pelo voto, é no voto. E daqui para 2018, falta muito.

Comentários (0)