Um Rced sobre o Senado e o que os números têm a dizer sobre ele

O tocantinense acostumou-se à palavra Rced desde que lá em 2009 o Estado foi varrido e o cenário da política tocantinense todo alterado pela cassação de Marcelo Miranda, no processo movido pelo PSDB.

João Ribeiro e Vicentinho durante a campanha
Descrição: João Ribeiro e Vicentinho durante a campanha Crédito: Sherlynton Ribeiro

 

De lá para cá, mover Rced virou moda. Com razão, sem razão, com argumentos fortes ou frágeis, quem perde nas urnas tem sempre um motivo, uma interpretação, uma prova de abuso cometido pelo adversário que o habilita a ir à justiça em busca de uma cassação que mude o resultado das urnas.

 

É do jogo, a lei permite, e os Rced's se multiplicaram, como mostra uma simples consulta ao TRE.

 

O buxixo da semana, sem estranhamento, nasce das recentes notícias sobre o Rced de Paulo Mourão contra os mandatos de João Ribeiro e Vicente Alves. Os dois senadores obtiveram a primeira (375 mil 090 votos) e a terceira (340 mil 931 votos) votações para as duas vagas abertas em 2010.

 

A notícia/possibilidade veio à tona com a publicação do parecer favorável à cassação dos dois feita pela Procuradoria Geral Eleitoral da República.

 

Hoje o senador João Ribeiro comenta o fato e traz à luz um argumento interessante: o comparativo das votações, sua ( mais de 375 mil votos) e a de Paulo Mourão (293 mil 344 votos).

 

Mourão, como se sabe, foi companheiro de chapa de Marcelo Miranda, depois de vencer numa sabatina interna de repercussões desastrosas, a postulação que fazia a deputada Solange Duailibe, então primeira-dama de Palmas.

 

Daquele episódio nasceu a cisma interna Raul/Donizete, que se gravou nos episódios seguintes, de pedido de cassação do casal pelo PT Regional, desautorizado pela Nacional do partido.

 

O fato é que Paulo Mourão envolveu-se numa campanha conturbada, em que começou candidato a governador e terminou como quarto mais votado entre quatro candidatos ao Senado.

 

Seu argumento no Rced coincide com o de  Carlos Gaguim contra Siqueira num ponto: o uso da TV Girassol em Araguaína no programa de Wanderlan. É aí que entra a lei das probabilidades.

 

Qual o eleitorado de Araguaína? 98 mil 225 eleitores atualmente. Em 2010, eram menos votos, mas tudo bem. Nas últimas eleições, para prefeito, totalizou-se como válidos os  votos de 75 mil 489 eleitores, uma eleição caseira e mais acirrada.

 

Seguindo com os números, temos a votação de João Ribeiro em Araguaína em 2010 para o Senado: 41 mil 496 votos. E a de Vicentinho? 34 mil 177 votos. O primeiro obteve 31,8 % dos votos válidos para aquele cargo, e o segundo 26, 21%, o que totaliza 58, 01% dos votos da cidade. Os demais foram divididos entre Miranda e Mourão.

 

Faço esta conta para chegar a uma dedução simples.  A diferença entre João Ribeiro e Paulo Mourão é de 81 mil 746 votos, soma maior do que todos os votos válidos da última eleição (2012) na cidade. A vantagem de Vicentinho no computo total dos votos de frente quanto a Mourão é de 38 mil 951 votos.

 

Diante disto, se um juiz fizer as contas e num ato extremo decidisse que Wanderlan teve o poder de influenciar todos os eleitores de Araguaína, e optasse por anular todos os votos de Ribeiro e Vicente naquela cidade, nem assim Paulo Mourão poderia ter sido eleito Senador.

 

No pleito de Gaguim contra Siqueira, a diferença de votação ( em torno de 7 mil votos), pode até dar o que pensar. Quanto ao Rced contra os senadores, a lógica não favorece quem pleiteia, e seus argumentos todos, caberá à justiça julgar.

 

Com a licença do tempo e do direito inalienável que o ex-deputado e ex-prefeito de Porto tem de reclamar, a análise política ( e não jurídica) que resta é que o PT, nos áureos tempos da gestão de Raul, possivelmente teria obtido melhores resultados com Solange Dualibe.

 

 

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