Palmas, 25 anos de saudades

Um imenso saudosismo tomou conta da timeline do Twitter e das páginas de palmenses no Facebook na véspera deste 25o aniversário de Palmas...

Vista da Avenida JK
Descrição: Vista da Avenida JK Crédito: Nacim Borges

Nas páginas dos que tem mais de 30, diga-se de passagem. E têm lembranças. Fortes lembranças do que aconteceu aqui durante as últimas duas décadas e mais um pouco.

 

Eu tenho as minhas, inúmeras. Quem não tem? Há tantas coisas para dizer e para lembrar...

 

Eu sou do tempo do caminhão pipa abastecendo as casas em dias marcados. Do tempo que o caminhão de verduras chegava nas terças e tinha fila para comprar. Do tempo que o maior programa de fim de semana era ir para a exposição agropecuária de Paraíso, num fusca velho assistir show de dupla sertaneja, passando pela balsa e por uma estrada de chão. Do tempo da fila na balsa...rs

 

Quanto mais o tempo passa, mais se tende a valorizar o que ficou para trás. A Palmas bucólica. A Palmas das páginas em branco a serem escritas e reescritas. A Palmas que se vendia como a nova fronteira do desenvolvimento sustentável. A terra das oportunidades.

 

Tantas Palmas passaram por nós nos últimos anos, em suas diversas fases, que é difícil contar e separar todas. Mas não são poucos os que desejariam voltar no tempo e escrevê-la diferente.

 

Nem falo mais dos seus desafios de ocupação, e integração e garantia de futuro para os jovens. Cansei.

 

Falei disso aqui em 2010 em "Palmas, 21 anos, ela ainda pode ser tudo que a gente quiser"

 

E falei disso aqui ano passado, no artigo "Palmas, 24 anos.: a cidade e o espelho de seus sonhos e desigualdades..."

 

Não adianta mais chorar a Palmas derramada. A que não aconteceu. A que tomou outro rumo. Repetimos aqui o padrão de desenvolvimento das grandes cidades.

 

E seguindo nesta direção já sabemos onde vai dar: o caos no trânsito, as crianças e adolescentes nas ruas, os viciados saindo de suas tocas escuras à luz do dia e invadindo os sinaleiros no final da tarde como numa imagem de filme dark, ao vivo.

 

A coisa tomou proporções tão grandes que já não é mais tarefa de um governo, ou de um prefeito tomar as rédeas dos problemas e buscar as soluções.

 

Publico hoje uma entrevista feita há alguns dias com o prefeito Carlos Amastha. Este vai superando seu primeiro ano de turbulência e achando o equilíbrio. Assume que foi o prefeito encrenqueiro, e que diz que agora quer ser o prefeito empreendedor. Tem boas chances. Melhorou demais no quesito convivência com as críticas. Seu perfil no Twitter reflete isto.

 

Mas falo da entrevista para dizer que todo administrador foca nos desafios que tem pela frente na mega operação que é comandar uma cidade com tantas frentes de serviço e demandas infinitas. É evidente que ninguém consegue êxito sem criar parcerias, laços. Amastha fala do seu sonho de “refundar” a cidade. Tudo a partir de um sistema integrado de transporte que resgate o vácuo entre a Palmas do Centro (hipoteticamente dos ricos) e a Palmas dos menos privilegiados, na região Sul da cidade.

 

Só tem um porém: a região Sul é uma das mais ricas da capital. Comércio forte, rede de serviços. A Palmas dos pobres também é pujante. Numa coisa o prefeito tem razão: o poder público deve muito a ela. Que bom que no comando está alguém com noção do tamanho desta conta.

 

Voltando ao começo, me pergunto: do que as pessoas têm saudade?

 

Ouvindo histórias de pioneiros nas últimas semanas, as frases são sempre recorrentes: a cidade era mais humana. As pessoas se ajudavam mais. Compartilhavam. A dureza das condições físicas fortaleciam grandes amizades. A falta de estrutura e opções de lazer privilegiava a convivência fraterna. Os programas mais simples.

 

É da Palmas da simplicidade que as pessoas sentem falta. Da Palmas mais humana.

 

Eu sou obrigada a confessar que escrevendo nesta madrugada, de frente a uma vista magnífica das luzes da cidade espalhadas por aí, que o passado mora em mim em doces lembranças.

 

Mas saudade mesmo eu tenho é do futuro. O futuro que a gente precisa construir agora,e que é o que ficará para os meus filhos, os nossos filhos.

 

Uma cidade mais humana, mas rica de reais possibilidades de crescimento. Uma Palmas mais solidária. Que não seja problema dos outros, mas nosso. Onde a gente compartilhe soluções. Palmas sem fome. Sem miséria social. Palmas sem drogas e sem violência. Palmas com cultura produzida aqui.

 

Será isso possível?

 

Reconheço que o prefeito Carlos Amastha está enfrentado os problemas da cidade com inteligência e coragem. Mexeu em vespeiros e fez coisas com as quais não concordo, assim como tantos outros palmenses. Mas no geral, caminha para chegar ao fim do mandato deixando uma marca de avanço administrativo.

 

Fico esperando e torcendo então, na sua sucessão, por um prefeito ou prefeita que tenha como foco principal o social nos próximos anos. Uma gestão do cuidado com as pessoas. De investimento em gente.

 

Para que a Palmas do passado se encontre com a Palmas do futuro. Não é uma crítica. Cada um faz o que pode. Cada um com seu estilo.

 

Nestes 25 anos de muitas histórias, cada morador, Pioneiro ou não tem suas lembranças e saudades para contar.

 

Eu que deixei uma metrópole – Goiânia – para trás e vim viver Palmas com 21 anos de idade, às vésperas quase de fazer 22, só tenho gratidão pelas oportunidades que tive aqui. E pelo que consegui fazer delas.

 

Nem todos que vieram ficaram. Nem todos que ficaram tem boas histórias para contar.

 

É por isso que desejo e sonho com uma cidade melhor para os próximos 25 anos. E espero estar aqui para ver e contar os novos capítulos desta história.

 

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