Reforma de fato ainda não veio e perguntas e problemas continuam no ar

Governador falou livremente na coletiva de imprensa sobre a reforma, que foi parcialmente apresentada na tarde da última quinta, mas saúde e segurança continuam sem resposta objetiva aos problemas

Coletiva de imprensa no Palácio Araguaia
Descrição: Coletiva de imprensa no Palácio Araguaia Crédito: Foto: FB/SecomTO

Pode ser que o governador Marcelo Miranda tenha reunido a imprensa ontem, numa coletiva de final de tarde no Palácio Araguaia, para tentar por um fim às especulações de bastidores em torno da reforma que fará e dos nomes que vai trocar até a próxima semana.

 

Pode ser. Porque de fato não há outra explicação que justifique a apresentação apenas de três nomes, dois que virão do vizinho Estado de Goiás, para compor a nova equipe.

 

O número de cargos a serem extintos, no total, ainda não foi fechado. A estrutura das secretarias fundidas – Desenvolvimento Econômico, Turismo, Ciência e Tecnologia mais Cultura (?) – também não foi anunciada. Os cargos que serão cortados, anunciados ontem, são os mesmos que não foram preenchidos ano passado, conforme o T1 Notícias já havia publicado, na entrevista dada pelo governador semana passada quando recebeu a equipe do VerSus.

 

Não há um documento assinado, uma medida provisória, um projeto de lei contendo a nova estrutura que o governo proporá a Assembleia. Ficou para a semana que vem.

 

O governo afirma estar discutindo e planejando as mudanças desde o ano passado. O tempo parece não ter sido suficiente já que o orçamento encaminhado à Casa foi feito para a estrutura antiga. Que planejamento então foi este?

 

Ao responder as perguntas dos jornalistas, o governador acabou divagando e formulando frases que mesmo dentro do contexto em que foram ditas soaram estranhas para o perfil já conhecido de Miranda, e repercutiram imediatamente nas redes.

 

Preconceito e falta de diálogo na Saúde

Dizer que não negocia com grevistas - reduzidos a desocupados que jogam dominó e baralho de manhã, e a tarde colocam nariz de palhaço para pressionar o governo na porta da secretaria - foi no mínimo uma colocação infeliz. Como dizer que além do que falta, é preciso ver o que tem. “Será que falta tudo?” Não, nem poderia não é mesmo? Uma profissional da saúde respondeu acidamente a frase do governador no Twitter, sugerindo que ele próprio colocasse a mão, sem luvas, em sangue e outras coisas mais. Daí, mede-se o nível de irritação dos profissionais...

 

Menos de 24 horas depois da coletiva, o HGP amanhece sem os servidores da Litucera - que entraram em greve – e portanto sem alimentação e sem limpeza, forçando o hospital a fechar seu centro cirúrgico.

 

A verdade é que a Saúde não aguenta mais esperar por diálogo - marca que os governos todos de Miranda, reclamaram para si – e compromissos que possam ser cumpridos.

 

A queda de braço com a classe médica mostra-se infeliz, assim como a proposta de terceirização da Saúde. Uma admissão de que falta competência para gerenciá-la com recursos próprios.

 

O governo parece carente de soluções que sejam coerentes com seu discurso de campanha. Faltam criatividade e alternativas para os mesmos problemas de sempre. Por outro lado, navega contra compromissos assinados, como por exemplo, ao excluir a pasta da Cultura.

 

Daí, que pode-se avaliar sem medo de errar, que a reforma necessária ainda não veio. Virá semana que vem? Aguardemos...

 

O fato é que a expectativa em torno da mudança estrutural e profunda prometida amanheceu frustrada diante do que foi dito ontem pelo chefe do Poder Executivo.

 

As mudanças que ainda não ocorreram falam muito do impasse político que o governo vive.

 

Educação e Agricultura reservadas para os Abreu

Desmentindo informações veiculadas esta semana de que teria recebido o deputado federal Irajá Abreu, num movimento de reaproximação dos dois grupos, seu e da ministra Kátia Abreu, o governador deu sinais de que está aberto ao diálogo e composições que venham “para o bem do Estado”.

 

Nos bastidores a informação é de que Miranda não mexerá agora na Educação e na Agricultura, que mantem como reserva política para acomodar o grupo da ministra, e o PSD, que não participaram até agora da formação dos quadros de primeiro escalão no governo. Assim, Adão Francisco e Clemente Barros cumprirão tabela nos próximos dias, para serem substituídos de forma definitiva.

 

O governador admitiu o desgaste do secretário de Educação com a base aliada na Assembleia, destacou como ponto positivo o Salão do Livro, e evitou afirmar que ele fica. “Anunciarei se mudo, e o nome, no momento oportuno”.

 

Mais empréstimos, sem financeiro para pagar...

Também na coletiva, o governador aproveitou para apontar o caminho que vê como alternativo para realizar obras para as quais o Estado não tem recursos próprios para tocar. “O Tocantins praticamente não tem dívida com a União, comparado a outros estados. O único jeito de fazer as obras de infraestrutura é contraindo empréstimos”.

 

É verdade, que a margem de endividamento ainda está abaixo do limite. O problema é que se o Tocantins tem crédito para se endividar, falta financeiro para pagar. Vide os salários, até hoje quitados no dia 12 de cada mês, portanto atrasados. E a dificuldade que foi quitar 13º.

 

O governo está, numa metáfora usada pelo autor de “Pai Rico, Pai pobre”, fazendo a “corrida dos ratos”, que presos numa gaiola, correm sempre atrás do queijo, e depois dele, do próprio rabo. Sem evoluir, sem sair do lugar. Lamentável.

 

Saí da coletiva ontem certa de que o governador tenta ajustar o governo, e acredita de fato que estará dando uma resposta à sociedade, com as mudanças que fará.

 

Posso estar enganada, mas o que se vislumbra a partir do que foi dito ontem, não será a solução para os problemas do Estado.

 

Me lembrou um senhor que me abordou na praça Maracaípe, em Taquaruçu, semana passada. “Li no seu site que o governador quer fazer uma reforma. O problema do Estado do Tocantins é estrutural. Reforma não resolve. Tem é que derrubar as paredes e reconstruir”, me disse ele.

 

De fato. Só que a reconstrução pede mais do que um pomposo nome de “novo modelo de gestão” para um ajuntamento de atribuições dispares na mesma pasta. Mudanças profundas são aquelas capazes de atacar os problemas reais do Estado na raiz das suas causas.

 

Essa reforma, ou reconstrução, ainda não veio. Quem sabe na quarta...

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