Um necessário passo à frente, ou: quem nós vamos mandar para a Assembléia?

Eleitor dos maiores colégios eleitorais, independente do cabresto dos líderes que negociam votos com candidatos a deputado, têm a responsabilidade de escolher bem os novos deputados estaduais...

Assembléia: palco de decisões importantes
Descrição: Assembléia: palco de decisões importantes Crédito: Koró Rocha/AL

A polarização da disputa entre Marcelo Miranda(PMDB) de um lado e Sandoval Cardoso de outro, assim como a dura concocrrência entre os candidatos a deputado federal -  quiçá a mais cara da história do Tocantins – está tirando do foco das discussões a eleição para a Assembléia Legislativa.

 

Conversando ontem com um líder político da capital, ouvi dele um raciocínio simples, mas que revela muito sobre a engenharia das eleições proporcionais. Em síntese, ele dizia que Palmas tem um perfil diferente do interior do Estado. “Aqui a quantidade de gente contratada pode interferir numa eleição proporcional. Já no interior o que manda ainda é ter o líder, é através dele que se chega às pessoas”, resumiu.

 

É o mesmo raciocínio que ouvi do então presidente da Assembléia, Sandoval Cardoso(SD), numa visita que me fez ano passado, no auge dos ataques que sofri de dois deputados daquela Casa, com pouco respeito ao que significa liberdade de imprensa, ou limites éticos no trato com cidadãos e profissionais.

 

Eu falava a ele que a Assembléia se encastelava em posições impopulares, totalmente fora da realidade das ruas, como o auxílio-moradia, que esteve em debate naquele período. E que era preciso rever isto, reaproximar a pauta da Assembléia das pessoas, retomar o verdadeiro sentido de representatividade.

 

Sandoval então me respondeu com o mesmo raciocínio: o de que não haveria muita renovação na Casa, a não ser pelos deputados que disputassem outros cargos, pois as eleições ainda passam pelos líderes. É com eles que se acerta apoio, estruturas de campanha, que em contrapartida, rendem votos “contados”.

 

Bonifácio expõe o aliciamento

 

Nesta linha de raciocínio, o deputado José Bonifácio – de perfil polêmico pela fala fácil e pouca preocupação com a repercussão de suas defesas de posições – mexeu na caixa de marimbondos esta semana. Sem citar nomes deixou claro em entrevista ao T1 Notícias, que o Bico do Papagaio permanece nestas eleições, como em outras, um espaço livre para a compra de líderes. “Aliciamento”, usou o deputado.

 

Uma fala grave e que deveria chamar a atenção do Ministério Público Eleitoral para os sinais evidentes destas práticas por todo o Bico do Papagaio e não só lá. Denuncia o deputado que os mais endinheirados comprarão suas eleições a peso de ouro. Um jogo desigual para a maioria dos candidatos, que trabalha com recursos escassos.

 

Sendo assim nos pequenos municípios, resta ao eleitorado independente de velhos caciques, nos grandes colégios eleitorais -  assim como os resistentes, nas pequenas cidades do Estado ( afinal a dignidade está em toda parte) – dar a resposta a estas práticas, elegendo candidatos com perfil não só mais aguerrido, como mais independente.

 

O discurso mais contundente que já ouvi sobre o poder de atração dos governos -  qualquer governo -  foi feito pelo deputado José Augusto numa reunião do PMDB, quando Gaguim era governador e candidato à reeleição e o partido, dividido como sempre, passava por uma de suas crises.

 

“O  povo do Tocantins gosta é do governo, independente de quem esteja no governo”, dizia ele. Gaguim, governador e comandante da máquina – com a maioria dos apoios de prefeitos naquela campanha – perdeu a eleição. Só que o famoso imã do poder entrou em ação já na escolha da Mesa Diretora, em que o governo, que não tinha maioria, elegeu Raimundo Moreira, presidente.

 

Com o passar dos meses a oposição ficou reduzida a oito deputados. Na esteira dos julgamentos que o TRE foi fazendo de processos que poderiam culminar em perda de mandatos, o cenário na Assembléia também foi mudando.

 

E terminou como todos estão assistindo: poucos resistiram ao chamado do poder. É tanto que hoje novamente assistimos a um cenário em que a maioria dos deputados – e a maioria dos prefeitos -  apóia uma candidatura governista, encabeçada por um ex-oposicionista. Afinal, Sandoval elegeu-se no PMDB e migrou para o Solidariedade - após passar pelo PSD -  no movimento de criação do novo partido, escolhido para abrigar ele e tantos outros que vieram de siglas oposicionistas.

 

Os mais aguerridos saem: quem vem por aí?

 

No momento em que deputados com comportamento mais simétrico dentro do que sempre defenderam deixam a Assembléia para pleitear outras candidaturas, é de se preocupar com quem serão os deputados reeleitos e quais serão os da nova safra de parlamentares.

 

Deixam a Assembléia a deputada Josi Nunes, do PMDB, de atuação sempre coerente com suas posições. O mesmo acontece com o deputado Sargento Aragão, que sempre foi oposição -  no único movimento que fez de aproximação do governo, negociando melhorias para a PM, foi traído no compromisso – e que agora disputa o Senado pelo Prós.

 

Outros deputados que começaram com o governo e romperam por motivos diversos também estarão fora semana que vem. É o caso de dois parlamentares de bom nível no debate e aguerridos: Marcelo Lélis e Freire Jr., o primeiro candidato a vice-governador e o segundo a deputado federal.

 

Também baluarte na defesa daquilo que acredita, o deputado Eli Borges, no Prós, encabeça uma chapa que pode ter dificuldades. É um deputado coerente e que merece ser reconduzido. Pelo menos seus eleitores saberão que não mudará de lado ao sabor do vento que lhe for pessoalmente mais favorável.

 

Da base governista hoje, depois de ter sido eleita com Siqueira e ter migrado para a oposição acompanhando o pai, a deputada Luana Ribeiro é uma das que ficará. Ela também tem um perfil de defesa de categorias que representa e a fama de ser boa de briga.

 

Um jogo de poder que se avizinha

 

Num momento em que é dada como certa a eleição de Eduardo Siqueira Campos -  e fortalece-se nos bastidores a convicção de que com a inteligência e os recursos de que dispõe instalará uma segunda instância de poder na Assembléia, independente de quem seja o governador eleito – o grupo governista tende a fazer mais vagas. Como da outra vez.

 

Na oposição são muitos nomes, boa parte deles, de novas lideranças que vêm de câmaras municipais, ou de prefeituras do interior. Quem são estes  candidatos a deputados? Qual seu perfil?

 

O momento é de alerta para quem vota e escolhe, às vezes com displicência seus representantes na Assembléia Legislativa. Reeleger trogloditas, habituados a despejar suas excrecências mentais na tribuna e manter vivas as velhas práticas do toma lá dá caá, é condenar a Assembléia ao baixo nível de muitas discussões que já assistimos por lá nos últimos anos.

 

É urgente que o Tocantins dê um passo à frente na melhoria dos quadros que nos representam no legislativo estadual. Está nas mãos do eleitor não ter memória curta na hora do voto. E fazer na urna a revolução que pregou nas ruas ano passado.

 

A chance de mudar aquela Casa para melhor é agora. Que a compra desenfreada de líderes, a abundância de contratos e propostas atrativas para plotar e abastecer carros não sejam capazes de criar uma cortina de fumaça de ilusão.

 

Sem brincadeira: vamos ter que conviver com eles votando e decidindo por nós durante quatro anos. É só bom ter cuidado.

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