Um dia para lembrar no Reino Encantado do Faz de Conta no Tocantins...

Num mesmo dia, Legislativo e Judiciário se empenham para eliminar dois Marcelos da disputa pelo governo no Reino Encantado do Tocantins. Onde tudo pode e em tudo se acredita em nome da fantasia...

Amigos, hoje o dia começou cedo no Tocantins. Mas pode ainda não ter terminado, neste exato momento em que o relógio marca pouco mais de 20 horas desta terça-feira, 24 de junho, dia de São João.

 

No sincretismo das religiões de matriz africana, São João está associado a Xangô, o Orixá da Justiça, cuja crença apregoa que tem o poder de julgar os homens ao final da vida, num tribunal com 12 juízes. Estes, de lá do panteão onde se encontram, com certeza se arrepiariam se olhassem hoje para o Tocantins.

 

O que se viu ao longo desta terça-feira, 24 de junho de 2014, foi um verdadeiro show do poder, da força, da influência de um grupo político que é de tirar o chapéu na arte de fazer acontecer aquilo que mais atende aos seus interesses. Seja onde for.

 

Vai ficar na história do Tocantins este dia de São João, em que não se pode dizer que prevaleceram os princípios da democracia, da transparência, do senso de justiça, nas decisões tomadas e anunciadas por dois poderes importantes: o Legislativo e um braço do Judiciário, o Tribunal Regional Eleitoral. Mas prevaleceu a força da maioria.

 

Missão: eliminar os dois Marcelos

 

Se fosse um jogo de vídeo game a missão seria: Fase 1 - eliminar os dois Marcelos. 

 

Na Assembléia Legislativa, os deputados voltaram atrás para refazer uma votação: a das Contas do ano de 2009, que já haviam sido votadas e rejeitadas. Isso após uma longa discussão sobre se poderiam ou não ser desmembradas. Votação protelada ora aguardando o momento mais apropriado para caminhar nesta mesma Assembléia, ora aguardando o momento mais apropriado para o processo ser devolvido pelo Tribunal de Contas do Estado.

 

Foi preciso Re-Votar as contas de Marcelo e de Gaguim por dois motivos, como se percebe da leitura do resultado: para agravar a situação de Miranda, que originalmente não continha caracterização de dolo à administração pública; e para liberar o ex-governador Carlos Gaguim.

 

Parênteses.

 

Gaguim há alguns meses, disse em entrevista ao T1 Notícias, quando questionado sobre suas frequentes visitas ao 7o andar de um determinado edifício na Arse 21, que estava fora da política. Estivera ali para tratar apenas de negócios.

 

Hoje foi a uma Convenção de Faz de Contas e posou para uma foto ao lado dos amigos Dito e Júnior Coimbra, deputado federal afastado pelo PMDB Nacional do comando do PMDB Regional. Mas que insistiu em realizar uma convenção suspensa, com delegados que ele indicou e convocou a fim de consagrar-se candidato a governador do Tocantins.

 

No Reino Encantado do Tocantins, tudo pode.

 

O deputado faz de conta que realmente tem condições de disputar um mandato de governo. Faz de Conta que faz oposição e seus companheiros de missão fazem de conta que acreditam.

 

E segue a novela...

 

Gaguim posou também ao lado do empresário Dito do Posto, alçado à condição de candidato a Senador pelo PMDB. Somados, Dito e Coimbra devem chegar próximos dos 3% de intenção de voto. Uma piada de mau gosto? Não, está no script escrito e estreado pelos melhores atores disponíveis para estas eleições no Tocantins...

 

Fecha parênteses.

 

Um Tribunal contraditório...

 

Se a Assembléia não tem vergonha de corrigir a si própria, ao gosto do patrão – que está longe de ser o eleitor que colocou lá suas nobres excelências – o que dizer do TRE?

 

O Tribunal não é suspeito por que condenou Marcelo Lélis, confirmando decisão de primeira instância. É apenas contraditório, como bem deixou claro, com todas as letras o desembargador Marco Antony Villas Boas ao confrontar o voto do ilustre relator João Olinto Neto, no dia em que o processo foi à pauta. Afinal, o mesmo pau que bate em Chico, deve servir à Francisco. Ou não?

 

Lembre-se: Marco Antony tem proximidade conhecida com figura pública de grande poder no cenário tocantinense. Mas tem nome, é entendedor das leis. E principalmente: não fez carreira em porta de cadeia para rasgar os anos que tem de magistratura.

 

Lembrou o desembargador aos colegas, que em condições bem parecidas, o TRE julgou favoravelmente Carlos Amastha numa ação que questionava seus gastos com combustível.

 

No Tribunal do Faz de Conta, Juiz que votou a favor de Amastha, votou contra Marcelo Lelis. E a diferença, fica o observador a pensar, pode estar nas recentes atitudes dos dois: um que rompeu com seu grupo de origem e o outro que se aproximou do mesmo grupo.

 

Depois ainda querem que a população atenta não duvide de suas condutas, os que assim procedem...

 

Mas tudo pode no Reino Encantado do Faz de Conta no Tocantins.

 

Liminar a caminho

 

Para terminar o dia que ainda não acabou já está anunciada nos bastidores da Assembléia, uma liminar favorável ao deputado Júnior Coimbra, para referendar o primor que foi a convenção por ele patrocinada nesta terça-feira de São João.

 

Não é de se duvidar que estoure por aí, caída do céu ou sabe-se lá de onde.

 

Afinal – a Maet já provou - aqui é um reino em que ainda há juízes que declinam dos sagrados juramentos que fizeram para cair na tentação de fazer sua justiça própria, particular, interpretativa, num reino de absoluto Faz de Contas...

 

Imagino a vergonha dos profissionais sérios do direito. Gente que passou em concurso sem "uma forcinha". Que evolui na carreira por mérito. Que não tem rabo preso com ninguém. Gente que como muitos de nós, meros expectadores, não vê a hora disso tudo acabar.

 

Acabar os mandatos das tranqueiras que envergonham um Legislativo que Faz de Conta que representa o povo e a democracia...

 

Acabar a impunidade de uns e outros que continuam a fazer sua justiça particular, movida por interesses particulares, muitas vezes patrocinados com incentivos públicos...

 

Se não houver uma reação rápida das pessoas sérias, dos homens e mulheres de bem que honram seus nomes e as instituições que representam, viveremos uma eleição também de Faz de Contas em Outubro próximo.

 

Ainda é apenas junho e o povo tocantinense - leitor e eleitor, entre os quais me incluo -  esfrega os olhos, pasmo diante do que vê, no Reino Encantado do Faz de Conta Tocantins...

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